Saturday, October 30, 2010

do outro lado do mundo

Enquanto ela acordava lá, adiantada, ele adormecia, tardiamente, do lado de cá. Entre o final da noite e o início do dia, marcados pelo girar do sol em volta do berlinde perdido, encontravam-se no pensamento. Lá, como cá, fazia frio, uma temperatura pouco agradável para a conjectura do que eram, um para o outro. Cá, como lá, com toda aquela distância de permeio, a vontade de serem mais. Lá e cá, o desejo de que tudo esteja bem, do outro lado do mundo.

Thursday, October 28, 2010

Mad Women

As miúdas da agência de publicidade que sobem comigo no elevador, em cada manhã, começam por ter um ar fresquinho e bem-disposto. Parecem confiantes e cheias de vontade de acontecer. Regra geral, nesta fase, dizem-me “bom dia” com um sorriso simpático e (eu acho que) pensam: “Olha, que executivo engraçado!”
Um mês passado já têm um ar um bocadinho desgrenhado e nota-se que vão quase sempre agarradas ao Blackberry com ar preocupado e nervosamente atrasadas para qualquer coisa. Já não há cá “bom dia” para ninguém.
Quando as volto a encontrar, ocasionalmente, vários meses depois, apresentam-se com um ar gasto, olheiras despreocupadas e involuntariamente mal-encaradas. Qual “bom dia”, qual quê!
Depois desaparecem subitamente e para sempre, deixando-se substituir por outras em algum dos estágios anteriores. O mundo da publicidade criativa deve ser tramado e com altos índices de rotação.


melhor

Gosto do conceito “Best of”. Aprendi ainda miúdo que é importante distinguirmos o melhor da vida do “assim-assim”, sem os confundir. O “Best of” não tem que ser único ou inequívoco, seria triste se assim fosse, e depende, obrigatoriamente, do estado de espírito e do estágio da vida em que nos encontramos. Há momentos próprios para cada “Best of” e por isto mesmo é-nos possível marcar vários “Best of” que são mesmo do melhor. Hoje, apeteceu-me marcar os “Best of” deste blog, correlacionados com esta vida, ali ao lado – nos labels.

Wednesday, October 27, 2010

excertos #7

12

Clavo mi remo en el agua
llevo tu remo en el mío.
Creo que he visto una luz
al otro lado del río.

- Jorge Drexler en "Al Otro Lado del Río"


Saio para a noite de Lisboa com o Tomás e o Guilherme – já não fazia isto há tanto tempo que me parece estranho. Apesar do cabelo demasiado curto, vale-me o bronzeado notável e a boa forma física para ganhar confiança. O “spot” esta noite está “hot”. Miúdas giras, também bronzeadas, com ares saudáveis – vantagens do verão. Nós os três temos bom ar, apesar das idades acumuladas. Comentamos que em somatório, perfazemos 106 anos – já fazíamos um velhote rígido a desafiar a cova, mas dividido em três dá no charme dos trinta-e-alguns com estilos diversos. Um quase careca, o outro com muita barriga, e eu, bem, ainda “bem conservado” – que trio… As miúdas dos vinte-e-poucos reparam, as miúdas dos vinte-e-muitos aos quarenta-e-qualquer-coisa, vê-se que gostam. Nós comentamos as que passam – os homens nestas coisas conseguem ser realmente parvos. Deveras.
Rodadas de bebidas brancas, pedidas à vez aos miúdos, demasiado jovens, atrás do balcão. Surgem caras conhecidas, trocam-se dedos de conversa e algumas apresentações. Troco olhares com uma morena gira com o cabelo preso atrás que deixa ver uns brincos com estilo. Sinto-me bem e arrisco meter conversa. Ela está com uma amiga, que fica meio pendurada, enquanto eu lhe falo ao ouvido. Cheira bem, o que é sempre um bom princípio, e sorri com o que lhe digo – conversa fiada. Pergunto-lhes se querem juntar-se a nós e elas dizem que sim. Passamos às apresentações, a morena chama-se Cláudia e a amiga Rute, comentam que é a primeira vez que ali vão e que depois seguem para o Lusaka. Ah, o Lusaka… há 10 anos atrás era uma varanda de encontros. Contamos-lhes a história, gasta, de quando eu e o meu amigo, agora quase careca, entrávamos pela porta da direita porque achavam que éramos gays. Elas acham-nos graça e a amiga da morena, pispirreta, pergunta se o éramos mesmo. A conversa flui ao sabor das parvoíces que saem naturalmente quando tudo parecem possibilidades. Para acompanhar a situação, o DJ passa uma música que diz “…so tell the girls that I’m back in town”.
E então, do nada, para me deixar sem refúgio, vejo-a. É mesmo ela, com os amigos que lhe conheço e apresso-me para sair dali, quase a correr para não a reencontrar.

