Tuesday, March 16, 2010

Tunbridge Wells 1990

Nunca fui tão puto como naquela noite. Tínhamos escapado aos alarmes de incêndio do palácio, saltando perigosamente pela janela do quarto que tinha papel-de-parede aos elefantes. Corrêramos tão rapidamente quanto nos era permitido, sem fazer barulho, para o pavilhão junto à piscina onde alguns do grupo optaram por um banho nocturno. Estava uma noite perfeita, com uma lua nova que emanava aquela claridade única, apenas possível à meia altura do hemisfério norte. Alguém trazia uma garrafa de champanhe e copos de plástico, e para não termos que partilhar, fugimos para uma das salas de aula mais isolada. Ainda em grupo, passámos horas a jogar ao “se eu fosse um animal, seria...”. Tu querias ser um golfinho, obviamente assentava-te bem, e eu uma gaivota – que animal tão estúpido – creio que induzido pela música do Zeca Afonso que alguém te ensinara e tentavas cantar em português. E quando os outros já recolhiam com o despontar da alvorada, nós deixámo-nos ficar mais um pouco. Dançámos um slow, mesmo que com música imaginária, e eu passei-te a mão pelo rosto, fixando-te o olhar e arrastando-te o cabelo curto, cor de prata com aquela luz, para detrás da orelha, e beijei-te com todo o amor que tinha para dar.

2 comments:

eu... said...

Puto? Com uma última frase dessas?

Ricardo said...

Pois, eu com 14 anos era um "puto" precoce e com amor para dar...