Monday, August 30, 2010

fotos & smiles

Regressa das férias e o primeiro sinal de vida que me dá, é postar no facebook meia dúzia de fotografias do pôr-do-sol que lhe recomendei. Sei que as tirou com a câmara fotográfica que me disse que ia comprar antes de partir. Numa das fotos, bonitas, diz que afinal o “pôr-do-sol brutal” tem nevoeiro e pisca(-me) o olho.
Arrisco e convido-a para jantar, é certo que muito em cima da hora, ela recusa, dizendo-me que vemos agendas no início da semana :)
Já imagino o que aí vem: ela vai fazer-me esperar (ou mesmo desesperar) ainda para mais sabendo o que não era suposto sobre o meu estado “broken heart”. Parece-me bem, de outra forma isto não teria futuro. Mas, por outro lado, estou a precisar das possibilidades, tanto…

Malibu | em segurança

Passou três dias no Mondrian, perdido entre as refeições encomendadas no quarto, a vista nebulosa da baixa de Los Angeles, passagens breves pela piscina repleta de beldades e uma saída fortuita até aos bares do Boulevard, demasiado gays para o seu estado de espírito. Ao quarto dia, pediu que lhe encontrassem uma casa para alugar em Malibu. Percorreu a Pacific no Mustang e enfiou-se numa villa com 6 divisões e uma escada de acesso directo à praia. Encomendou víveres para uma semana inteira, presenteando o porto-riquenho que lhe trouxe o supermercado a casa com uma nota de 5 dólares, e preparou-se para o que imaginava ser um retiro espiritual. Na primeira manhã, optou por estender-se na praia a olhar o mar, e pensou para si mesmo “suponho que, em teoria, já passei por piores bocados, mas não foram muitos, e não foram muito piores”. Sentiu-se em segurança.

Sunday, August 29, 2010

Diálogo (dos surreais)

Eu - Miúda, já te esqueci...

Ela - Ainda bem Ricardo, começava a ficar preocupada contigo.

Eu - Sim? Mas agora apetece-me voltar a amar-te! Deixas?

Mondrian Hotel | sem conforto

Fez a incrível recta perdida no meio do deserto com o prego a fundo e o sol do meio-dia a bater-lhe forte no cabelo ao vento, sentindo o inóspito Mojave enquanto ultrapassava carro após carro. Chegou à “cidade dos anjos” quando esta já se mostrava cansada de mais um dia de tráfego pesado e virou, cuidadosamente, em cada placa que lhe indicava West Hollywood, sem vontade de se perder. Entregou a chave do bólide ao rapaz mexicano e entrou para o lobby do Mondrian. Sentiu-se subitamente melhor no meio da decoração minimalista que sempre o deixava tranquilo e pediu a penthouse, puxando do cartão de crédito. Subiu no elevador com outro rapaz latino que lhe carregava a única mala e entregou-lhe quatro notas de dólar à porta do quarto, pedindo que o não incomodassem. Deitou-se na cama larga, com a roupa ainda vestida, e adormeceu rapidamente. Acordou passado uns minutos a pensar porque ela não lhe largava o pensamento se já não o amava. Sentiu-se sem conforto.

Thursday, August 26, 2010

Arrábida (blasé)

Aquele foi um ano de aventuras grandes e emoções férteis. Num verão não demasiado quente de calor, recordo-me de esperar por ela, mal desperto, pouco passava das 7 da manhã. Papillion selado e com os arreios bem postos, esperei uns bons 20 minutos, numa manhã fria para Agosto, até ouvir os cascos do Rouxinol a passo pelo alcatrão. Nunca entendi, porque decidiu dar nome de passarinho a um cavalo – há lá espécies mais diferentes. Saí pelo portão da quinta ao seu encontro e inclinámo-nos para nos beijarmos. Descemos a passo e a par pela estrada até ao cruzamento. Ali, metemos pela terra batida e começámos o trote. Ela a olhar-me de esguia, enquanto eu lhe dava primazia, com o cabelo ondulado e selvagem pretensamente preso por um “frufru”, daqueles que se usavam na época. No final do caminho encontrámos o que sabíamos, campo livre e Arrábida à vista para o galope em corrida, mesmo que cautelosa. “Até ao outeiro, Ricardo!”, gritou-me e, naturalmente, ganhou-me porque sabia montar tão melhor que eu, medroso, mesmo sendo o Papillion mais rápido que o grosso Rouxinol. Sorriu para mim, competitiva, sabendo o que isso me agradava – sempre gostei de miúdas assim, desafiantes para depois se tornarem meigas, como com aquele sorriso. Ela poderia ter sido a “mulher da minha vida”, se naquele tempo eu não me tivesse perdido de amores por outra ainda menos dócil. Voltei a vê-la há uns dias, mãe e feliz – como provavelmente não teria sido se tivesse continuado comigo. Deve ter-me achado triste e estranhado como ainda estou “sozinho”.

