Tuesday, December 27, 2011

O pretenso-escritor-lamechas do banco do jardim

De cada vez que se sentia perdido, sentava-se no banco do jardim e escrevia uma história de amor que levava apenas até ao ponto certo em que nenhum dos personagens sofreria as consequências do que sentia. Era, com toda a certeza, um escape para o mal de que padecia e para a sensação da brevidade dos tempos de felicidade que não era capaz de ultrapassar. Não suportava o diálogo que o seu coração travava com a alma em surdina e, por vezes até, em silêncio. Não acreditava nas impossibilidades que lhe expunham num argumento de história finita. Acreditava sim, na transparência dos sentimentos e das sensações que observava sentado no banco do jardim.
Naquela tarde saiu-lhe o par das bicicletas e sorrisos abertos sob um sol fantástico de Dezembro em Lisboa. Viu-os circundar o jardim lado a lado e em fila-indiana feita de apenas dois, por entre a calçada branca. Viu-os contentes com o fim-de-tarde a experimentarem a “acrobacia” de pedalarem de mão-na-mão. Viu-a cair sobre a relva verde-bonito e bem-cortada a esboçar um beicinho enquanto ele desmontava apressado da “bicla”. Viu-o debruçar-se sobre ela, preocupado, enquanto ela fazia um sorriso maroto de quem queria meiguice. Viu-lhes o abraço recuperador, quando ele a erguia como o melhor da sua vida. Imaginou-lhes a história simples e certa de quem encontrara a alma-gémea quando já não acreditavam muito. Foi, novamente, capaz de compreender que existem momentos, situações e lugares onde o presente se realiza sem receios do que aconteceu antes, porque faz todo o sentido.

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