Friday, April 30, 2010

My new life...

My new life is surprisingly imperfect. Time seems to fall short and synchronism fails us, again. I dream of you and me laying very still on a beach. Both of us enjoying the perfect sound of the waves and each other’s presence. I picture us kissing warmly while the sun sets on the sea horizon. I see us wishing for a future that is still to come. You feeling sleepy while my right hand caresses your golden long hair. You smiling and me desiring you, your semi-tanned skin and its sweet scent that flutters my existence. The strange shadows your beautiful body casts over my own skin. The small talk of kids playing with sand. The sense of happiness all-around. The extent of perfection drawn upon the curves of your neck. Your eyes searching for mine.

os códigos

Encontrou-a no meio do deserto de gente anónima. Deixou-se seduzir por ela, entre os estereótipos que a tinham conhecido e abraçado ao longo do tempo. Sentiu-se apaixonar pelos códigos que eram só deles os dois. Amou as entrelinhas e as perspectivas a que ela dava tamanha importância. Não hesitou em viciar-se naquelas conversas ao final da noite. Apreciou cada minuto miúdo que passou com ela ao sol ou nas primeiras noites quentes do ano. Ofereceu-lhe o livro que para ele era sagrado, inscrevendo cuidadosamente a dedicatória que seria só dela. Soltaram-se com um abraço e gostaram do primeiro beijo imperfeito. Gostam do aconchego quando dormem juntos e ele sonha com ela mesmo deitada a seu lado. Amam-se com tudo o que a vida já lhes ensinou e quando ela lhe pergunta se é para sempre, ele sente-se eternamente apaixonado pelo seu sorriso único.

Wednesday, April 28, 2010

a novela mexicana (ou o reality-show?)

Ele acordou mal dormido mas ainda assim descansado. Ainda macambúzio, reconheceu-se no espelho e reparou nas grandes olheiras que trazia do sono. Tomou o seu duche matinal e quando se plantou, novamente, diante do espelho para fazer a barba deu-se conta do magnífico terçolho que assolava o seu olho esquerdo. Sentiu-se arreliado e inconsistente. Já fazia muito calor naquela manhã, demasiado verão para o mês de Abril. Aconchegou-o o CD tocado no carro: “This is not a love song... I'm adaptable and I like my new role...”. Por oposição, desconfortável com a queda da bolsa e o dinheiro que perdia em menos de 2 horas de mercado. Recebeu o primeiro SMS já passava da tarde e sentiu-se novamente adolescente por cada vez que escolheu o “Send” em mais uma mensagem para ela. Apaixonado, até ver. Quem sabe, para sempre. Sentiu-se apanhado pelo grande sorriso que lhe rasgava o rosto e recordou com vontade a meiguice dela, imaginando-a ao sol a olhar o mar com o telemóvel na mão...

Monday, April 26, 2010

melancólico até à exaustão

Naquele verão voei para Berlim sentado no lugar 23F de um Fokker 100 sem ninguém a fazer-me companhia. Passei as 3 horas da viagem a espreitar pela janela, desperto pelo ruído monótono e ensurdecedor dos motores, a observar a paisagem por entre um céu cristalino sem a sombra de uma única nuvem. Sentia-me vazio e absolutamente insensível, incapaz de me deixar maravilhar pela imagem dos campos da Alemanha – ninguém deveria deixar de viver sem ver os campos da planície alemã a 30.000 pés – esplendor máximo de civilização entrecortados a castanho e verde. Pensava em mim, puramente em mim, e onde o destino perdido me levava. Sem qualquer fulgor da alma, sem qualquer resquício da minha personalidade. Ausente naquela manhã de ausência com o sol nascente pela frente. Era eu e só eu, a imaginar vidas passadas, até que na distância surgiu a metrópole espraiada pela imensidão da Prússia e cortada pelas curvas do Spree e eu acordei para a vida real.