Wednesday, August 25, 2010

Hoover Dam | sem ar

Tomou a 215, depois a 95 e cortou para a 93. Sintonizou uma rádio que passava ópera e aumentou o volume enquanto percorria as curvas e contra-curvas sob o bafo do calor da manhã, com a capota aberta. Observou as montanhas que o rodeavam, sentindo-se cercado por fora e apertado por dentro. Atravessou a Hoover Dam e estacionou do outro lado. Saiu do carro pisando a gravilha do Arizona. Caminhou lentamente até ao meio da estrutura e debruçou-se sobre o precipício de betão. Ficou ali parado, por longos minutos, fixado na torrente de água que saía das turbinas à sua direita, a pensar em como ali havia chegado. Amor descoberto com profundidade, prazer inusitado, carinho desmesurado por parte daquele ser, único e tão perfeito. À medida que lhe começou a doer o peito, encostado com força ao parapeito, apercebeu-se que já não lhe recordava o rosto, como queria, e sentiu-se sem ar.

femme heureuse (pas fatale)

Encontrava-o perdido na vida. Agarrava-lhe as duas mãos com firmeza. Sorria para ele enquanto lhe contava uma história de encantar. Envolvia-o com os braços e fazia-lhe uma festa carinhosa através do cabelo. Beijava-o repetidamente nas bochechas. Enchia-lhe novamente o coração de sentimentos doces, como se nada tivesse passado de uma pequena anomalia no filme das suas vidas.
Ele nunca conhecera uma mulher assim. Tão capaz de o encantar apenas com o olhar. Tão clara na forma como lhe dizia que gostava dele. Tão complexa no abraçar. Assustadora na ausência. Persistente na distância. Convicta no silêncio.

Tuesday, August 24, 2010

Wynn | sem destino

Passou quatro dias a deambular pelo Wynn Resort, aproveitando os 92º F na piscina pelas tardes, jogando Blackjack ao início das noites, e conhecendo miúdas estereotipadas no XS pelas noites fora. Dormiu pelas manhãs, acordando sempre a pensar no que sentia e se ainda sentia alguma coisa. Fartou-se disso e dos cocktails que foi experimentando ao longo daqueles dias. Na quinta manhã, já com um bronzeado invejável, levantou-se cedo e alugou um Ford Mustang descapotável, percorreu a strip em direcção a sul, sem destino.

AirTrain | sem saudades

Chegou ao Liberty muito adiantado para o voo que tinha marcado. Podia mudar os planos e apanhar um avião mais cedo, pagando mais 50 dólares. Não hesitou e apanhou o AirTrain para o terminal C da Continental Airlines. Perdeu-se a olhar o skyline de Manhattan, uma última vez. Chegou em cima da hora à porta de embarque. Naturalmente, calhou-lhe a penúltima fila e o lugar do meio ensanduichado entre um estudante estrangeiro e gordo de iPod enfiado nos ouvidos, e uma americana mal-cheirosa de iPad ligado a percorrer revistas femininas. Adormeceu de imediato, como nunca lhe acontecia, sem saudades.

