Wednesday, October 27, 2010

excertos #7

12

Clavo mi remo en el agua
llevo tu remo en el mío.
Creo que he visto una luz
al otro lado del río.

- Jorge Drexler en "Al Otro Lado del Río"


Saio para a noite de Lisboa com o Tomás e o Guilherme – já não fazia isto há tanto tempo que me parece estranho. Apesar do cabelo demasiado curto, vale-me o bronzeado notável e a boa forma física para ganhar confiança. O “spot” esta noite está “hot”. Miúdas giras, também bronzeadas, com ares saudáveis – vantagens do verão. Nós os três temos bom ar, apesar das idades acumuladas. Comentamos que em somatório, perfazemos 106 anos – já fazíamos um velhote rígido a desafiar a cova, mas dividido em três dá no charme dos trinta-e-alguns com estilos diversos. Um quase careca, o outro com muita barriga, e eu, bem, ainda “bem conservado” – que trio… As miúdas dos vinte-e-poucos reparam, as miúdas dos vinte-e-muitos aos quarenta-e-qualquer-coisa, vê-se que gostam. Nós comentamos as que passam – os homens nestas coisas conseguem ser realmente parvos. Deveras.
Rodadas de bebidas brancas, pedidas à vez aos miúdos, demasiado jovens, atrás do balcão. Surgem caras conhecidas, trocam-se dedos de conversa e algumas apresentações. Troco olhares com uma morena gira com o cabelo preso atrás que deixa ver uns brincos com estilo. Sinto-me bem e arrisco meter conversa. Ela está com uma amiga, que fica meio pendurada, enquanto eu lhe falo ao ouvido. Cheira bem, o que é sempre um bom princípio, e sorri com o que lhe digo – conversa fiada. Pergunto-lhes se querem juntar-se a nós e elas dizem que sim. Passamos às apresentações, a morena chama-se Cláudia e a amiga Rute, comentam que é a primeira vez que ali vão e que depois seguem para o Lusaka. Ah, o Lusaka… há 10 anos atrás era uma varanda de encontros. Contamos-lhes a história, gasta, de quando eu e o meu amigo, agora quase careca, entrávamos pela porta da direita porque achavam que éramos gays. Elas acham-nos graça e a amiga da morena, pispirreta, pergunta se o éramos mesmo. A conversa flui ao sabor das parvoíces que saem naturalmente quando tudo parecem possibilidades. Para acompanhar a situação, o DJ passa uma música que diz “…so tell the girls that I’m back in town”.
E então, do nada, para me deixar sem refúgio, vejo-a. É mesmo ela, com os amigos que lhe conheço e apresso-me para sair dali, quase a correr para não a reencontrar.

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