Thursday, June 30, 2011

sucumbir às saudades

Sucumbo às saudades – sucumbir é um verbo tão estranho – e ponho-me a ver fotografias de ti. Bolas, é que és mesmo gira. Adoro a do chapéu de palha que numa outra versão já me inspirou um texto dos bons em ficção, afinal, realizável. Não sonhei com isto, não o imaginei mas talvez tenha desejado o suficiente para se tornar realidade. Foi assim que desdenhei o “be careful with what you wish” e apostei no “catch your dreams before they slip away”. É que és mesmo tu, sem hesitações e sem questões. Da forma como nos descobrimos e a partir do momento em que nos encontrámos, tu rouca de uma constipação e eu com o sorriso aberto que me plantaste, desde aí e sempre que penso em ti. Ganhaste-me e conquistas-me em cada momento, em cada movimento, caminhada ou corrida, contra o tempo, que damos juntos. É a nossa vida, singular, exclusiva e própria de quem descobre o significado – eu gosto de significados. E isto é uma declaração de amor, consciente, imperturbável, e dedicada, para ti.

Wednesday, June 29, 2011

“a life more ordinary” (a dos outros)

Perguntaste-me no outro dia, por palavras tuas (que agora não recordo), se eles se amavam. Num instante, eu fiquei a pensar no assunto e nos factos que me apresentavas para explicar aquela relação. Nunca me tinha debruçado sobre o assunto. Com as demonstrações, mesmo que assíncronas, de felicidade, o amar, verdadeiro e bom, parece relativo mas naquele instante, observando-nos, a nós, de fora da redoma, eu fiquei a sentir-me orgulhoso. De entre os pecados capitais o pior de todos é o orgulho.

discurso directo

Ele - És tu quem eu quero.

Ela - A sério, estás certo disso?

Ele - Sabes, quando te prometi o mundo? Eu venho incluído.

Ela - És um tretas… mas ainda bem que sentes assim!

do verão a 14ºC

Saio para o trânsito da noite já profunda. Era suposto os dias começarem a ficar já maiores e isso reflectir-se no meu espírito. Não é assim, o maldito solstício oferece promessas que depois não cumpre. E faz frio, muito e daquele que se sente nos ossos. Sentir os ossos não é propriamente uma coisa agradável no corpo de um humano. Para aquecer penso no magnífico campo de flores que te recomendei, que te prometi. Flores de verão num país agora quente e que consegue ser realmente belo. Como tu. Pronto, prontíssimo, já estou outra vez a pensar em ti. Na falta que me fazes a demasiados fusos de distância, noutro continente, de onde só chegam notícias más. Sabes, hoje conversei por uns minutos com um “desiludido da vida” e, mesmo desconfiado, prestei atenção ao que me disse. Foi-me apontando factos que mais do que constatações – que gosto de absorver – me deixaram ainda mais alerta, atento, para o que quero da vida. Para o que quero para a nossa vida. Preciso de dormir, tu também. Dormir é um verbo dos nossos, fácil e bom quando nos permite o encontro que queremos, que desejamos, ao acordarmos.

Tuesday, June 28, 2011

gostar assim

Nunca pensara gostar assim. Aquele amor surgira-lhe sem querer, “out of the blue”, mas com convicção. Bom, real e capaz de lhe encher o coração. Aprendeu a sentir-se bem com a surpresa de cada instante que viviam juntos, com a descoberta de cada momento que dedicavam um ao outro. As palavras e a troca de pensamentos mais ou menos permanentes aguçavam-lhe o desejo. Soube abdicar da autonomia e do egocentrismo que o marcavam até ali, porque ali estava alguém que sabia amar, finalmente. A história não era de filme, era real e consistente, daquelas que se desejam e poucas vezes se alcançam. Sentia-se encantado com a reciprocidade, a maravilha de se terem encontrado, independentemente do tempo em que se viam afastados. O presente é isto e o futuro é para continuar a viver, com mais tempo, sem dúvidas.

Monday, June 27, 2011

fim do mundo

Gosto dos lugares que me fazem sentir perto do fim do mundo. Normalmente são sítios inóspitos de paisagens avassaladoras que terminam no mar ou em montanhas de gelo indómito mais distantes do que o olhar consegue perscrutar.
 

Wednesday, June 22, 2011

go west young man

He didn’t believe in destiny, the stars or premonitions, and yet he was able to understand things, to make sense of most facts in life. He knew what he knew and he didn’t take for granted his journey on that planet orbiting a yellow star embedded in one of the spiral arms of the Milky Way, a galaxy that was itself part of the Virgo supercluster, one of millions of similarly vast entities dotted through the sky. Sometimes, he liked to focus on those terms of infinity, just feeling really, really small for a while. Time was probably the only concept that made him wonder and time away was what made him feel sad. As time passed by and the years started to endure he found out that solstices seemed to break equilibrium and he learned to persist on what is important in his life.