Monday, August 23, 2010

Get a life or else get a new car

Neste final de Agosto desinteressante, a “grande decisão” da minha vida resume-se ao carro que vou escolher para fugir aos exagerados novos escalões de impostos do filósofo de serviço. Bom, é certo que também estou a precisar de um carro novo porque o Golf já tem 4 aninhos em cima e, desta vez, vou por um que não seja meu, mesmo que me saia do bolso na mesma, só para evitar as chatices da propriedade.
Após aturada pesquisa (nem por isso) as opções trazem conotações diferentes que me põem a pensar na vida:

- O Spider – verdinho e “bora lá” impressionar as miúdas de vinte-e-alguns:

- O Série 5 – azulinho e vamos lá pensar, seriamente, em constituir família:

- O “amostra de jipe” Q5 – cinzento e deixa-me cá chegar a Administrador, solteiro e com uma amante fiel:

Central Park | sem retorno

Deixou-o sair para a sua corrida matinal no Central Park, fingindo-se adormecida e aconchegada pelo édredon. Levantou-se quando ouviu a porta bater e pôs-se a espreitar pela janela do quarto, observando-o a atravessar a 59ª, pela passadeira, e começar a correr pela East Drive. Sabia que dispunha de aproximadamente 1 hora até que regressasse com os bagels barrados com queijo creme, como todas as manhãs daqueles últimos dias. Olhou-se no espelho e gostou da sua imagem, meio despenteada e com cara de sono. Enfiou-se no chuveiro e abriu apenas a torneira da água quente, lavando-se profundamente com a água a escaldar e sentindo-se certa da sua decisão. Enxugou-se com a toalha de turco macio e vestiu-se de forma casual, calçando uns ténis que sabia confortáveis. Tirou a mala de rodas do armário e enfiou nela todas as suas coisas, de forma desordenada. Antes de sair escreveu-lhe um bilhete que depositou sobre a almofada, ainda com a forma da cabeça dele lá marcada: “Amor, desta vez é que te deixo mesmo. Sem retorno.”.

Sunday, August 22, 2010

Yellow cab | sem álibi

Apanharam um táxi amarelo, direcção norte, na 1ª avenida. Tinham acabado de jantar no Yaffa Café e dado um passeio demorado por Tompkins Park, repleto de East Villagers a passear os caninos, onde ela parara para fazer festas a um cachorrito dálmata que achara encantador. Indicaram o nome do hotel ao motorista de turbante Sikh e afundaram-se no estofo de plástico. Ele tomou-lhe a mão direita e percorreu-lhe, vagarosamente, o antebraço com as pontas dos dedos. Ela olhava fixamente os prédios que lhe apareciam pelo vidro sujo, sentindo o movimento dos olhos, da direita para a esquerda, acompanhando o movimento do carro. Ao mesmo tempo, ele escrevia-lhe, com o indicador, o seu nome na palma da mão, com doçura. À altura das Nações Unidas, ela virou-se finalmente para ele e, enquanto observava o edifício, disse-lhe: “Tu vais ser o meu fim… porque será que não aprendes que tudo na vida pode passar de mau a pior!”. Deixou-o sem álibi.

Friday, August 20, 2010

fast love

Apercebi-me das inconsequências do amor rápido enquanto lia de enfiada emails há algum tempo trocados. Acho que as pessoas, em geral, tendem a apaixonar-se muito aceleradamente apenas porque querem acreditar. Acreditar está na moda e acreditar que estamos apaixonados faz-nos sentir úteis num mundo repleto de futilidade. Gostamos dos appetizers mesmo sem sabermos ao que vão saber, devoramos as sensações da nova companhia, abusamos no tempero quando os corpos se encontram, rematamos com beijos doces que parecem cheios de significado. E é bom, como não poderia deixar de ser, tudo o que é novidade para a alma. Depois ficam os restos. Recordações boas ou más. Intenções falhadas e convicções esmagadas. E eu que não sou nada disto, sinto-me inadaptado, frugal e parvamente romântico, a querer acreditar que as causas eram mais profundas.

