Saturday, February 26, 2011

o febrão (não se trata de carne no churrasco)

Gosto do efeito que 2 graus de temperatura a mais provocam no meu neurónio. Pode ser cansativo mas o aumento na velocidade do processador revela-se sempre interessante. Neste estado, sonho mais, com algum despropósito, mas os sonhos misturam-se bem com boas ideias (o termo certo para isto só existe em inglês: “to blend”), e então as ideias exploram novos, e outros, rumos, e faz-me falta a capacidade de as fixar, guardar, para mais tarde dissecar, repensar e aproveitar.

Friday, February 25, 2011

normal people

Sentava-se com ela no banco do jardim e olhava-a com carinho parafraseando mentalmente: "mi amor...". Acariciava-lhe a mão devagarinho, concentrando as palavras que lhe queria dizer: "eu amo você...". Dizia-lhe isso mesmo num tom meloso: "eu amo vocêee...". Ela, que não esperava aquilo nem estava preparada, abria os olhos grandes e bonitos perguntando-lhe: "o quê?". Não se fazia desentendida, simplesmente não o entendera. E ele respirava fundo repetindo com convicção e um aperto suave da mão: "eu amo você!". Então, ela envolvia-o num abraço profundo e procurava-lhe os lábios para um beijo apaixonado. Wunderbar!

Wednesday, February 23, 2011

à rasca, Maria vai com as outras

Com o novo horário e o time lag alargado sinto-me mais desencontrado do meu mundo. Ponho-me a ler as notícias fora de horas:

Manifestação a 12 de Março - Adesão ao protesto da “geração à rasca” já ultrapassa as 20 mil pessoas.

Nos últimos dias juntaram-se mais de duas mil pessoas por dia à página do protesto “geração à rasca” no Facebook, conta a organização do movimento que desafia os jovens precários e desempregados do país, ou todos os que os queiram apoiar, a fazerem ouvir a voz numa manifestação nacional no dia 12 de Março. São já mais de 20.500 os subscritores da acção.
O movimento protesta pelo direito ao emprego e à educação, pela melhoria das condições de trabalho e o fim da precariedade O movimento protesta pelo direito ao emprego e à educação, pela melhoria das condições de trabalho e o fim da precariedade.
João Labrincha, 27 anos, é um dos organizadores deste movimento que se inspirou pela música “Parva que sou”, dos Deolinda. Licenciado em Relações Internacionais há quatro anos, acumulou, desde que se formou, experiências precárias de trabalho. E acabou por ficar desempregado.
“Todos conhecemos uma imensidão de pessoas à nossa volta na mesma situação”, conta ao PÚBLICO, confessando que a dimensão que o movimento tem atingido não o surpreende, apesar de se sentir muito comovido com a solidariedade de todas as pessoas, de todas as idades, que têm assinado o manifesto que ele e mais três amigos, que conheceu na Universidade de Coimbra, decidiram lançar nas redes sociais.
“Incluímos no nosso movimento toda a geração com 20, 30, 40 anos”, diz sobre o conceito de “geração à rasca” que criaram. “E há outras gerações afectadas com isso como os pais que nos têm de sustentar. Todo o país é afectado económica e socialmente por este quadro”, diz João Labrincha.
“Chegam-nos até os relatos de pessoas mais velhas, já quase na casa dos cinquenta, e que se identificam com o movimento porque estão desempregados, ou são precários e não têm como alimentar os filhos”, diz sobre as histórias que têm chegado à página do Facebook do movimento e que mais o impressionam.
João acredita que o facto do movimento ser apartidário fez com que crescesse mais: “Somos apartidários, o que não quer dizer que sejamos anti-partidos. Mas o facto é que as pessoas estão muito cansadas da política. O nosso objectivo é reforçar a democracia, não derrubar governos”, frisa o organizador. “Queremos fazer ouvir a nossa voz e apresentar soluções”. Por isso o movimento pede, aos que saírem para a rua a 12 de Março, que levem uma filha A4 onde expõem a razão do seu protesto e onde apontam uma solução. Os documentos serão entregues na Assembleia da República.
O que gostaria, confessa, é que desta experiência surgissem mais movimentos. E para já conta que muitos grupos se estão a organizar para fazer manifestações a 12 de Março, tal como a que está marcada para a Avenida da Liberdade, em Lisboa, em várias partes do país: no Porto, na Praça da Batalha, em Coimbra, no Funchal ou Ponta Delgada há já manifestações marcadas.
“Seria interessante transformar este movimento numa manifestação nacional”.


