Thursday, October 7, 2010

a tese (post sério)

Passo o jantar, profissional, à conversa com o Administrador de uma das instituições de maior prestígio do país. Republicano convicto, laico e de símbolo maçon na lapela, explica-me a sua tese de que o problema do Portugal contemporâneo, republicano e falido, não passa de uma questão psicológica. Diz que apesar do grau de abertura ao mundo, da facilidade com que aceitamos perspectivas diferentes e da capacidade de enfrentarmos o desconhecido, que ele defende ser inata ao povo que somos, afinal não fomos capazes de nos adaptarmos à globalização. Diz que mais valia termos encharcado uma agência de imagem internacional com os muitos milhões que o crédito concedido nos está a custar, projectando a ideia de um país moderno, preparado e com estatísticas sobrevalorizadas, do que deixarmo-nos comparar com os gregos. Diz que nos falta a confiança, a sobranceria e a vontade de enfrentarmos as adversidades impostas desde fora. E eu, monárquico não convicto, descendente de facções confusamente absolutistas e liberais pelo lado materno, que se guerrearam há uns séculos atrás, admiro-lhe a análise, como nem sempre acontece com os espécimes seus pares que vou conhecendo.
Quando saímos do restaurante, chove cá fora e ele encerra a noite com uma frase sábia: “… o desaparecimento das estações intermédias, Primavera e Outono, também não ajuda ao estado da nação.”

2 comments:

Papoila Bem Me Quer said...

Falta também produtividade e visão... Canalizamos a nossa energia para as muitas queixas e lamentações, greves e chico-espertices... Parece ser o nosso fado...

Ricardo said...

Ora aí está: não gosto de fado!