Wednesday, August 18, 2010

das leituras de verão (as dos outros e a minha)

O que os bimbos lêem nas férias (títulos percebidos num final de tarde na piscina de um aparthotel-kitsch-na-moda):
Vários do Nicholas Sparks – nunca li, dizem que é mais ou menos o Paulo Coelho dos anglo-saxónicos… tudo dito!
“Um amor em tempos de guerra”, Júlio Magalhães – isto dos pivots acharem que são escritores, ainda acaba mal… recomendo antes o plagiado “Amor em tempos de cólera” do GGM, esse sim é um escritor a sério!
“[título não percebido]”, Francisco Moita Flores – quem?
“[um título qualquer]”, Nick Hornby – uma bimba com melhor gosto… ajuda a confirmar a regra.
“A Ilha”, Victoria Hislop – fui ver na Amazon, passa-se numa antiga colónia de leprosos… não se arranja um destino mais macabro?
A minha leitura de férias (modo-arrogante-sou-tão-melhor-que-os-bimbos): “Money” by Martin Amis – um grande, grande, clássico de 1984 que nunca tinha lido; Nova Iorque na década da decadência e Londres no fim da era punk; sexo, drogas e um pouco de rock-n-roll, q.b.; egocentrismo a roçar o extremismo; pós-modernismo capitalista; o fascínio pela “princesa” Diana antes do casamento real… condimentos mais que suficientes para uma Grande história.
Retomo o MEC numa crónica “ante-pós-modernismo” (i.e., mais ou menos do tempo do Grande clássico) que li há muitos anos atrás, no monte-branco – que já não existe – ali na Arrábida:
De todo o tempo que perdem os portugueses, não há eternidade como o tempo que perdem a não ler. Durante o Verão, o país enche-se de turistas estrangeiros e quase todos – seja na praia, seja no hotel – andam quase permanentemente com um livro na mão. Esta estranha proclividade deixa o português perplexo: Estes bifes são todos malucos – pagam um balúrdio para cá virem e depois, em vez de aproveitarem, passam o tempo todo a ler… até usam os livros abertos para marcar lugares!”
É o facto cultural mais assustador de todos – os portugueses não lêem livros. Em nenhum outro país da Europa é tão raro ver alguém a ler um livro em público. Causa genuína aflição vê-los a não ler. Na praia, nas salas de espera, nos comboios, enquanto almoçam sozinhos, nos cafés… em toda a parte se vê uma população atarefadamente dedicada à actividade de não-ler. Porque é que não aproveitam estes tempos mortos?
Não se sabe. Uma das causas será o facto de o português ter horror à solidão. Esteja onde estiver, e por muito entediada que seja a sua condição, o português prefere estar a olhar para os outros – os tais que, por sua vez (e em vez de estar a ler), estão a olhar para ele. O português tem medo de se mergulhar num livro, porque isso significa que deixa de estar à coca. Não pode estar em lado nenhum sem sentir que está de serviço, a controlar a situação. Olha os que entram, os que saem; os que ficam, os que voam e fazem “Bzzz…”. Nem é só por bisbilhotice – é por desconfiança. Não pegam num livro porque têm medo de apanhar uma paulada nas costas enquanto estão distraídos. Para um português, ler é estar desprevenido.
Os preconceitos contra a leitura são terríveis. Entre o povo, diz-se que faz mal à digestão ler a seguir ao almoço ou ao jantar.
Existe também a noção grosseira de que ler “cansa a vista”, porque “faz mal puxar muito pela cabeça”. O típico brutamontes defende-se destas acusações dizendo que “ando a trabalhar todo o dia e, quando chego a casa, é para descansar, não é para ler”. A realidade é triste, mas tem de ser revelada: o português prefere cansar-se a trabalhar (e lembremo-nos que tem a capacidade singular de cansar-se muito a trabalhar pouco) ao descanso que seria ele ler. Resiste aos livros como aos castelhanos.
Inexperiência! Aí está a raiz do mal. Viver é experimentar, enquanto ler é deixar de viver. É por isso que, nos lugares públicos, preferem passar o tempo a viver – a ver a vida dos outros. No fundo, os portugueses querem saber o que se passa, mais do que querem, através da leitura de livros, passar a saber. Se lêem jornais, é com esta mesma intenção de “saber o que se passa”- folhear as páginas é como estar fechado num café ainda maior.
Têm medo de entrar nas livrarias, que pensam serem só para intelectuais, segundo a definição corrente de “intelectual” – alguém que lê um livro de vez em quando, por estrita obrigação profissional. Preferem receber os livros pelo correio, num invólucro castanho, como outros povos encomendam publicações pornográficas e clandestinas. Livros esses que não são geralmente para ler, mas para ver, e chamam-se quase sempre “Os animais da Terra”.
Em contrapartida, não há português que não escreva. O português é uma criatura maravilhosa – assim como fala, mas não ouve; escreve, mas não lê. Uma das consequências deste desnível entre quem escreve e quem lê é o seguinte: em Portugal há somente quarenta leitores para cada trinta mil autores. Não há nada mais fácil, hoje em dia, que escrever um livro e publicá-lo. E nada mais difícil que achar alguém que o compre e que o leia.
É um círculo vicioso. Como os que escrevem não lêem, não escrevem muito bem. E como, de qualquer modo, não há quem os leia, ainda escrevem pior. É por isso que tantos escritores produzem livros absolutamente ilegíveis.
A tranquilidade necessária à leitura (que nem é assim tanta) não parece abundar no nosso povo. Dizem que o povo é sereno, mas um polvo com epilepsia é mais. Nas salas de espera, passam horas a folhear revistas velhas a um ritmo alucinante, como se estivessem a tentar criar um efeito televisivo de animação com os bonecos. Curiosamente, os analfabetos ainda são os que mais se interessam pela leitura propriamente dita. Como não sabem ler, os livros têm para eles um mistério e uma dignidade que só os bons leitores ainda lhes atribuem.
E pronto, passados muitos anos, os factos já não são exactamente assim, mas as leituras de verão dos portugueses são no mínimo assustadoras (as dos outros e a minha)!