Sunday, April 25, 2010

não sabe a nada

É oficial, sair à noite depois de “ontem” não sabe a nada. Procuro-te em vão entre as caras que passam, cheio de esperança e de vontade que me venhas resgatar. Consulto o BB a cada sensação de vibração, na expectativa de mais um “aqui, agora” que me faça abandonar a causa dos copos com os amigos. Aposto na probabilidade ínfima do “por acaso” mantendo o sorriso adolescente porque estou mas é a pensar em ti. Entretenho a conversa porque me sinto feliz, em modo agri-doce, quando na realidade anseio pela teu sorriso e companhia novamente. E gosto tanto disto, da sensação dos químicos auto-gerados e das endorfinas únicas que despertaste em mim.

Saturday, April 24, 2010

O teu charme

Tu tens aquela graciosidade que me faz acreditar na perfeição. A maneira de estar que me faz sonhar. O sorriso que é tudo o que se pode pedir à vida e a gargalhada bem colocada. A destreza transformada em beleza e a expressão leve como o levante quente, vindo do sul. Emanas felicidade e vens cheia de complexidade. Trazes contigo o aroma do deserto perdido no castanho e verde dos teus olhos. És sofisticada mas gostas de chá com casca de limão. As tuas histórias conduzem-me suavemente pelo desconhecido e ao desejo de saber mais. És impertinentemente meiga e suave quando me ofereces o conforto de uma almofada. Quero deixar-me levar e apaixonar-me. Apetece-me dar-te a mão e mimar-te até à exaustão.


In a Manner of speaking
I just want to say
That I could never forget the way
You told me everything
By saying nothing

In a manner of speaking
I don't understand
How love in silence becomes reprimand
But the way that i feel about you
Is beyond words

Oh give me the words
Give me the words
That tell me nothing
Ohohohoh give me the words
Give me the words
That tell me everything

In a manner of speaking
Semantics won't do
In this life that we live we only make do
And the way that we feel
Might have to be sacrified

So in a manner of speaking
I just want to say
That just like you I should find a way
To tell you everything
By saying nothing.

Oh give me the words
Give me the words
That tell me nothing
Ohohohoh give me the words
Give me the words
That tell me everything

Thursday, April 22, 2010

Verão 1991

Naquele ano eu quase me afoguei em São Martinho. Eu e o Francisco, fizemo-nos ao mar na baía mas este estava calmo demais e a brisa era pouca. Demos por nós parados bem no meio da concha quando o barquito começou a meter água. Saltámos borda fora para não afundarmos a embarcação e nadámos sem coletes com a barcaça a reboque. Quando alcançámos a praia estava enregelado até aos ossos e sentia a barriga cheia de água salgada. Naquele verão eu portei-me mal contigo. Deixei-me enfeitiçar por uma loirinha gira, perdi ao ping-pong com o “outro amor da minha vida” e deslumbrei-me com a liberdade das férias de rapazes. Fizemos muitos disparates: alta-velocidade pelos pinhais de São Pedro de Muel sem luzes, confusões nos torneios de snooker da Foz do Arelho, banhos de espuma na Green Hill, ao som do “Losing my Religion”, sem fé nenhuma, e desintoxicações no hospital das Caldas. No dia em que me foste visitar, convidei-te para um jantar romântico com vista para a baía mas acabámos a discutir numa tasca da vila. Tu fugiste para Palma de Maiorca e eu fui de visita para Roma que amei. Quando regressámos, eu vinha doente com uma pleurisia e tu com a pele esturricada pelo sol e chamei-te ovo estrelado. Caímos nos braços um do outro, nos jardins do Campo Grande, e tu estavas tão bonita e eras tudo o que eu pedia à vida, mas nada, nunca mais, voltaria a ser como dantes. E eu hoje, abraçava-te enquanto caminhávamos, e pensava para os meus botões, porque nos perdemos em 1991...

