Ele era florista numa
lojinha próxima do Chiado e, ao contrário do que a maior parte dos clientes
julgava, não era nada gay. Todas as manhãs passava pelo Príncipe Real e fazia
um cumprimento à miúda morena da loja gourmet, antes de descer pelas calçadas
do Bairro. Com o passar do tempo, foi percebendo que fazia aquele percurso pelo
prazer dos dois dedos de conversa trocados com aquela miúda simpática e
simples, quando podia perfeitamente descer a Rua do Século. Passou a encerrar a
lojinha às primeiras horas da tarde, para trazer um arranjo de flores
cuidadosamente preparado à miúda morena, simpática e simples. Ela começou a
corresponder-lhe com pequenas iguarias, perfeitamente embrulhadas, àquele rapaz
de mãos cortadas pelos espinhos e olhar doce. Passaram a encontrar-se ao final
de cada tarde na esplanada do quiosque, deleitando-se com mazagrin ou limonada,
e desfiando conversas até se deixarem encantar. Um dia ele apareceu-lhe, a meio
da tarde, com um molho de tulipas vermelhas tão grande que mal lhe cabia nas
mãos. Sentaram-se num banco do jardim e apaixonaram-se.
2 comments:
adorei!
E das pequenas coisas...nascem as grandes historias
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