Tuesday, August 17, 2010

O silêncio

O melhor silêncio é o que se ouve quando se encontra uma praia com um areal gigante deserto de gente. Tranquilidade absoluta acompanhada pelo som do mar. Adormeço profundamente, sob a protecção de pequenas nuvens, e sonho contigo. Esta poderia ter sido a nossa praia. O teu silêncio é o pior e magoa-me muito.

Monday, August 16, 2010

Diálogo (dos alternativos)

Ela - ...
Eu - O que se passa, miúda?
Ela - Ricardo, já não sei o que fazer com todo esse teu amor...
Eu - Toma-o, e corresponde-me com um daqueles abraços.

…ou então urbanista

Sou só eu que acho Lisboa tão mais agradável nestas semanas de Agosto em que a turba se muda quase toda para sul? (ou para Maiorca que parece estar na moda e em conta)
É que esta cidade seria ainda mais bela se houvesse sempre pouca gente, menos carros, filas diminutas e muita qualidade de vida. E pergunta o consultor, porque raio não “deslocalizam”, de vez, os jobs desta gentinha para o “Allgarve”?

Sunday, August 15, 2010

a noite

Passo a noite entre amigos no “hotspot” de Lisboa. Amigos daqueles que sei nunca me vão esquecer, por mais tempo que passe – dizem que faz bem, nesta situação. Um deles, espanhol, conta-me que projectou o aeroporto das Bahamas, parte do T5 de Heathrow e um estádio de criquet, na Índia para 55 mil pessoas. Invejo-o, porque já criou coisas concretas – eu devia mesmo ter sido arquitecto. Depois de 4 vodka-tónicos, acho que já não me vou lembrar de ti, mas afinal continuas a encher-me o pensamento.

Friday, August 13, 2010

Ghardaia

Naquele dia, há cerca de 1 ano atrás, chegámos cedo ao Meco e alugámos uma palhota na 1ª linha. Ao contrário de hoje, não fazia vento. Emprestaste-me o “No teu deserto” que eu devorei em 3 horas, mesmo fazendo intervalos de tempos a tempos para conversar contigo. Partilhámos uma sangria enquanto eu te falava de Ghardaia e Le Corbusier. Quando terminei o livro, disse-te por palavras suaves e escolhidas que necessitava de voltar a amar. Tu não me quiseste entender e desfizeste a conversa, dizendo-me com lágrimas nos olhos que talvez se tratasse de uma fase. Não era assim. Amanhã, partes para o Nepal e eu só espero que já não me leves contigo, porque sei o que isso dói. Eu por mim, também partia, já amanhã, para Ghardaia.

Thursday, August 12, 2010

wish upon a star

Recebo duas mensagens iguais através do Facebook: "Na noite de 12 para 13 de agosto, dezenas de estrelas cadentes por hora podem ser vistas a olho nú ;) Boa sorte!"
Já tinha visto duas e pedido os respectivos desejos, será que estou a abusar!?