Tuesday, June 21, 2011

thirty-one monkeys

Passei o dia e muito da noite fechado com mais 30 macacos numa reunião que não me dizia respeito, apenas e só porque os primatas desenvolveram ao longo dos séculos esta necessidade de decisões colectivas.
Acabei a comer uma taça de corn flakes, dos originais, que me lembrei de comprar na última visita ao supermercado, como fazia há muitos anos atrás numa fase parva da minha vida.
Quando decidi ir dormir, apetecia-me passar-te a mão pelo rosto e ficar a observar o teu sorriso bom.

Sunday, June 19, 2011

pré-pós-modernismo

En aquel Imperio, el arte de la cartografía logró tal perfección que el mapa de una sola Provincia ocupaba toda una Ciudad, y el mapa del Imperio, toda una Provincia. Con el tiempo, estos mapas desmesurados no satisficieron y los colegios de cartógrafos levantaron un mapa del Imperio, que tenía el tamaño del Imperio y coincidía puntualmente con él. Menos adictas al estudio de la cartografía, las generaciones siguientes entendieron que ese dilatado mapa era inútil y no sin impiedad lo entregaron a las inclemencias del Sol y los Inviernos. En los Desiertos del oeste perduran despedazadas ruinas del mapa, habitadas por animales y por mendigos; en todo el País no hay otra reliquia de las disciplinas geográficas.

“Del rigor en la ciencia”, Jorge Luis Borges

os bonecos

No prédio onde eu vivo agora, existe um boneco enjaulado que não faz mais do que abrir e fechar os portões de acesso à garagem, 24 horas por dia e 7 dias por semana.
Na cidade onde eu vivo agora, vêem-se muitos bonecos, nos passeios, com placards a anunciarem especulação imobiliária para atraírem os visitantes de fim-de-semana.
No país em que eu vivo agora, subsistem demasiados bonecos sem uma perspectiva de futuro para além do viver o dia-a-dia.
No hemisfério em que eu vivo agora, vivem mais bonecos de múltiplas nacionalidades que consideram vida as saídas de sexta e sábado, sem perceberem que os outros também são dias.

“Boneco” é o que eu e o meu companheiro de squash chamamos um ao outro quando falhamos uma bola mesmo fácil. Há uns dias atrás lembrámo-nos disto enquanto jogávamos ao disco, frisbee, num areal perfeito de Portugal.

Friday, June 17, 2011

relaxar rima com amar

Chego a casa e constato o inevitável nestes dias: sinto-me sozinho. Já não gosto disto e não é isto o que quero. Enquanto preparo um bife temperado com um dente de alho mal cortado, “acamado” sobre uma fatia de pão integral que será acompanhado por salada pré-lavada – por estes dias eu sou um fã das vantagens da salada pré-lavada – , vou vendo na tv um programa do Jamie Oliver muito jovem, muito animado e muito empenhado em preparar um “sanduichão” com um aspecto muito mais apetitoso do que o meu jantar. Eu gosto do Jamie assim inspirado, ainda não “gordalhucho” e com gosto no que faz. Também estou a precisar de me sentir assim e “carrego no botão” com a sensação de que, por estes dias, só consigo relaxar porque sei o que é amar com reciprocidade. Ah, e também tenho muito claro quais são as prioridades.

Saturday, June 4, 2011

o manual e o automático

Hoje meti a marcha-atrás esquecendo-me da embraiagem e o carro rugiu em protesto. Surpreendeu-me e numa fracção de segundo o meu neurónio, ainda confuso com a luz do dia às 9h da noite, pensou: que figura de estilo óbvia...
Tudo o que é definitivamente bom na vida não vem com instruções. Aliás, as partes mesmo boas da vida não se alcançam em modo automático mas aprendem-se e apreendem-se sem receios. E hesitar – que é um verbo pouco meu – tem como consequência rebolar ao sabor do mar, quando eu prefiro mergulhar nas ondas atlânticas prestes a rebentarem. E que magnífico dia de praia para amar, sem manual.

Friday, June 3, 2011

tigre aos pulos

Faço contigo coisas que não julgava possíveis e sinto-me como tu quando te sentas no meu colo aos beijos num aeroporto internacional ou me agarras a mão com firmeza num final de tarde em passeio pela rua da moda. Hoje dou por mim com um riso de miúdo - mesmo de miúdo - quando à distância de um braço estendido para um beijo agarrado, me meto contigo no Facebook. És o meu tigre "one and only" e apetecem-me (quero) os passeios de elefante nas Reservas na Índia, contigo.