Wednesday, February 23, 2011

à rasca, Maria vai com as outras

Com o novo horário e o time lag alargado sinto-me mais desencontrado do meu mundo. Ponho-me a ler as notícias fora de horas:

Manifestação a 12 de Março - Adesão ao protesto da “geração à rasca” já ultrapassa as 20 mil pessoas.

Nos últimos dias juntaram-se mais de duas mil pessoas por dia à página do protesto “geração à rasca” no Facebook, conta a organização do movimento que desafia os jovens precários e desempregados do país, ou todos os que os queiram apoiar, a fazerem ouvir a voz numa manifestação nacional no dia 12 de Março. São já mais de 20.500 os subscritores da acção.
O movimento protesta pelo direito ao emprego e à educação, pela melhoria das condições de trabalho e o fim da precariedade O movimento protesta pelo direito ao emprego e à educação, pela melhoria das condições de trabalho e o fim da precariedade.
João Labrincha, 27 anos, é um dos organizadores deste movimento que se inspirou pela música “Parva que sou”, dos Deolinda. Licenciado em Relações Internacionais há quatro anos, acumulou, desde que se formou, experiências precárias de trabalho. E acabou por ficar desempregado.
“Todos conhecemos uma imensidão de pessoas à nossa volta na mesma situação”, conta ao PÚBLICO, confessando que a dimensão que o movimento tem atingido não o surpreende, apesar de se sentir muito comovido com a solidariedade de todas as pessoas, de todas as idades, que têm assinado o manifesto que ele e mais três amigos, que conheceu na Universidade de Coimbra, decidiram lançar nas redes sociais.
“Incluímos no nosso movimento toda a geração com 20, 30, 40 anos”, diz sobre o conceito de “geração à rasca” que criaram. “E há outras gerações afectadas com isso como os pais que nos têm de sustentar. Todo o país é afectado económica e socialmente por este quadro”, diz João Labrincha.
“Chegam-nos até os relatos de pessoas mais velhas, já quase na casa dos cinquenta, e que se identificam com o movimento porque estão desempregados, ou são precários e não têm como alimentar os filhos”, diz sobre as histórias que têm chegado à página do Facebook do movimento e que mais o impressionam.
João acredita que o facto do movimento ser apartidário fez com que crescesse mais: “Somos apartidários, o que não quer dizer que sejamos anti-partidos. Mas o facto é que as pessoas estão muito cansadas da política. O nosso objectivo é reforçar a democracia, não derrubar governos”, frisa o organizador. “Queremos fazer ouvir a nossa voz e apresentar soluções”. Por isso o movimento pede, aos que saírem para a rua a 12 de Março, que levem uma filha A4 onde expõem a razão do seu protesto e onde apontam uma solução. Os documentos serão entregues na Assembleia da República.
O que gostaria, confessa, é que desta experiência surgissem mais movimentos. E para já conta que muitos grupos se estão a organizar para fazer manifestações a 12 de Março, tal como a que está marcada para a Avenida da Liberdade, em Lisboa, em várias partes do país: no Porto, na Praça da Batalha, em Coimbra, no Funchal ou Ponta Delgada há já manifestações marcadas.
“Seria interessante transformar este movimento numa manifestação nacional”.


Não bastava o sentido de periferia, a comparação com os enganos estatísticos dos Gregos e as reminiscências transformadas numa debandada geral para sul do equador, a “geração à rasca” ainda nos quer transformar num sucedâneo do Magreb. Anos e anos de educação investida nos neurónios dos meninos e mesmo assim não somos capazes de perceber que temos um lugar de destaque no mundo. Optamos pela depressão colectiva quando na verdade temos, somos, tanto ou mais que os outros, digo eu do meu ponto de observação privilegiado. Dizem eles que queremos “movimentos” mas a mim parece-me que queremos mesmo é o belo do estado social, como sempre desde há alguns séculos para cá. Devíamos, podíamos, ser capazes de mais, muito mais. De empreendermos, em lugar de ficarmos à espera de passar entre a chuva ou que nos dêem um chapéu-de-chuva (com esta lembro-me sempre da imagem dos emigrantes sub-saharianos a venderem os ditos em cidades onde nem chove muito). Devíamos, podíamos, dar uso às nossas vantagens competitivas (cultura, identidade, facilidade com as línguas, simpatia, faculdade de adaptação, perspectiva e, apesar de tudo, capacidade de sacrifício) para fazermos acontecer, individualmente mas em massa, primeiro, porque o colectivo vem depois e não se chega longe com o princípio “Maria vai com as outras”. Mas isto é só o que eu acho.

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