The day I decided to write the novel | 34º Celsius cooking my brain

So Rick and Kate have been in love for quite some time. They look like English characters in a French movie. Some shyness on the first scenes, too much perfection in the middle chapters, a lot of drama by the last ones. An extraordinary soundtrack, rightly chosen among indie musicians. Deep feelings all over the screenplay. Dialogs written in strong words, an exchange of thoughts hard to understand. They met on a spring night, fell on each-other’s arms on a park bench, made love in the sweetest way every time. They held hands in small concerts, beautiful theatre plays and while walking through the narrow streets of their city. They embarked on a dream of togetherness and seemed ready to change some of their deepest convictions, in a way that would impress their souls, making sense of one another even throughout the periods they were apart. Then Rick’s senseless personality surfaced and he made the wrong moves, mistook his lines and remained silent when he should not. It scared Kate and made her loose faith. Time, that unbeatable foe, passed very slowly, while they were together no more, although still remembering the sweet taste of the good times. And nowadays, they find themselves a world apart. Rick still deeply in love, not wanting to give that feeling up, and strangely betting on the possibilities. Kate only seeing herself getting even more hurt, and imagining him as he really is not. Time passing doesn’t seem to help these two, even if there is still a lot of film to shoot further scenes.

Wednesday, August 11, 2010

Já ninguém morre de amor?

Naquela manhã ele voltou a acordar muito cedo, pouco passava das 7 da manhã. Vestiu uma t-shirt cinzenta, os calções desportivos e calçou os ténis por cima das meias caneladas. Saiu para a rua onde já fazia calor. Dirigiu-se ao caminho de tartan e começou a correr. A primeira volta custou-lhe, sentiu os músculos doridos pelo esforço dos dias anteriores. Percebeu que estava a dar passos curtos e alargou bastante a passada. Na segunda volta ao percurso sentiu o coração descompassado mas a respiração já estava segura. Concentrou o pensamento naquilo mesmo, no coração descompassado, tentando interpretar se seria por causa da corrida ou ainda pela dor imensa que lhe ocupava o peito. Começou a terceira volta, a correr a bom ritmo, pensando como tudo deveria ser diferente, mais justo. Foi então que deu por si no meio de uma dúzia de trabalhadores que se dirigiam às obras, em contra-mão. Observou-lhes os rostos carregados e as mãos calejadas, segurando sacolas aos ombros. Gritou-lhes “bom dia” e imaginou-se um personagem do Tolstoy, daqueles cujos nomes terminam sempre em “itch” e que garbosamente vestidos, reflectem sobre a cena em que montando a cavalo, no meio da floresta, dão por si no meio dos camponeses esfarrapados e ao frio. Sentiu-se um príncipe dos tempos modernos, a fazer jogging concentrado nos males da paixão, quando a vida tem tantas outras preocupações. Já ninguém morre de amor?

Saturday, August 7, 2010

excertos #6

10
I was born when you kissed me. I died when you left me. I lived a few weeks while you loved me.
- Humphrey Bogart


Alguns dias mais tarde voltei a encontrar-me com o Tomás, desta vez no Timbuctu ao início da tarde. Eu sentia-me confuso com os desenvolvimentos da minha nova relação, ao ponto de nem saber se devia classificá-la assim ou se seria mais uma ligação, e aproveitava o facto de já ter aberto o coração com o Tomás.
- Sabes Tomás, isto evoluiu muito e muito rapidamente e eu estou a sentir-me muito perdido, sem norte. Ela enche-me tanto, mas tanto, as medidas que eu sinto-me realmente com medo de onde isto vai parar. E tu sabes como sentir-me inseguro é contra-natura para mim que sou sempre tão convicto das minhas certezas, opiniões e decisões. Mas ela tem aquela característica única de me fazer vacilar, tremer, e querer entregar-me como nunca me tinha acontecido antes. E tu sabes, o desconhecido pode ser extremamente fascinante mas também nos faz hesitar e eu tenho realmente medo de errar em algum pormenor que faça tudo isto desabar. É quase como se me estivesse a tornar supersticioso, logo eu que não suporto o místico.
- Isso não é definitivamente bom. Já te estou a ver a meteres os pés pelas mãos e a estragares tudo do dia para a noite. Estás a deixar-me cada vez mais curioso, por conhecer essa mulher tão fascinante que te faz querer entregar assim os pontos.
- Sim, é mesmo isso, alguém que me toca a alma e me faz duvidar sobre a existência antes de a conhecer. Alguém que me desperta os sentidos que eu desconhecia possuir até aqui. E isto até parece uma paixão bacoca, mas é tanto mais que isso que eu já não sinto os pés firmes na terra. E ela apetece-me muito, tantas vezes, que quase se torna real, mesmo quando não estamos verdadeiramente juntos. E depois tem aquela forma única de me abraçar, que oscila entre o imperfeito e o aperto profundo que me faz sentir desmesuradamente vivo.
- Humm… já pareces o Humphrey com a Bacall, em abraços cinematográficos.
- Ah pois, também penso nisso, ela encostada ao meu peito e os beijos perfeitos, mas isto não é cinema, é vida real.