Não bastava o sentido de periferia, a comparação com os enganos estatísticos dos Gregos e as reminiscências transformadas numa debandada geral para sul do equador, a “geração à rasca” ainda nos quer transformar num sucedâneo do Magreb. Anos e anos de educação investida nos neurónios dos meninos e mesmo assim não somos capazes de perceber que temos um lugar de destaque no mundo. Optamos pela depressão colectiva quando na verdade temos, somos, tanto ou mais que os outros, digo eu do meu ponto de observação privilegiado. Dizem eles que queremos “movimentos” mas a mim parece-me que queremos mesmo é o belo do estado social, como sempre desde há alguns séculos para cá. Devíamos, podíamos, ser capazes de mais, muito mais. De empreendermos, em lugar de ficarmos à espera de passar entre a chuva ou que nos dêem um chapéu-de-chuva (com esta lembro-me sempre da imagem dos emigrantes sub-saharianos a venderem os ditos em cidades onde nem chove muito). Devíamos, podíamos, dar uso às nossas vantagens competitivas (cultura, identidade, facilidade com as línguas, simpatia, faculdade de adaptação, perspectiva e, apesar de tudo, capacidade de sacrifício) para fazermos acontecer, individualmente mas em massa, primeiro, porque o colectivo vem depois e não se chega longe com o princípio “Maria vai com as outras”. Mas isto é só o que eu acho.

Monday, February 21, 2011

eixo céu

Sem conseguir explicar se por efeito da idade ou dela, deu-lhe para apreciar pequenas e grandes coisas. Um mergulho rápido e deitou-se sobre uma toalha estendida na pedra aquecida pelo sol, assentando a nuca numa outra toalha enrolada em almofada. Sentiu o calor apertar-lhe os dois lados do corpo e abriu os olhos para a vertical absoluta. Sky, cielo, ciel, simplesmente céu, ou na sua forma favorita, himmel: esta cidade ganha no eixo do céu. Pelo menos em Fevereiro, com o compasso das nuvens brancas e espessas, a espaços cortadas por helicópteros ou “jatinhos”, e com os pares de águias (ou serão condores?) aos círculos lá bem no alto.

Saturday, February 19, 2011

O mago e o feitiço

E de repente, justamente hoje, apareceu-me uma borbulha na borda do lábio superior. Só a descobri há pouco mas deve ter despontado a altas horas da madrugada, quando os pensamentos se encontraram num meridiano intermédio. E eu que gosto (muito) de significados fiquei a conjecturar o que meu organismo me está a querer dizer com este pequeno detalhe confundido entre a proximidade do lábio e a realidade a milhas de distância.
Não posso, não quero e não vou deixar o definitivamente importante para trás.

O mago

Pouco a pouco, com o passar do tempo, começou a fazer a sua magia peculiar. Começou devagarinho e sentiu-se a ganhar forças com aquela primeira conversa à boleia num carro de estofos de pele, num dia de chuva. Ele era mais novo, apenas alguns anos. Claramente um tipo inteligente. Contou-lhe que trabalhava desde os 14 e que tirara o curso, com sacrifício, em simultâneo. Um empreendedor que montara um negócio semi-legal, enquanto trabalhava e estudava. Viajara pelo continente fazendo a coisa crescer até se tornar perigoso do ponto de vista fiscal. Então, consciente, decidiu abandoná-lo e dedicar-se apenas à profissão. Gosta do que faz, por agora, mas não se esqueceu que existem outras oportunidades à espera de serem exploradas. E eu que preciso deste empreendedor, sagaz e de espírito irrequieto na minha equipa, abri o livro da retórica, acalmando-lhe as inquietações da época e abrindo-lhe os olhos para um futuro risonho.

eixo arquitectura & urbanismo

Acordei com vontade e empanturrei-me ao pequeno-almoço. Entre outros almoços e muitos jantares, sinto que estou num processo de engorda e pouco me importa. Contra o meu hábito, rematei com um café forte e arruinei o plano de voltar para dormir até tarde. Subi ao 25º andar para descobrir a piscina enganadoramente pequena e estirei-me por um momento numa das poucas espreguiçadeiras. Mais uma manhã quente e nublada que não deixa ver a estrela maior. Observei o skyline interessante e pus-me a pensar seriamente sobre tudo isto. Na matriz quantitativa do que quero para a vida, decidi subir o peso do eixo arquitectura & urbanismo. Neste, esta cidade não sai a ganhar.


Friday, February 18, 2011

Local Hero (outras viagens...)

Percorri a costa da Escócia em busca daquele lugar único a que se chegava por estradas estreitas. Procurava a Aurora Borealis como tinha visto no filme. Encontrei uma terra perdida e marcada por uma sonolência própria do Atlântico Norte. Entrei num pub vazio repleto de copos mal lavados. Senti-me descrente daquela gente, até encontrar um pescador de oleado amarelo a puxar o seu barco a remos pela rampa apertada. Fiz dele o meu "Local Hero" embaraçado pelas redes de pesca e meti-me no carro de volta a Edimburgo.

o beicinho e o beijinho

Ela faz beicinho e sabe que eu me vou derreter. Estou atafulhado de trabalho com emails das duas geografias sempre a chegarem mas ela ganha a prioridade. É amor, é saudade, é um misto de certeza e vaidade por termos chegado aqui. É a vontade do beijinho e de não complicar. É a minha segurança absoluta de que tudo vai correr bem porque fui aprendendo com ela a confiar nas sensações simples da vida e estas coisas não vêm na literatura.

