Sunday, July 31, 2011

Ousar

Em cada verão quando o calor se sobrepunha ao aconchego dos lençóis a cobrir aquele corpo, ele despertava com a luz do sol e ficava muito quieto a observá-la adormecida, descoberta para a temperatura ambiente. Fixava-lhe todas as linhas, as curvas das costas de design exclusivo, os seios em repouso, o cabelo apanhado mas rebelde, os traços do rosto bonito, os lábios entreabertos em convite e os olhos fechados pelas pestanas concentradas, até estes se abrirem para um “Bom dia”. Então, caminhava pelas pedreiras daquela região encontrando o mais magnífico bloco de pedra que esculpia com lentidão ao longo das tardes que durava o verão. Desenhava cuidadosamente sobre a substância dura as linhas que memorizara em cada manhã, sem sentir os calos que o cinzel lhe provocava nas mãos. Fez assim muitas obras maravilhosas, mais perfeitas de ano para ano que plantava num campo aberto que os elementos e o tempo pareciam não perturbar.

Monday, July 11, 2011

o sentido

Prepararam-se para voar de novo. Malas feitas e muita vontade de partilharem o novo destino, rumo ao nascer do sol e a um fuso horário longínquo, numa nova aventura com “pinta”. Ele com o coração cheio da certeza, pronto a abrir-se num batimento forte e seguro, induzido pelas memórias cinematográficas. Ela com o desejo de se deixar conquistar pelos sentimentos de que já não se lembrava bem. Deram as mãos, as duas, perfazendo quatro sensações em sincronia, e olharam os dois pela vigia com o sentido certo das nuvens.

Saturday, July 9, 2011

irresistível

Faz sol e frio. Espraio-me na tua espreguiçadeira com uma toalha às riscas para me amparar a ronha e um pullover, mais azul do que as riscas, para me aconchegar. Não condiz mas nada condiz sem ti comigo. Observo o mundo pela vista da varanda. Sim, é grande e confuso. Lá fora existem muitas almas que não fazem ideia do que é sentir assim, outras talvez. Tenho muita vontade de ti, isto também faz parte do amor. Adormeço para um pouco de son(h)o. Acordo, pela segunda vez, contigo no pensamento. É irresistível sentir-te sempre presente.

Wednesday, July 6, 2011

eu sou parte do mundo

Ponho-me a pensar em ti. Tu és um jogo de significados que trazem muitas cores à minha vida. Tu és uma mistura de razões e opiniões em tons suaves que me fazem lembrar a única aurora borealis que já vi em sobreposição à vastidão do espaço. Tu és uma estrela pequenina que sobressai entre constelações infinitas. Tu existes, por vezes isolada e subitamente abraçada por todos os que gostam de ti. Tu tens uma personalidade muito forte e entusiasmas-me porque és erudita. Tu sabes certas coisas práticas na vida sobre as quais eu nunca pensei. Tu és capaz de me fazer alterar o rumo para um destino mais interessante. Tu fazes-me sonhar e eu sou parte do mundo.

no sofá

Ele - Imagina que estamos no sofá.
Ela - No sofá? Qual deles?
Ele - Imagina que estás com a cabeça no meu colo e o cabelo muito espraiado.
Ela - Em vez do sofá, pode ser na praia?
Ele - Imagina que eu te estou a fazer festinhas, aleatórias e deliciosas com os dedos por entre os cabelos, no rosto e até à nuca.
Ela - Humm, estás a deixar-me o cabelo oleoso quando eu estava mesmo era a precisar de uma massagem nos tornozelos!
Ele - Imagina que temos a lareira acesa e que sentes o calor reconfortante do movimento das labaredas.
Ela - Bolas, aqui é verão… podemos passar a cena para a praia?
Ele - Imagina que me debruço sobre ti e que sentes o meu cheiro bom.
Ela - Eh pá! Estás todo molhado, já te disse que não gosto que me faças isso depois de dares um mergulho!
Ele - Adoro-te.
Ela - De certeza?
Ele - Sim, com toda a certeza.
Ela - Amo-te, miúdo! E agora vou pedir um sumo.

Tuesday, July 5, 2011

a ponte figurada

Eu queria uma ponte aérea que me levasse daqui até ti sempre que sentíssemos vontade. Eu queria uma ponte aérea com uma manga para partidas rápidas e um terminal de chegadas cheio de oportunidades. Eu queria uma ponte aérea para um voo de minutos no meio das nuvens, mesmo que o avião arriscasse a descolagem na direcção de um morro e a aterragem numa pista encharcada.