Lógica singular (post de gaja!)

A vantagem de não estarmos juntos é não te sentir mais (tanto) a falta quando vais de viagem. De outra forma, terias mesmo que me levar junto com a tua mala (sim, eu pagaria pelo excesso de bagagem).

Tuesday, October 26, 2010

os consumistas pessimistas, i.e., os tugas

Em tese, estamos em crise, certo? Para contrariar a tese no último fim-de-semana – pico do já-torrámos-o-vencimento-todo-do-mês-e-agora-o-que-fazemos?:
- Fui ao melhor oriental-degustação de Lisboa – carote – e aquilo estava cheio e com reservas pela noite fora.
- Saí para o Bairro e a fauna enchia de tal forma as ruas que foi difícil circular.
- Tive que ir encher o depósito do bólide e estive 15 minutos para chegar a minha vez, tantos eram os tugas a abastecer.
- Fui almoçar ao melhor peixe fresco da capital – caro, mesmo caro – e a varanda estava populada de famílias encantadas com as regatas.
- Quis ir ao hipermercado e nem me atrevi a estacionar, tanta era a gente a concorrer na catedral do consumo – ok, depois explicaram-me que havia 10% de desconto.

Ah sim, mas as estatísticas é que contam – até prova em contrário:



Quid crisis? Os tugas podem até ter abdicado de manter os filhos em colégios particulares, mas o desvario consumista persiste.

Sunday, October 24, 2010

a auréola negra dos meus olhos

Estes olhos castanhos, muito normais mas pretensiosamente distintos, têm uma auréola negra que já me disseram meter medo e a quem uma apreciadora de ópera chamou de “Anel do Nibelungo” – na ocasião, era um trocadilho, muito erudito, entre o Ricardo e o Wagner.
Fora de horas, observo-a no espelho, a esta auréola negra, e concluo que mais parece um anel forjado para se fixar, até à eternidade e com a pupila bem dilatada, na cor castanha e verde dos teus olhos. Sim, são mesmo os teus… Será que me percebes?

Thursday, October 21, 2010

Apresentar

Mais um verbo dos meus. Ao fazer apresentações profissionais sou capaz de embalar um Conselho de Administração inteirinho. É um dos meus skills de consultor bem treinado. Hoje foi dia de uma actuação destas. Eu e o .ppt de 6 mil euros por página diante dos Administradores de uma grande Empresa portuguesa oblívia à “Crise” (qual crise?). Eu e a grande apresentação dos resultados do projecto que me ocupou todo o verão. Eu a sentir-me a pregar aos peixes: o ex-político fazia que sim com a cabeça, o das perguntas inusitadas, logo no início, literalmente a dormir quando cheguei a meio e o Sr. Presidente a bocejar à descarada. No final: “…muito boa apresentação!” e eu com vontade de perguntar “ah, a soneca soube-lhe mesmo bem, foi não foi?”. Rico “show business” – continuem a pagar-me para isto… que eu gosto.