Friday, August 6, 2010

Mar de sabedoria

E foi durante aquele jantar a dois, naquela esplanada num recanto da cidade, mergulhado num vento quente e seco, que ela lhe chamou de “Dalai Lama” e traduziu-lhe o significado das palavras tibetanas para: tu és o meu “mar de sabedoria”. Conheciam-se há alguns anos, 6 ou 7. Ele era mais velho, também 6 ou 7 anos, mais experiente, mais capaz de interpretar aqueles olhos azuis, inseguros, que o observavam desde o outro lado da mesa. Ele sempre soubera que não devia deixar-se levar pelo encantamento daquela miúda mais nova. Soubera-o desde o momento, alguns anos antes, em que se haviam encontrado pela última vez, num almoço tardio, numa outra esplanada aquecida pelo sol, apenas os dois, numa mesa isolada e envolta pelo calor do pino do verão. Fora talvez esse mesmo calor que lhes havia aguçado o apetite e a memória um do outro, e por isso tinham combinado aquele jantar. Ele conhecia-lhe o fascínio pelas religiões orientais e a admiração pelos costumes tibetanos. Ele falou-lhe vagamente sobre um artigo que havia lido recentemente, que propunha a mesma raiz genética para os povos Han e Tibetano – extremamente ofensivo para os dois “credos” que se consideravam reciprocamente superiores um ao outro. O pormenor das diferenças marcado por 3 mil anos de apuramento da “raça” e da vida a grande altitude. Em qualquer caso, deixava a questão no ar: seriam os Tibetanos descendentes dos Han ou vice-versa? Mas aquela conversa, mesmo se a dois, não passava dali e foi quando ela soltou aquela frase, verdadeira para ela, que ele se sentiu cansado de tudo aquilo, olhou-a nos olhos, bonitos, e deu-lhe o seu “namasté”.

Wednesday, August 4, 2010

O passado presente | “apetece... ou ias comigo”

E foi porque decidiu percorrer ignobilmente a lista de contactos no telefone que voltou a sentir-se capaz. Nos As não havia nada, amigas casadas e um affair passado a que jamais regressaria. Nos Bs uma espanhola que dele gostara. Nos Ds nem sequer existiam nomes no feminino. Nos Es apenas a mãe de uma antiga namorada. Nos Fs uma possibilidade demasiado problemática. Pelos Gs e Hs passou rapidamente, sem sequer parar. E quando chegou ao I descobriu o que desejava e enviou-lhe uma mensagem. E ela respondeu-lhe:
“Ricardo, perante esse sms apetece... Mas tenho 1 jantar + copos na fábrica braço de prata... Que ou ias comigo ou fica complicado, por isso sugiro: 'se amanhã ficar em lisboa, posso convidar-te para sushi ao jantar?'”
E ele fixou-se primeiro no “apetece”, depois no “...ou ias comigo” a tentar perceber se seria um convite. Definitivamente, I. tinha o dom de o surpreender e de o fazer sonhar. Uns olhos lindos, muito bom gosto, um espírito alegre misturado com um bocadinho de insegurança latente para uma miúda feita, do signo balança e solteira. E respondeu-lhe rápido:
“Humm, amanha tenho eu um jantar. O sushi parece-me muito bem, se quiseres domingo ou durante a proxima semana - ja foste ao novo do Olivier, no Tivoli Forum? Beijo”
Mas o sms não saiu logo e ele agradeceu o controlo de espontaneidade. Algumas horas mais tarde, chegou-lhe a resposta:
“Não.. Mas parece-me bem. Ou esse ou o umai. Então jantamos ou domingo ou próx semana. :) Beijo.”
E ele ficou a sentir-se feliz e um pouco fútil também, encantado com o smile, porque finalmente se abriam possibilidades.