Monday, July 4, 2011

alors moutarde

Hoje comprei mostarda de Dijon, da original e da melhor marca (Maille) a um preço exorbitante, imposto pelas taxas de importação. Apesar de serem uns chatos os franceses inventaram coisas mesmo boas, a mostarda original foi uma delas. O amor, “l’amour” expresso, espremido, à francesa também. Em tempos, quando eu hesitava entre a influência anglo-saxónica e a originalidade dos “frogs”, contaste-me muito do que, então, sabias sobre os costumes dos franceses. Naquela época eras feliz e eu gostava da energia que emanavas. Tinhas uma namorada mesmo gira, com cabelos longos que encaracolavam no final dos dias passados na praia. Eu era muito novo e saíamos para a noite que, então, era uma varanda debruçada sobre o mar. Encontrávamos mais amigos e dançávamos as músicas dos 80s, quando então era a época certa. Passámos alguns dias juntos em Paris e, então, mostraste-me outras perspectivas da vida. No outro dia, quando estava por Lisboa, vi-te ao volante do teu Audi de pai de família divorciado, com um ar tristonho de quem deixou a vida passar por entre os dedos. Então, mentalmente, tirei-te uma fotografia que hoje recordei enquanto escolhia o pote de Dijon no supermercado.

Sunday, July 3, 2011

When the world is running down, you make the best of what's still around

O meu tripadvisor assinala 151 locais em 22 países – devem faltar uns quantos, mas acho que os países estão certos.
Comecei a conhecer o mundo ainda miúdo, em saídas de automóvel e comboio pela Europa fora, e depois em voos anteriores às low cost do pós-modernismo.
Entre projectos no exterior e turismo passei 5% da vida fora do meu país – mas não gosto do “citoyen du monde”.
Entre viagens para aqui e para acolá estou a caminho do meu 2º cartão “de ouro”, o que implica bem mais de 140.000 milhas metido em pepinos voadores – um bocadinho mais do que 5 voltas ao planeta.
A pisar continentes, só me falta um, e a Antárctica – mas já me senti pinguim várias vezes (também me falta o Japão, que por si só vale por um continente).
Vivi os tempos áureos da globalização (não creio que lá voltemos) e assumi o papel de highflyer – mas não foi assim que descobri a felicidade.
Com a vantagem de ser Português, sou capaz de me fazer entender perfeitamente em 5 idiomas, com mais 1 ou 2 em jeito desenrascanço – muitas vezes não nos damos conta do poliglotas que somos.
O Mundo, como o fui conhecendo, já me pareceu um sítio mais fascinante. Hoje em dia é demasiado igual, demasiado comum, independentemente do local onde nos encontramos.
A diversidade e a diferenciação – que para mim é um conceito muito importante – perde-se com o tempo presente e o futuro persiste na conspiração.
Quando me ponho a ler as notícias deste Mundo, sinto-me Grego – depois de terem perdido a sophía.

Desafiaste-me para conhecermos um país que, por si mesmo, também já foi um continente, e eu tenho andado a sonhar com encontrar algo realmente diferente.


Friday, July 1, 2011

1991, 20 anni fa!

Ainda era um miúdo e descobri uma cidade encantadora, regressei várias vezes e quero voltar lá.

Cari spettatori,
Amici del variete
Calorissimo pubblico
Buona sera qui al Stella Matto.

Nella prima parte del programma
Venuta direttamente dal Cairo
la famosissima Lolita del Sudan,
una danzatrice del ventre
Accompagnato come sempre
dalla nostra orchestra Paolo Silvestri.
Prego Maestro: a Lei!

Sono Otto, sono Otto di Catania!
Sono arrivato a Roma 20 anni fa.
Sono qui per vivere,
per vivere la mia vita,
per mangiare, per rosso bicchiere di vino.

Per tutti questi giorni
voglio invitare tutti amici mei
Per celebrare la mia vita.

Amici grazie, grazie per venire,
grazie per andare con me
alla caffe Romana.

La via Veneto era molto speciale,
Con Marcello, con Luciano,
Con Verena la Sirena
Grazie per venire
e il mio nome e Otto di Catania:
sono arrivato 20 anni fa!


Otto di Catania – Yello