Ainda em Italiano

Nos tempos dos colégios de verão conheci um Italiano de nome Francesco Reggiani. Cabelo encaracolado, inglese sofrível, milanese sorridente, apaixonou-se naquele verão por Marta, uma espanhola de Madrid, super-simpática, soberba em quase tudo, mas que não estava para ali virada. Durante 3 semanas, partilhámos um quarto demasiado próximo da porta onde os alarmes de incêndio não tocavam, motivando as escapadelas nocturnas. Invariavelmente, ao final de poucos dias de companheirismo, obrigava-me a partilhar os seus devaneios amorosos, em inglês macarrónico, levando-me à risota por cada vez que dizia “shi’is so prity, I think I’m inlove”. E eu, naquele tempo, pensava: o amor é simples, simples como só os latinos o sabem exprimir.

Wednesday, October 20, 2010

Procurar e encontrar

Na manhã em que sentiu uma vontade enorme de a procurar, soube, logo ao acordar, que não seria dia de a encontrar.
Inspirado, havia voltado a sonhar com ela e com um mar azul, no sul de Itália. Uma praia de areia espessa, daquela que não deixa marcar os passos para se reconhecer a origem e o destino, mas em que sabe bem deitar o corpo, plantado ao sol. Um sol luminoso mas pouco dourado, suave com os olhos sem a protecção dos óculos-de-sol. Um chapéu de palha para a proteger e um cesto cheio de fruta fresca para a satisfazer, ciliegie e albicocche, como lhes chamara o rapaz do hotel. E aquela linha do horizonte, magnífica e bem marcada sobre o infinito azul, observado sobre as curvas deliciosas do corpo dela.
Mas pressentiu-a ainda mais distante, no espaço e no tempo que os separava, deixando-se encantar apenas pelo facto de pressentir que ela também gostaria de o encontrar assim.

da frescura do cinema Europeu



Por vezes andamos tão absorvidos com o realmente importante e pelos “fast flicks” que vêm do outro lado do “charco” que nos esquecemos da frescura do cinema Europeu: “Mine vaganti”, que algum essere scarsamente illuminato decidiu chamar em português de “Uma família moderna”, entra directamente para o 1º lugar dos filmes que fui ver em 2010 – muito recomendado, de preferência sem ler a sinopse. E fiquei com vontade de ir conhecer Lecce.

Monday, October 18, 2010

Antecipar (porque quando o subconsciente não aguenta a espera, decide sonhar)

Queria muito abraçá-lo mas ia resistir. Por isso, agarrava-lhe as duas mãos com força, segura, e olhava-o de frente com os olhos bem abertos:

- Diz-me, o que queres de mim?
- Miúda, há uns dias atrás pus estas mãos – que agora estás a agarrar com tanta força que me começas a magoar… e estou a falar a sério, por favor, não as apertes tanto! – em “ponto de reza”, assim com os dedos perfeitamente encostados uns aos outros, em simetria, e pronunciei o teu nome bem alto, projectando a voz para ser ouvido. Depois, fiquei a sentir-me parvo de todo, porque como tu sabes não acredito nada no efeito prático destas coisas.
- E…?
- E nada, foi estranho ter feito aquilo e agora estar aqui, assim, contigo. Quase me leva a desconfiar de certas convicções que tenho como muito minhas.
- Sim, e voltando à minha pergunta, de que pareces estar a querer fugir...
- Não, eu não fujo. Fugir não é um verbo meu. Gosto é de perceber e explorar com exactidão as impressões que me surgem de vez em quando e que, de repente, num determinado contexto ou situação ainda me conseguem surpreender.
- Vá lá… não divagues. Já sei que estás a tentar ganhar tempo, mas responde-me!
- O que eu quero para nós é complexo. Bom, mas também difícil e não te quero assustar. Prefiro que comecemos pelas partes simples e que vamos construindo a partir daí. Por agora, apetece-me estar contigo. Sair contigo, trocar ideias, sentir-te, ter a tua companhia. Tu sabes, aquela parte do namoriscar. Não posso partir do pressuposto de que há uma base maior para o que podemos ser. Mas também sei que cá dentro, continuo cheio de sentimentos bons por ti, que não fui capaz de expurgar. E compreende que eu tentei. Apeteces-me, como nunca ninguém antes, é o que é. E sim, francamente, tenho receio que seja pela forma como deixámos as coisas acontecerem. No entanto, acredito nisto e eu sou irrepreensível com este verbo, mas isso tu já sabes. Por isto tudo: não voltes a fugir, deixa-te sim vir ter comigo…
- Abraça-me, com força!