Tell me a line, make it easy for me
Open your arms
Dance with me until I feel all right

But there's love in your eyes
Love in your eyes, love in your eyes
But maybe that's just what your lover finds

Tuesday, August 3, 2010

O pretensioso-e-fútil-em-transporte-alternativo

E pronto, tenho o carro na oficina por uns dias e dou por mim a recorrer ao táxi mais do que o trabalho me exige. Não bastavam os Mercedes fumegantes e a cair aos pedaços, que eu imagino sempre saídos de um filme turco, saem-me também os taxistas broncos que nem sabem o caminho para minha casa – que diga-se é numa das ruas emblemáticas de Lisboa. Hoje de manhã saiu-me um velho de suspensórios e com mãos de cavador que quase não conseguia escrevinhar o recibo que lhe pedi. Esta noite, um mancebo cavalgadura a quem tive que explicar como virar à esquerda depois do hotel, enquanto ele me confessava que era “novo aqui” – está certo, veio das berças, ainda existe disso?

O dilema

Como se explica a uma miúda cheia de vontade de entrar na minha vida, alguém que nos oferece muitas possibilidades de felicidade, que tenho o coração aberto em sangue e que tem que me dar o tempo suficiente para arrumar as ideias, porque não, não me vou apaixonar, à séria, duas vezes de seguida. "Vemo-nos depois das férias"?

O banho-maria

O banho-maria é aquele estado em que “se é” mas “não se é bem”. Aquela fase, regra geral infinita, em que “se poderia ser” mas “é melhor assim”. Aquela sensação dúbia e interessante do “pode vir a ser mais” mas “está tão bom como está”. O MEC que teve a graça de ser brilhante, antes de vivermos o pós-modernismo, percebia mesmo disto e escreveu sobre isto dos amores requentados e em banho-maria, dos bicos de fogão que se acedem e apagam para se manter a temperatura, numa crónica muito brilhante que agora não consigo encontrar, entre os livros cá de casa, para plagiar aqui. Mas também não interessa para nada, porque toda a gente sabe do que estou a falar. São aquelas paixões que se mantêm em “hibernação”, só porque “nunca se sabe” o que podem dar, um dia. E isto é bom? Já não sei.

Monday, August 2, 2010

Remember all

Enches-me muitas vezes o pensamento. Eu e tu no concerto das três miúdas, a tua conversa inteligente e charmosa, os beijos fortuitos “em público”, as nossas mãos bem dadas e a tua expressão muito apaixonada na cadeira ao meu lado.

Sunday, August 1, 2010

O princípio do princípio

Ontem fui ver o muito falado “A Origem” que passa por ser o melhor filme do ano – até ver. Para além de ter saído do cinema com muita vontade de condução furiosa – valeu-me Lisboa estar mais ou menos deserta de bólides –, a história não é muito original. Já todos os que temos dois neurónios a funcionar em condições, nos pusemos a questão do “viver dentro de um sonho” à espera de acordarmos para a “vida real”. Fiquei preocupado sim, com os que tendo algum neurónio menos funcional possam sair do filme cheios de vontade de porem um pião a girar ou a probabilidade de simplesmente cortarem os pulsos…
Quanto ao DiCaprio, até pode ser um galã mas de grande actor tem pouco – até a miúda do “Juno” vai melhor no filme – e mesmo assim arrisca-se a ganhar o perseguido Oscar.

Fútil em mais um dia de praia

Eu - Estou a pensar em trocar de carro… por um Alfa Romeu… o Spider. O que achas? Gostas?
Ela (minha amiga) - Ai Ricardo, se continuas assim não há quem te ature… ninguém tem paciência para depressivos!
Eu - …