Saturday, December 25, 2010

em modo Natal-nostálgico

Até aos meus 15 anos todos os Natais de que me recordo foram passados em Trás-os-Montes. Quando chegávamos, a minha avó recebia o neto vindo da cidade com uns bolinhos de coco, muito especiais, que eu adorava – desde que se acabaram, acho que não sou muito de coco. O jantar, em que apesar do bacalhau assado nas brasas, era o polvo cozido e em filetes que reinava, era servido na imponente sala de jantar que por se situar justamente no meio da grande casa tinha por soalho tábuas de madeira maciça que rangiam com os passos dos adultos mas, irritantemente, não com os meus. Em volta da mesa existiam uns louceiros magníficos com superfícies de pedra que ficavam repletos dos doces de Natal: lampreia de ovos, filhoses de vários tipos, aletrias de massa fina e grossa, arroz-doce, sonhos, rabanadas, torta de marmelo doce e uma travessa dos ditos bolinhos de coco, que eram a única coisa de que eu realmente gostava. O meu avô imponente sentava-se à cabeceira e fazia-me sentar ao seu lado, olhando-me com ar circunspecto quando eu afastava a couve-flor para a borda do prato. Aquela sala de jantar era decorada com naturezas-mortas dos artistas experimentais da família que me tiravam o sono. Os presentes abriam-se no regresso da missa do galo, junto à lareira na cozinha, connosco miúdos aos pulos em cima do escano.

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