1990 foi o ano em que, juntando os tostões amealhados dos presentes monetários de tios e avós, comprei a minha primeira aparelhagem com leitor de CD. Era uma Sony baixa-gama de três blocos que me custou exactamente 100.000 escudos numa loja das Amoreiras e tinha uns magníficos 45 watts de potência. (pura curiosidade, acabei de encontrar o modelo à venda no eBay com base de licitação de 2,5 euros!).
Veio substituir o gira-discos que me ocupava metade de um bloco de armário, em que a garantia de som quasi contínuo era assegurada por um objecto único, em forma de caneta, cujo mecanismo incompreensível permitia ouvir sequencialmente três discos vinyl, ou melhor, as três faces que ficavam para cima quando se montava “a pizza”. Pois a bela da Sony foi devidamente amortizada ao longo de 9 anos – sujeitando-se a pelo menos dois arranjos que devem ter custado tanto quanto o preço original – passando à reforma com a aquisição da compacta Denon de 100 watts – evidentemente, com três imprescindíveis gavetas de CD capazes de assegurar o som do menino horas a fio, i.e., em rotação contínua até fartar.
Ora se ao longo desses anos foi necessário alimentar os apetites vorazes destas máquinas, com visitas frequentes à Valentim de Carvalho (ainda existe?) e à Fnac, a partir do momento em que a boa da Denon se deixou ligar ao PC cá da casa, deu-se a transição radical para o .mp3. A colecção formato Compact Disc acumula pó ou faz viagens ocasionais de popó e a ligação ADSL assegura o download de sound-bytes suficientes para uma vida eterna.
E hoje, encontrei uma preciosidade memorável: o concerto dos Trovante no Pavilhão Atlântico em 1999, cheio das eco-anomalias (aqueles sons estridentes do microfone demasiado próximo do altifalante) e da intensidade da causa timorense de que me recordo, e senti a mesma estranheza da altura quando o Represas e meia dúzia de alentejanos começam com o militante “Chão nosso libertado / revoltado / agitado…”.
3 comments:
Uns dias antes de ver o teu "sound-bytes" tinha decidido comecar a ler aquele livro que me deste, faz agora 2 anos, "Trovante- Por detras do palco". Nao sei porque, andava com uma nostalgia de Trovante, tinha ouvido as "Saudades do futuro" de fio a pavio vezes seguidas (e verificado pela milesima vez que infelizmente, nao, nao tinha as letras escritas no CD) e andado na net a rever as musicas.
O livro atirou-me para uma dimensao paralela. Nao que o teor literario seja elevadissimo (a maneira de escrever e' parecida com as nossas composicoes para treinar para a PGA- alguem ainda se lembra disso?), mas -e principalmente- o prologo da Margarida Pinto Correia fez-me lembrar todas as emocoes que senti ao ver Trovante ao vivo. Contigo, com a Bla, com outros tantos, "um amigo em cada mao" , em Obidos, ou muitas vidas mais tarde no Pav. Atlantico. Com pele de galinha, confianca no futuro, um sorriso e a sentir o tal ventinho especial...
E, o tal momento que referes em 1999, sao precisamente os 4 minutos de vida que o Manuel Faria escolhera para mostrar aos netos e orgulhar-se de ser quem e' e de viver esta vida.
Manda-me um CD com essa preciosidade, sim, Moranguina?
PS-Se eu tivesse sabido que tinhas gasto 100 contos na aparelhagem...! quantos pasteis de massa tenra podiamos ter comido com esse dinheiro?!
Sim querideca, eu gravo-te uns CDzinhos.
PS- pasteis de massa tenra... era mais croissants de chocolate e teriamos ficado pejados de borbulhas.
acho que, na altura, mais um(a) menos um(a) nao faria diferenca!
kus!
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