Fatalistas numa prosa mirone, reféns dos finais terminais,
sem colocarem fé nem carinho nas relações sobreviventes, acumuladores de amores
precipitados, imaginadores agarrados ao efémero, fazem do “Sinto-te a falta” um
eufemismo subvalorizado, como se o pormenor do “-te” pudesse ser substituído
por uma qualquer miúda de liceu com argolas largas e unhas selvaticamente
pintadas, ou por um rabo sobressaliente importado do Brasil com um atrelado mal
ortografado e unhas de gel.
Eles conseguiram saltar por cima do “O Amor é fodido”,
directamente para uma crença nos amores low-cost, que propõem encontrarem-se
nos shoppings ou revelarem-se nos supermercados, sem fazerem questão dos
personagens que ainda sabem passear de mãos-dadas pelas cidades, apreciar uma
esplanada de olhares cúmplices a dois, naquelas cadeiras excelentemente inventadas
na década de 60, ou numa viagem de descobertas menos elementares, nem que seja
em histórias dedicadas para “A Noiva Judia” que um dia nos fez felizes, e
deixando de lado a capacidade do “O Velho que lia Romances de Amor” que é como
eu me sinto quando procuro o que sei verdadeiro e só me saem abéculas idolatradas
na vulgaridade da pobre sociedade consumista que aprendeu a ler sem compreender
o que a vida devia ser.
5 comments:
Uiii... estás zangado! O que andaste a ler :?
Texto intenso mas pouco revelador, sentir a falta de amor é f...? Estou de acordo!
Os textos bons são difíceis de encontrar, hoje em dia. Este é um dos que me fez vibrar. Não sei se sabes o que é o amor, mas garanto que se encontra junto da pessoa certA!
Não sei se concordo mas entendo a tua ideia. Há algo que se vem perdendo nos romances actuais mas é o mesmo que se entende em grande escala se comparares os que citas com os clássicos. A "evolução da espécie" também se aplica aos escritores e o processo de criação conduz há substituição natural de uma densidade que nos de antes já seria mofo, nos do meio teria pó e nos contemporâneos deu lugar a uma frescura fria. Faz parte, acho eu, e trata-se de filosofia literária.
Sem grandes amores pedidos, recomendo-te o do Valter Hugo Mãe - O filho de mil homens.
Bem, muito bom. É bem verdade, há excesso de amor low-cost nos romances portugueses dos últimos anos. Muito bom :)
Post a Comment