A minha montanha russa (ainda lamechas, isto passa-me)

Na minha montanha russa tu és a equilibrista. Quando parece que vou cair, tu hesitas. Quando vamos a subir, tu encantas-me. Quando o carrinho acelera e eu anseio por saber o que vem a seguir, perdemo-nos em subterfúgios. Quando o ar custa a respirar, deixamo-nos levar e a imensidão do tempo que falta parece maior do que o espaço que nos separa. Falta-nos o sincronismo e falha-nos a vontade. Eu gosto da emoção do desconhecido e tu gostas da certeza do adquirido. Mais uma voltinha? Está bem, vamos lá!


Monday, April 19, 2010

Suavemente lamecha (para não variar)

Cheguei a casa depois de uma noite “suave”. Fui jantar ao restaurante da moda e gostei muito. Isto pode não parecer romântico, mas pensei em ti entre cada garfada dos filetes de linguado enrolados em vieira. Lembrei-me da tua gargalhada a cada história engraçada que me contavam. Especulei o nosso “por acaso” em cada loirinha que me olhava. Insistiram em falar-me da vista do Silk e eu ri-me a bandeiras despregadas. Gritaram o teu nome ao longe e eu corri para ver se eras tu. Pareço um adolescente demente e isso reflecte-se no excesso da minha produção literária de fraca qualidade. Se a minha vida podia andar mais baralhada do que isto? Poder podia, mas não seria tão divertida.

Sunday, April 18, 2010

Schwarz-Weiß-Welt

Quando eu nasci não havia televisão em casa dos meus pais – deviam achar-se muito intelectuais ou hippie-fashion e só tocavam música no gira-discos. Talvez para o miúdo não ficar totalmente alienado, quando tinha uns 4 anos fizeram-me o favor de comprar um pequeno aparelho Grundig-design cuja parte da frente era toda ecrã, a que eu chamava de cubo branco – muito precoce com as formas geométricas! – e onde via os desenhos animados que vinham da Checoslováquia. Por alturas da invasão Espanhola com o “Naranjito” e o “Verão Azul” o cubo branco foi substituído por uma televisão a cores que me levou a perguntar se o mundo real era a cores ou a preto e branco – meio retardado com a percepção das cores! E hoje estava a ver uma tele-reportagem sobre o advento da televisão 3D made in Korea e a imaginar se os miúdos se colocarão a mesma questão sobre as dimensões do mundo...

BlackBerry Blinking

As I was wakening, the red LED blinked at me four times. As it happens ever since I fell for you, it was your beautiful smile I thought of, definitively wishing for some news, a new text message or e-mail. Sigur Ros was playing on the radio and a strange character was sitting by my side. I didn’t feel like talking but the man needed to be listened to. He introduced himself but I was unable to catch his foreign name. He started talking about the end of the world because on the southern part of Iceland Eyjafjallajökull had abruptly erupted and it was meant to cast a new age of darkness over the continent. He made remarks about what a beautiful place Europe was and I agreed. He went on, predicting that as the cloud of dust fills the sky, people will turn themselves inward once again, and mysticism become king. That human spirit shall surrender itself to the wilderness of times to come. That even if everyone dreams of “par-delà les nuages”, there will be no more sun over the Mediterranean beaches. And all this kind of demise he was describing made sense to me as a return to the 19th century. It’s the end of the world as we know it (And I Feel Fine).


boatos

Muito pior do que os rótulos, de que até gosto, são as conclusões absolutistas e finais que me irritam. Hoje disseram-me que um velho amigo está “agarrado” à cocaína e que outro menos íntimo é alcoólico. E eu que nestas coisas não sou de me ficar e dar por aceites as certezas de quem traz as novidades, ponho-me a desfazer o novelo para facilmente concluir que o diz que disse (fundamental para manter a atenção da audiência) não passa, a maior parte das vezes, de uma premonição frugal de quem tende a entreter-se com as desgraças alheias (e que quem conta um conto, acrescenta um ponto). “So what?” se o meu velho amigo frequenta festinhas animadas pelo pó branco, isso não faz dele um drogadito e o menos íntimo também não caiu em desgraça só porque frequenta reuniões de anónimos, porque por si só isso demonstra consciência. E eu gosto de pessoas bem formadas e não suporto boatos.


