Tuesday, January 26, 2010

Chuva forte em Lisboa

Observava-a enquanto fumava pacificamente o seu último cigarro. O sorriso dela em conversa com uma amiga enchia-lhe o olhar e a imaginação. Tinha um rosto perfeito e um cabelo suave, preso atrás da nuca pela combinação de dois lápis. Não deveria ter mais de 30 anos mas parecia-lhe uma mulher feita. Alegre e claramente erudita, com lábios carnudos daqueles que apetece provar. Despretensiosa e ainda assim charmosa. Afrodite de pleno direito. Decidiu arriscar. Pegou numa carteira de fósforos que se encontrava em cima do balcão e rabiscou furiosamente no papel áspero. Chamou o barman e pediu-lhe que a entregasse acompanhada de uma flute de champanhe. Quando ela se virou e lhe fixou o olhar, ele tremeu por dentro. Arrepiou-se com a sensação de déjà vu, reconhecendo-a de múltiplos sonhos passados. Sentiu o sangue a fugir-lhe do cérebro como se estivesse a flutuar. Atirou com duas notas para cima do balcão e saiu porta fora. A chuva caia forte em Lisboa. Ela não lhe telefonou.


2 comments:

Miúda-Mulher said...

Ahahah! Receber uma caixa de fósforos com um número de telefone e uma flute de champagne é muito mau Ricardo... Restinhos de delírio da febre? :-)

Ricardo said...

Querideca, tens razão esta saiu realmente mal. Só não sei se foi das drogas ou inspiração do blog de uma certa miúda-mulher... (se reparares bem o estilo do texto tem muito a ver)

Fica bem!