Sunday, October 17, 2010

a minha fase “Noir”

Decido chamar-lhe a minha fase “Noir”: esta semana encomendei um carro preto com os estofos em pele negra, comprei bilhetes para o Wim Mertens, ex-líbris do minimalismo, e fui ver uma exposição de Arquitectura redutora na Trienal de Lisboa. Que vidinha interessante…
Tenho um amigo e antigo colega de trabalho, que é talvez o melhor consultor que já conheci – depois de mim próprio –, que oscilava entre os .ppts pintados com demasiado laranja e os carregados de preto e cinzentos. Quando lhe saíam os últimos, eu metia-me com ele, dizendo-lhe: “João, estás outra vez na fase Noir!”; e ele ria-se com a minha observação. Entre as muitas ideias que partilhamos, temos em comum o gosto pela música clássica minimalista, Nyman, Glass e Mertens, e pela Arquitectura redutora. Somos uns intelectuais, o João e eu!

Saturday, October 16, 2010

chegar

Chego de mais um jantar destes, que me animam as noites, bem passadas entre amigos. Gosto do regresso do Outono em que toda a gente tem vontade de se rever, contar histórias banais mas também entretidas, as últimas novidades de quem já não via há algum tempo. É este o meu conceito de socializar, estar com os meus e mais duas ou três caras novas. Saber como estão, ficar a par do que fizeram, por onde passaram, para onde vão. Ontem estive com uma das grupetas, hoje com outra e amanhã tenho mais um. Mas estranhamente, ou nem tanto, é no momento em que chego a casa e me volto a encontrar sozinho, comigo próprio, que te sinto mesmo a falta. A falta que só tu me fazes, nesta história absurdamente inacabada.

Thursday, October 14, 2010

O “clique”

O “clique” é aquele momento instantâneo e único em que sabemos tudo o que há para saber, convictamente. Aquela fracção de tempo infinitesimal em que tudo se revela como tem que ser, perfeito. A sensação e a certeza do saber proprietário, sem dúvida e sem hesitação, inexplicável.
Acho que nos acontece duas, vá, três vezes no máximo, ao longo de toda uma vida. Mais vezes, implica não ser um “clique” verdadeiro. O “clique” verdadeiro chega a ser místico, essencial e profano de tão profundo. A partir deste “clique” temos uma alma ligada à nossa, muitas vezes para sempre. Deixamos de apenas sentir para pressentir, não importa a distância, não importa o passar do tempo, somos capazes de saber.
Privilegiado que sou, aconteceu-me (mesmo a mim que não acredito nada nestas coisas) e estou certo (porque este “clique” é, ou foi, primordial) que do outro lado da ligação etéreo-cósmica também se sente assim. Sem princípio e sem fim à vista.

Tuesday, October 12, 2010

coisas que todos sabemos, sem razão

Já todos sabemos que estas coisas são mesmo assim. Quando nos parece que queremos, afinal descobrimos que não queremos tanto. No dia seguinte, justificamos que “não, não queríamos nada”. A uma semana de distância, passamos ao estado “parvo, fui um parvo… queríamos tanto”. Seguem-se os tempos de confusão difusa, a oscilação do “sim, queríamos a sério” e do “não, não queríamos mesmo”. Esta é a fase em que o tempo custa muito a passar. O tempo em que não há entretém ou substituto para o que achamos que “queríamos realmente”. É também o tempo em que o subconsciente desperta com partidas incógnitas, o tempo das vontades instáveis que nos levam a errar, uma vez após outra. Então, chega-se ao estágio do “nada a fazer… isto passa” e à técnica do “So miss her. Send her some love and light every time you think about her, then drop it.”. Alcançamos, então, algum equilíbrio que parece aceitável, com o tempo todo que passou, mas com este chegam os dias disparatados e aleatórios em que do nada, voltamos a querer, sem razão.