Saturday, April 17, 2010

hoje

Quero um sábado tranquilo. Curar a ressaca e afastar-te da cabeça, tirar-te do sistema. Doem-me as órbitas dos olhos e falta-me o sentido do equilíbrio. Quero parar um bocadinho, ficar quietinho a sentir-me vazio. Não sei nada de ti há demasiadas horas. Como eu, deves ter passado a noite na rambóia ou então voaste para longe. Quando cheguei tu não estavas e eu queria tanto que nos tivéssemos encontrado. Mas hoje não sou boa companhia, tenho o sangue por destilar. E apesar de tudo, sinto-te a falta.

Friday, April 16, 2010

You're the measure of my dreams

Isto está a ficar pior que mau. Entre o desejo, o querer e a expectativa, para além de viverem alucinados com o "dance with me... little stranger" a tocar no iPod, os meus neurónios decidiram entrar na fase da fantasia semi-erótica. Imaginam-nos em carícias entre lençóis muito brancos. Eu a beijar-te o pescoço cheiroso, encostando-te cuidadosamente contra a parede. Nós a caminho da praia, ora contigo a conduzir e eu concentrado em ti, maravilhado com o teu sorriso, ora comigo ao volante e tu a achares graça à conversa. Eu e tu a descermos as dunas com as mãos presas apenas pelas pontas dos dedos. Tu a resmungar carinhosamente comigo porque queres companhia para ir a água e eu a insistir no esturricar. Tu encostada no meu regaço a folhear uma leitura qualquer. Eles a partilharem os headphones contigo, apreciando a música em mono, satisfeitos. Nós de regresso à cidade com a brisa a correr sobre o rio. Eu e tu a sacudirmos a areia dos pés, em competição pela água tépida do chuveiro. Eu a passar-te o sabão pelas costinhas e a reparar na textura bonita da tua pele, enquanto seguras o cabelo. Nós a sairmos para jantar, fresquinhos apesar do calor do verão. Tu de vestido giro, eu de bermudas com a pele a estalar. E Lisboa cheira bem, como nem sempre acontece, a alfazema e a água doce. Nós a caminhar de mãos dadas, apaixonados pelo que a vida tem para nos dar.

Thursday, April 15, 2010

Hi Ricardo! Here is your Daily Horoscope…

Sei que despertei 1 hora depois, olhei para o relógio vi 4h06 e desesperei atordoado a pensar que ainda não tinha dormido nada. Na verdade era apenas 1h06 e quando acordei mesmo, perto das 8, sentia-me fresco que nem uma alface. Duche, barba, gravata e corrida para o escritório. Estive muito bem na reunião com o COO global e com o CEO cá do burgo. Marquei os pontos todos e senti-me brilhante. Eu gosto de me sentir brilhante, fico confiante e com vontade de desafios. Aproveito para enviar um mail pertinente para o CBDO – isto dos “chiefs” disto-e-daquilo diverte-me! Fast-lunch by Go natural e entrevista com uma candidata que espero venha a ser a nova Manager da equipa, em crescimento. “Tiro a tarde” para ir ouvir um dos capitalistas de sucesso em Portugal, num evento promovido por uma faculdade. Conta a história de quando começou como trainee na Alemanha e não gostava da Schnaps que lhe ofereciam. Está velhote mas ainda assim é brilhante e encanta a assistência repleta de estudantes, que espero também venham a ser brilhantes. Passo por um supermercado e divirto-me a observar uma jovem “veggie” que arruma cuidadosamente os brócolos, a beringela e a salada “ready-made” no seu cesto ecológico de serapilheira. Estranhamente, tem um poodle que deixou “atracado” junto à caixa. Encarno o espírito, e a sugestão de quem acredita nestas coisas, e procuro o meu horóscopo na web – curiosamente, tem tudo a ver:

“Strangely, you don't seem to care much at all whether your new crush is mutual -- you're just enjoying the ride. Your motives are pure and your actions are direct, so you're definitely on the right path.”


