Wednesday, March 7, 2012

O meu problema com os romanticidas contemporâneos

Fatalistas numa prosa mirone, reféns dos finais terminais, sem colocarem fé nem carinho nas relações sobreviventes, acumuladores de amores precipitados, imaginadores agarrados ao efémero, fazem do “Sinto-te a falta” um eufemismo subvalorizado, como se o pormenor do “-te” pudesse ser substituído por uma qualquer miúda de liceu com argolas largas e unhas selvaticamente pintadas, ou por um rabo sobressaliente importado do Brasil com um atrelado mal ortografado e unhas de gel.
Eles conseguiram saltar por cima do “O Amor é fodido”, directamente para uma crença nos amores low-cost, que propõem encontrarem-se nos shoppings ou revelarem-se nos supermercados, sem fazerem questão dos personagens que ainda sabem passear de mãos-dadas pelas cidades, apreciar uma esplanada de olhares cúmplices a dois, naquelas cadeiras excelentemente inventadas na década de 60, ou numa viagem de descobertas menos elementares, nem que seja em histórias dedicadas para “A Noiva Judia” que um dia nos fez felizes, e deixando de lado a capacidade do “O Velho que lia Romances de Amor” que é como eu me sinto quando procuro o que sei verdadeiro e só me saem abéculas idolatradas na vulgaridade da pobre sociedade consumista que aprendeu a ler sem compreender o que a vida devia ser.

5 comments:

Maria Madalena said...

Uiii... estás zangado! O que andaste a ler :?

Anonymous said...

Texto intenso mas pouco revelador, sentir a falta de amor é f...? Estou de acordo!

MissApuros said...

Os textos bons são difíceis de encontrar, hoje em dia. Este é um dos que me fez vibrar. Não sei se sabes o que é o amor, mas garanto que se encontra junto da pessoa certA!

Vera said...

Não sei se concordo mas entendo a tua ideia. Há algo que se vem perdendo nos romances actuais mas é o mesmo que se entende em grande escala se comparares os que citas com os clássicos. A "evolução da espécie" também se aplica aos escritores e o processo de criação conduz há substituição natural de uma densidade que nos de antes já seria mofo, nos do meio teria pó e nos contemporâneos deu lugar a uma frescura fria. Faz parte, acho eu, e trata-se de filosofia literária.
Sem grandes amores pedidos, recomendo-te o do Valter Hugo Mãe - O filho de mil homens.

Abre-letras said...

Bem, muito bom. É bem verdade, há excesso de amor low-cost nos romances portugueses dos últimos anos. Muito bom :)