Monday, October 11, 2010

brilhante

“people are programmed to desire, not to appreciate”

Gosto de ideias brilhantes. Aliás, gosto de pessoas brilhantes, capazes de considerações ou constatações simples mas nada óbvias até nos pormos a pensar realmente sobre elas. Esta é brilhante.

Saturday, October 9, 2010

A Quinta

Passeio pelo Chiado numa destas primeiras noites de Outono e dou por mim ao lado do Convento do Carmo ao pé de um restaurante que antigamente se chamava “A Quinta” com uma vista magnífica sobre a cidade. Recordo-me que vinha aqui muito, quando era miúdo. Hoje em dia é uma pizzaria que não tenciono experimentar mas ainda tem as janelas com aquela vista magnífica para a cidade.

incommunicado

Ontem ao início da noite o meu BB deu o badagaio e fiquei “incommunicado”. Hoje quando consegui ressuscitar o BBicho, descobri que ela me tinha tentado contactar 11 vezes. Apesar da ressaca e da ameaça de mais chuva, fiz-lhe o carinho e convidei-a para o melhor late brunch de Lisboa no Royale. Salada casino e chá frio (sem hortelã) para acalmar o estômago. Passeio amigo pelo Chiado e Sachertorte na Kaffehaus para fechar uma tarde boa.

Les nits de dijous a Barcelona

Vivi quase um ano em Barcelona. Durante aquele quase ano que atravessou todo um Inverno, não choveu em Barcelona. Fez frio, muito, e até nevou mas não houve um único dia em que a chuva caísse do céu. Guardo na memória aquele estereótipo de cidade em que a chuva não aparecia, Barcelona. O meu quase ano de Barcelona, sem chuva, ficou marcado pelas noites loucas de quinta-feira em que invariavelmente, saíamos para jantares fabulosos, condimentados de mexicano, entre a Via Augusta e a Diagonal, ou pela experiência da cozinha basca entre Pi e o Barrio Gótico. Seguiam-se copos e conhecimentos fugazes no Otto Zutz, música ao vivo e dançar até de madrugada no Bikini, mesmo a dois passos de minha casa. Eram noites de “cubatas”, caras bonitas, corpos devassos, bandas locais e de “Parli'm una mica de catalã?”. Hoje apanhei duas “molhas” em Lisboa, onde por vezes a chuva parece interminável, e senti saudades dos tempos de Barcelona.

Vaig viure gairebé un any a Barcelona. Durant aquest any que va durar gairebé tot l'hivern, no plou a Barcelona. Feia fred, massa, i fins va nevar, però no un sol dia la pluja va caure des del cel. En la meva memòria d'aquest estereotip de ciutat on la pluja no va aparèixer, Barcelona. El meu gairebé tot l'any a Barcelona, sense pluja, va estar marcada per les nits boges de dijous en el qual sempre va anar a un sopar esplèndida, el mexicà picant entre la Via Augusta i Diagonal, o l'experiència de la cuina basca entre Pi i el Barri Gòtic. Després van venir les copes i fugaç coneixement a Otto Zutz, música en viu i ball fins a la matinada en Bikini, a poca distància de casa meva. Hi va haver nits de “cubatas”, bells rostres, cossos immorals, bandes locals i “Parli'm una mica de catalã?”. Avui vaig agafar dos “pluja” a Lisboa, on la pluja sembla no tenir fi, i trobava a faltar els temps de Barcelona.

Friday, October 8, 2010

Partir

De vez em quando desafiam-me para partir. Partir de vez. Tenho amigos em alguns cantos do mundo: Nova Iorque, Boston, Barcelona, Londres, Holanda, Cidade do México e Singapura. Tenho conhecidos espraiados pelo planeta, que me ofereceriam abrigo: Brasil, Chile, Japão, Indonésia, Angola, Dubai e mais alguns destinos. Tenho um curriculum invejável que me proporcionaria um futuro, diferente, e por vezes apetece-me mesmo, partir. Partir, sem pensar muito no que deixaria para trás. Mas depois penso como esta cidade, este país, estas gentes conseguem ser únicas e encantadoras e deixo-me ficar.