Sunday, April 11, 2010

Casa dos Espíritos

Como esta tarde recordavas, eu e tu entramos num filme: “A Casa dos Espíritos”. Não é um bom filme, tal como o livro também não é grande coisa, e apesar do elenco fabuloso nem sequer recebeu uma nomeação para os óscares. Mas ainda assim é um filme muito conhecido e na cena em que a Winona reencontra o Banderas, filmada na Praça do Município, lá estamos nós, eu e tu, a beijarmo-nos como nos pediram. Eu com uma camisola de rugby da Escócia que, por acaso, foste tu que me ofereceste, completamente desajustada para a época que se pretendia, e tu com um vestido às flores, plausível. E naquela altura, já não éramos mais que tudo, um para o outro, mas “sacrificámo-nos pelo espírito da 7ª arte”.

Saturday, April 10, 2010

Primeiras amêijoas do ano

Aniversário do progenitor. Almoço sobre o rio. Dia de sol e de regatas no Tejo. Primeiras amêijoas do ano cozinhadas com coentros frescos, grandes e carnudas, daquelas que há que comer com o garfo. Peixinho grelhado e vinho branco. Saudades de fazer vela como em Inglaterra. Os primeiros dias soalheiros à séria são sempre uma maravilha.

Thursday, April 8, 2010

il gattopardo

Saio de uma reunião no Taguspark com o sol ainda alto neste final de tarde. Faz calor e, porque vi o mar brilhante à ida, hesito em arriscar um pulinho à praia mas estou de fato e gravata e opto pela A5. Num instantinho estou em Lisboa. Encontro facilmente um lugar no Chiado e aproveito para ir à Fnac. Tenho presentes de aniversário em falta para os carneiros da minha vida, escolho livros e uns Moleskine originais para cada um. Por cima do expositor dos romances estrangeiros uma miúda loirinha faz-me olhinhos quando o altifalante anuncia “dentro de momentos, Tiago Bettencourt ao vivo no café Fnac” e ela... sai disparada – o sucesso do menino bate aos pontos o meu “efeito executivo”, e não podias ser tu. Reparo no “O Leopardo” de Giuseppe Tomasi di Lampedusa, sei que o tenho a ganhar pó numa prateleira lá em casa e lembro-me que quem mo ofereceu, no último natal, escreveu na dedicatória: “Duvido que algum dia venhas a ler este livro...”. Eu adoro dedicatórias inscritas na primeira página dos livros, e gosto ainda mais de desafios. Vamos lá, il gattopardo.

Wednesday, April 7, 2010

Sintomático ou a vida sorri

Eu que nunca acordo antes do despertador, despertei cedo e com vontade de mais um dia. Passo muito tempo debaixo do chuveiro até dar conta de que estou com o sorriso parvo. Quando pretendo fazer a barba, percebo que se acabou o gel e recorro à espuma dos kits de viagem – mas não me importo. Coloco um bocadinho do Allure aftershave e escolho bem a gravata porque hoje há sessão de fotografia no escritório – estou farto do meu sorriso pepsodente nas revistas profissionais mas passa-me ao lado. No elevador encontro o avô coronel com a sua neta Beatriz que olha para mim com os olhos esbugalhados – é gira a criança. O VW está com umas rotações perfeitas – adoro os motores a gasolina alemães e a música que passa na Radar. Estou atrasado, eu sei, mas abrando ao passar à porta da Versailles – e sorrio. Tenho uma entrevista com uma ex-BCG que não lhe corre bem mas eu aturo-a – porque recebo uma mensagem tua no BB. Almoço com um mentorado afável e decido levá-lo ao Suntory – hoje estou um mãos largas. Sessão-fotográfica-sorriso-pepsodente – estas vão sair bem. Saio para um cliente cujo CA quer um desconto de 17% na última proposta – saldos, era o que faltava! Passo 3 horas a orientar o delivery das minhas equipas – quero que se sintam confortáveis, consultoria é mesmo giro! Saio para um jantar – mas antes passo por uma lojinha de conveniência para comprar gel para a barba. Envias-me nova mensagem – e eu acho que estás com saudades. Um destes dias, isto desenlaça-se...

