Tuesday, October 25, 2011

O português fora (ou fora com o português)

O português fora de portas, fora do país, é absolutamente, naturalmente, consequentemente e essencialmente um tipo bestial. Transtorna-se e transforma-se para ser do melhor que há. A razão comparativa nem sequer chega a ser excepcional. Lembro-me de uma viagem à Suíça, ainda miúdo, em que encontrava um português em cada restaurante, em cada hotel, a servir à mesa e a tratar dos quartos: simpáticos, orgulhosos, briosos, atentos, preocupados com o “promenor”, cheios de objectivos e de capacidades de que não somos capazes no rectângulo bafejado pelo bom tempo e pelo ar saudável do Atlântico. Está-nos no desoxirribonucleico, só que ainda ninguém identificou o aminoácido certo para combinar o dom com o ponto geográfico da pátria. Se até há algumas décadas a coisa se justificava pela falta de investimento no cantinho lusitano e na necessidade de ir para fora “vencer”, hoje em dia tudo isto me surpreende. Um espanhol fora do país é um aproveitador. Um francês fora do royen é um maçador. Um inglês junto a uma praia é um bêbado de faces rosadas. Um alemão fora do reich é um perdido de sandálias e meias azul-bebé. Um americano fora da homeland é um erudito pretensioso (*). Já um português fora da lata de sardinhas é um vencedor, a sério. E isto faz-me subir a mostarda ao nariz. Portugal está no top5 dos países que conheço. Tem tudo (menos petróleo), campos bonitos, praias como não há iguais, floresta mediterrânica, solos onde o que cresce é tudo de qualidade, uvas para bom vinho, amêndoas deliciosas, azeite premium que exportamos, tudo sem a “doença do holandês” e no entanto estamos onde estamos, isto é, parados no tempo. Enraizados na fábula de que vivemos em crise pelo menos desde 1822, quando se acabou o Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves. Cá fora somos os maiores, em absoluta contradição com o que (não) conseguimos ser lá dentro. Cá fora somos orgulhosos, criativos, capazes e até engenhosos. Adaptamo-nos, desfrutamos e damos o que temos de melhor. Cá fora, é tudo muito “fixe” e até parecemos um povo com inteligência colectiva. Há mesmo um sentido de fraternidade que se estende além-mar com carinho desejado para a nação que não nos viu ser do que somos capazes.

(*) Estendendo isto à nova ordem mundial – Um chinês é um mete nojo fora do restaurante. Um indiano é um chato monumental. Um russo é um tipo que fala sem parar. Um brasileiro é um gastador enfatuado.

1 comment:

Papoila Bem Me Quer said...

É um facto... e cá fora somos uns portugueses saudosos ansiando pelo regresso (mesmo que temporário) ao jardinzito!