Thursday, October 7, 2010

a tese (post sério)

Passo o jantar, profissional, à conversa com o Administrador de uma das instituições de maior prestígio do país. Republicano convicto, laico e de símbolo maçon na lapela, explica-me a sua tese de que o problema do Portugal contemporâneo, republicano e falido, não passa de uma questão psicológica. Diz que apesar do grau de abertura ao mundo, da facilidade com que aceitamos perspectivas diferentes e da capacidade de enfrentarmos o desconhecido, que ele defende ser inata ao povo que somos, afinal não fomos capazes de nos adaptarmos à globalização. Diz que mais valia termos encharcado uma agência de imagem internacional com os muitos milhões que o crédito concedido nos está a custar, projectando a ideia de um país moderno, preparado e com estatísticas sobrevalorizadas, do que deixarmo-nos comparar com os gregos. Diz que nos falta a confiança, a sobranceria e a vontade de enfrentarmos as adversidades impostas desde fora. E eu, monárquico não convicto, descendente de facções confusamente absolutistas e liberais pelo lado materno, que se guerrearam há uns séculos atrás, admiro-lhe a análise, como nem sempre acontece com os espécimes seus pares que vou conhecendo.
Quando saímos do restaurante, chove cá fora e ele encerra a noite com uma frase sábia: “… o desaparecimento das estações intermédias, Primavera e Outono, também não ajuda ao estado da nação.”

Wednesday, October 6, 2010

Eat Pray (or) Love

Levam-me ao cinema para ver este “chick flick”. Lamechas q.b., parece-me inevitável que toda a gente se reconheça em alguma parte da história, porque é sempre fácil quando não se trata da nossa e há sempre algum pormenor que parece muito nosso.
Exemplos fáceis de entender, mesmo sem imagens (*):

“People think a soul mate is your perfect fit, and that's what everyone wants. But a true soul mate is a mirror, the person who shows you everything that is holding you back, the person who brings you to your own attention so you can change your life.
A true soul mate is probably the most important person you'll ever meet, because they tear down your walls and smack you awake. But to live with a soul mate forever? Nah. Too painful. Soul mates, they come into your life just to reveal another layer of yourself to you, and then leave.
A soul mates purpose is to shake you up, tear apart your ego a little bit, show you your obstacles and addictions, break your heart open so new light can get in, make you so desperate and out of control that you have to transform your life, then introduce you to your spiritual master...”

“This is a good sign, having a broken heart. It means we have tried for something.”

“To lose balance sometimes for love is part of living a balanced life.”

“- But I love him.
- So love him.
- But I miss him.
- So miss him. Send him some love and light every time you think about him, then drop it. You’re just afraid to let go of the last bits of David because then you’ll be really alone, and Liz Gilbert is scared to death of what will happen if she’s really alone. But here’s what you gotta understand, Groceries. If you clear out all that space in your mind that you’re using right now to obsess about this guy, you’ll have a vacuum there, an open spot – a doorway. And guess what the universe will do with the doorway? It will rush in – God will rush in – and fill you with more love than you ever dreamed. So stop using David to block that door. Let it go.”

(*) o filme tem também grandes imagens da mais bela cidade do Universo.

Tuesday, October 5, 2010

kaleidoscope from London

So, one of his girl friends brought him a kaleidoscope from London as a late birthday present, and as he was laying on his bed, he decided to put off his book and concentrate on the little images shining through the tube.

Friday, October 1, 2010

as confusões

Saio para jantar com o passado e encontro o futuro, em dia de aniversário na companhia de dois amigos (que espero sejam gays). Chateio-me porque afinal é o presente que não me sai da cabeça e já me chegavam as confusões. Pisco o olho, declaradamente, ao futuro, enquanto saio do restaurante com o passado, e ela responde-me “beijinhos”. Enquanto estaciono na garagem, recebo uma mensagem. Quero que seja do futuro, mas penso outra vez no presente, apesar da improbabilidade, e chateio-me outra vez comigo mesmo. É mesmo do futuro e eu penso: “mais instável que isto, é difícil”.