Tuesday, April 6, 2010

relógios de bolso

O meu avô materno era muito alto e encorpado também. Tinha uns olhos do azul mais profundo que a Terra já viu, um azul que não reflectia o céu nos dias de sol mas que tomava tons de cinza nos dias de tempestade. Sentava-se numa grande poltrona, que era só dele, e ficava para ali a observar os campos de oliveiras, por entre a esquadria de madeira que compunha a janela, a olhar para a serra de Bornes à distância. Bafejado comerciante num meio rural, possuía a sagacidade do judeu, para os negócios, mas era antes de tudo um descendente dos godos, respeitado e correcto com todos. Importava nitratos do Chile que chegavam ao destino em magníficos comboios a vapor, que eu insistia em ir ver à estação, embora me assustassem ao perto. Abastado que era, para a época, e desligado das questões políticas do tempo, passava férias em família no Palace Hotel do Vidago e quando se deslocava ao Porto, a negócios, instalava-se no imponente Grande Hotel de Paris. Mesmo sendo gentio, permitiu-lhe a fortuna que casasse com minha avó, filha da “petite noblesse” transmontana. Como ficava bem naquela altura, possuía um belo relógio de bolso, encrostado numa caixa de ouro branco que polia cuidadosamente contra o colete – ele usava sempre colete – cada vez que decidia ver as horas. No próprio dia em que faleceu, a minha avó ofereceu o dito relógio ao meu primo António que, recém-entrado na adolescência e pouco mais velho do que eu, acompanhara estoicamente o meu avô na sua última viagem para o Porto, numa ambulância. Naquele dia de tristeza e legados, também eu recebi o relógio de bolso que pertencera ao meu tio-avô Daniel, homem de letras e fiel irmão de meu avô, de quem sempre ouvi o melhor, apesar de o não ter conhecido. E é essa a beleza dos relógios de bolso, que hoje já ninguém usa, repletos da vida e brilhantes do polimento pelas mãos trémulas dos nossos avós.

Monday, April 5, 2010

Quem dera que ainda fosse dia...

E com o cair da noite e o sentir do frio primaveril chegou aquela insegurança repleta de “what if?”, “now what?” e o turbilhão de questões que acompanham um aperto do coração – vá-se lá saber porque é que nestas coisas, apesar de se pensar com a cabeça é o peito que dói. Química, tem que ser química e se esta não resultar, pés no chão e aproveita mas é a sensação, Ricardo.
E vou ter que roubar o post de uma “amiguita” aqui do lado porque, mesmo sem ela saber, hoje acertou em cheio:

