Wednesday, April 6, 2005

Clientes e Fregueses…

Na antiga Roma um Cliente era alguém que dependia da protecção de um Patrício. Tratava-se, muitas vezes, de um escravo livre que não possuindo o estatuto de cidadão, recorria à boa vontade do patrono para ascender socialmente ou simplesmente sobreviver, pagando um tributo quer em espécie quer através da prestação de serviços – um arranjinho em muito parecido ao do mundo da Máfia. Vá-se lá saber porque razão, ao longo dos tempos a palavra assumiu lentamente novo significado e com a maturidade do Capitalismo o Cliente tornou-se rei. No belo mundo da consultoria, durante os primeiros 100 anos, também existiram “Clients” que, subitamente, por volta dos idos de 90, se transformaram em “Customers”. A diferença? Basicamente, as duas palavras são sinónimas mas em termos práticos o Cliente-rei, que aceitava tudo o que lhe enfiavam pela tripa, ganhou inteligência e passou a querer produtos e serviços à medida. Libertou-se, desta forma, da protecção benévola e desatou a exigir o impossível. Como nestes tempos sagrados o impossível é palavra proibida, o bom do consultor adaptou-se, para sobreviver, e aprendeu a fazer das tripas coração uma rotina. Pelo caminho perdeu-se, está-se mesmo a ver, a inocência e consequentemente a qualidade. Nós por cá temos ainda um sinónimo mais perigoso que é o Freguês (por esta pago direitos de autor ao PJ). Ora o freguês está, para mim, definitivamente associado aquela imagem do velhote encostado ao balcão da taberna a debitar conversa sem nexo, enquanto pede mais um copo de tinto ou uma nova sandes de couratos, para no final pagar a fiado. Pois o freguês abunda por estas paragens e lentamente faz-nos retroceder ao estado característico do Portugal do século XIX. Existirá maneira de nos vermos livres deles?

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