Sunday, February 13, 2011

intimidade real

A intimidade é real quando sentimos o gosto por conversar, devagar, pela noite dentro, com as vozes sonolentas em frases trocadas, histórias contadas, perguntas colocadas e palavras simples. Que si y que no… Sem complicações, sem grandes divagações. Porque sim. Porque nos apetece e não importa o sono adiado. Porque é bom. Porque nos enche de conforto. Porque se repete com mais gosto. Porque se sente que é para durar e não há lugar para o efémero.

Saturday, February 12, 2011

o backup

Faço um backup, cuidadoso, das coisas profissionais que não posso perder. Enquanto copio as pastas dos projectos, dos clientes e dos outros assuntos, penso como seria bom poder guardar num disco seguro estes nossos dias e noites. Tudo pronto* a recuperar, a retomar, com vontade e cuidado no dia do regresso, tudo o que não quero perder. Nós**.

(* ah, o homem dos “prontos” que um dia acertou na expressão certa, como eu no sentimento manifesto)
(** ah, palavra bonita)

Wednesday, February 9, 2011

o melhor da vida

Recebe-me com o distanciamento próprio de quem tornou cativo o sorriso. Faz magia com chá quente e china ao quadrado. Adormece sobre o meu peito, a meio dos meus filmes em idioma teutónico. É capaz de dormir tranquila apesar do meu riso. Enche-me as camisolas da substância branca que nos limita o encontro dos lábios. Enrosca-se nos meus braços com pequenas carícias nas mãos. Gosta de me sentir quente contra o seu corpo. Deixa-me com vontade de escrever, mais uma vez. Acho que já me topou: por isto, por estas pequenas sensações, estou disposto a investir horas de sono.

Tuesday, February 8, 2011

o fotógrafo com vontade de escrever

Tira-te fotografias deliciosas para guardar na mente. Surpreende-se com as linhas que deitas cá para fora, espontaneamente. Apetece-lhe alargar a noite continuamente quando te sente a adormecer, aconchegada. Quem foi quem disse que a primavera não chega em Fevereiro?

Monday, February 7, 2011

let’s make spring together...

Com o teu cheiro colado à minha pele em sintonia perfeita e uma vontade imensa de te tratar dos lábios secos, só me ocorre um jogo de palavras: let’s make spring together...

Sunday, February 6, 2011

inércia

Há poucas coisas que me arreliam na vida – eu não sou de me zangar. A inércia é uma delas. Para mim, inércia não é bem a mesma coisa que preguiça, apesar do que diz o Priberam. Preguiça tem aquele sentido do tempo gozado, bem passado do “dolce fare niente”, positivo e prazenteiro. Isso, eu suporto – até sou capaz de gostar. O que não suporto são pessoas inertes, sem vontade de se mexerem, incapazes de decidir – como se tivessem os neurónios presos num baraço –, para quem o fácil é deixarem-se arrastar – que também não é bem a mesma coisa que deixar-se levar. Dou-lhes o desconto todo – sou bom nisto – a conjuntura, as preocupações terrenas, o cansaço acumulado, o frio da noite… o que quiserem, mas não me deixem a falar sozinho. É que tenho mais o que fazer, onde ir e com quem estar. Não “tirei” a noite para os aturar, assim.

Friday, February 4, 2011

o contraponto

Fez umas gravações para a televisão a precisar de ponto porque as frases não lhe saiam como queria. (camisa às riscas para baralhar!? ...a rolar ...acção ...corta ...acção ...corta ...já está)

Tomou um duche quente, custando-lhe o acordar. (água com pouca pressão)

Combinou um ovo mexido em manteiga com atum em lata. (não gostou... empanturrou-se com batatas fritas do pacote)

Assinou meia dúzia de missivas completando o legado. (caneta de tinta permanente a ameaçar ficar sem tinta)

Desceu no elevador compondo o cabelo com a mão. (mensagem no telemóvel: Tem um cachecol muita giro :p)

Petrificou a equipa num discurso correcto. (mensagem no telemóvel: Muitos muitos parabéns... Ainda a digerir :-)

Quase atropelou um miúdo esgrouviado na passadeira. (pálpebras a pesar)

ao nível do mar

Sentia sono mas apetecia-lhe o calor reconfortante do abraço, como quem sente o ar frio vindo do alto da montanha, projectado contra o nariz, e descobre que é capaz de respirar fundo para, em seguida, deitar cá para fora palavras sentidas, capazes de serem ouvidas na altitude e ao nível do mar.

Thursday, February 3, 2011

o meu tigre e a neve...



…amanhã, feliz e contente!

Wednesday, February 2, 2011

exacto

Eu, em estado cansado acumulado e melancólico, ponho-me a ler Fevereiro e já havia tanto ali, apesar de tudo o que estava por descobrir e do tanto que havia para mudar a minha vida.
Para o dilema as soluções são múltiplas, mais que muitas, o que importa é o resultado e esse é exacto.