Saturday, April 3, 2010

Kaffeehaus, Chiado

A mente prega-nos cada partida! Não é que sonhei contigo e acordei (sem vontade de acordar) com um sorriso parvo. Basta propor um estímulo minimamente plausível e os neuróticos dos neurónios arranjam logo uma panaceia irresponsável. Fazia sol (e hoje até choveu lá) e tu chegavas ao encontro marcado, com um sorriso aberto e lindo. Muito descontraída e com um andar afirmativo. Eu não sabia se eras tu mas, está claro, tu sabias ao que vinhas, confiante, arranjada mas não pretensiosa. Simpática, cumprimentaste-me – “Olá Ricardo”, e disseste-me o teu nome. Sentaste-te ao meu lado e, antes de tudo, inquiriste a empregada sobre o bolo do dia que encomendaste juntamente com um chá exótico, olhando para mim pelo canto do olho. E eu ali parado e fraco, estarrecido com a situação, embevecido com a novidade, a tentar manter o fluxo de oxigénio dos malditos neurónios. E falámos, muito tempo e muito, sem nos atropelarmos e sem nos colocarmos as questões idiotas a que os recém-conhecidos se dedicam. Mais no presente do que sobre o passado. E era como se tudo encaixasse, como se estivesse destinado a ser assim mesmo. E em segundo pensamento, eu reparava como eras giraça: o rosto delicado, o cabelo loiro bonito, os olhos encantadores semi-escondidos pelas pestanas e aquele sorriso magnífico. E notava que, mesmo não parecendo surpreendida, também tu gostavas do miúdo que tinhas pela frente a ganhar confiança. E sem medo, agarrei-te ao de leve na mão, por debaixo da mesa, para comprovar a compatibilidade que como sei começa com a facilidade do toque e o sentir agradável do contacto da minha mão na tua mão. E eu, miúda, que nem sou muito de me lembrar dos sonhos, estou para aqui a recordar a partida que os sagrados neurónios me pregaram (e a matar mais alguns com 0,9 mg de nicotina), novamente com um sorriso parvo enquanto escrevo isto, e a encomendar-lhes a cena dos próximos capítulos.

Friday, April 2, 2010

fragments of an Easter season

O que eu mais gosto na Páscoa – logo a seguir às amêndoas envoltas em chocolate – é desta sensação de imensidão de tempo para escrever. Três dias inteirinhos de calmaria quase absoluta numa cidade praticamente despida de gente – mesmo que meio invadida por espanholitos na semana santa deles – sem grandes compromissos sociais ou festividades em formato de obrigações familiares. Tranquilidade quase suficiente para retomar o enredo do romance que me apetece pôr no papel há tantos anos e a facilidade de fazer pausas não programadas para ir dar uma volta até ao Chiado ou pousar numa qualquer esplanada com os amigos que também por cá decidiram ficar.

Thursday, April 1, 2010

And now for something completely different… (and very macho?)

Gosto imensamente de alguns personagens que cruzam a minha vida. Não sou um animal de hábitos mas fora algumas temporadas passadas no estrangeiro, vou ao mesmo barbeiro desde que deixei de deixar que me cortassem o cabelo à tigela. O local é conhecido como o barbeiro dos engenheiros (o que me assenta bem) e é uma daquelas barbearias tradicionais que ainda existem em Lisboa, e onde alguns dos ditos ainda vão mesmo fazer a barba. O meu barbeiro dá pelo nome de Jorge (nome que lhe assenta na perfeição) e é um personagem. Para além de tratar das melenas de algumas cabeças de IQ superior, é um audiófilo convicto. Daqueles que alugam salas de som, para ouvir o som cristalino do último vinil, tomam beberagens de filtros para apurar o ouvido e não acreditam na fidelidade do CD quanto mais do mp3. No tempo em que ainda se compravam Hi-Fi systems (i.e., antes do advento do Wi-Fi e das músicas partilhadas em bytes) foi ele quem me recomendou a bela Denon D-M7S cá de casa à qual ligo o Pod (shame on me, sou um herege). Invariavelmente, quando vou cortar o cabelo (situação em que a maior parte dos homens troca conversa de circunstância sobre bola com o seu barbeiro) eu e o Jorge trocamos ideias sobre as últimas tecnologias do bom som, ele informa-me sobre o último vinil que comprou, sobre a pureza da voz da Ella Fitzgerald ou, intelectualmente, sobre o estado da arte dos últimos tenores portugueses, porque é um apreciador de ópera. E eu adoro o privilégio, e orgulho-me por ser um dos clientes de um barbeiro com uma paixão destas, que verdadeiramente aprecia o Barbeiro de Sevilha.