“Deus não joga aos dados mas não recusou algures na sua infinita infância inventar mundos de Lego”
Mede 9,6 por 32 por 16 mm, o que resulta em qualquer coisa como 4,9152 cm3. Foi-lhe atribuída a patente 92683 nos idos de 1958. É de plástico, de que outra matéria poderia ser uma das peças que sustentam este século XX? Sabemos, de fonte segura, que Deus não joga aos dados. Não recusou, contudo, algures na sua infinita infância inventar mundos de Lego – que tem origem no dinamarquês LEg GOdt, brincar bem, mas que em latim significa “eu junto”, um símbolo desde logo.
No princípio era a madeira, pequenas peças que o carpinteiro Ole Kirk Kristiansen, na pequena cidade dinamarquesa de Billbund, construía desde 1932 a pensar nos mais pequenos. Veio a guerra e com ela o revolucionário plástico. Os anos cinquenta viram nascer uma série de elementos interligáveis que reduziam à escala de uma mão veículos, árvores e figuras. Os outros sistemas queriam mudar o mundo ou apenas conservá-lo, o “sistema Lego” reproduzia-o. Mas faltava ainda uma ideia, os pinos que permitiriam a maravilha: o encaixe. Por coincidência, a década da contestação seria a mesma da imaginação. Só então o Criador pôde descansar. Os mundos estavam entregues aos miúdos.
As linhas da peça possuem a beleza e estabilidade de uma coluna clássica, mas feita de ABE (acrilonitrilo butadieno estireno), um novo produto que é mais estável e possui melhores cores. E a possibilidade de as colar umas às outras tem a natural genialidade de uma célula. Simples como um pedaço de madeira, estimulante como uma escultura, ágil como um braço mecânico, a peça de Lego de oito pinos é uma espécie de ADN da imaginação. Permite tudo: ser arquitecto das alturas ou demiurgo pisador, traficante de armas fabulosas ou escultor desmedido, inventor de catástrofes ou mecânico de automóveis, piloto de naves espaciais ou criador de monstros genéticos. São 102981500 as combinações possíveis com seis peças de oito pinos da mesma cor… Com três peças passam a 1060 hipóteses e, com duas, serão apenas 24 as possibilidades. Parece pouco.
As palavras dos especialistas dirão do bem que faz aprender a pegar nas peças, descobrir como as juntar, combinar as cores, saborear tudo, destruir e reorganizar, enfim, gastar horas eternas a brincar. Neste momento, duas gerações depois do fundador, a Lego é um gigante da economia mundial enquanto fabricante de brinquedos, gerindo parques de atracções e linhas de roupa, mas isso são detalhes. Apesar dos inúmeros prémios que o carácter pedagógico arrecadou, está por avaliar a mudança no entendimento acerca das possibilidades das coisas deste mundo que o Lego motivou em sucessivas infâncias.
Algum do encanto se foi perdendo à medida que se complicava o simples, por exemplo com a roda (1961), o comboio (1966), Duplo (1967), as figuras (1973), Technic (1977), Legoland (1978), Light & Sound (1986). Era inevitável, mas manda a esperança que se olhe com atenção para Mindstorms, que soma as possibilidades do computador às infinitas possibilidades do design. A peça que suportou grandes mundos pode agora, por via da robótica, mover-se, agir e até decidir por sua conta e assim construir uma ponte entre milénios. Precisará para isso da imaginação. A mesma que “já fazia” mover, agir e até decidir por sua conta a pequena peça de plástico.
- Autor desconhecido
Sai um plágio. Monumental peça de escrita publicada no bom do Indy, quando este ainda era o meu jornal de referência – como então me dei ao trabalho de o copiar, parece-me apropriado eternizá-lo no etéreo da blogosfera.
Mede 9,6 por 32 por 16 mm, o que resulta em qualquer coisa como 4,9152 cm3. Foi-lhe atribuída a patente 92683 nos idos de 1958. É de plástico, de que outra matéria poderia ser uma das peças que sustentam este século XX? Sabemos, de fonte segura, que Deus não joga aos dados. Não recusou, contudo, algures na sua infinita infância inventar mundos de Lego – que tem origem no dinamarquês LEg GOdt, brincar bem, mas que em latim significa “eu junto”, um símbolo desde logo.
No princípio era a madeira, pequenas peças que o carpinteiro Ole Kirk Kristiansen, na pequena cidade dinamarquesa de Billbund, construía desde 1932 a pensar nos mais pequenos. Veio a guerra e com ela o revolucionário plástico. Os anos cinquenta viram nascer uma série de elementos interligáveis que reduziam à escala de uma mão veículos, árvores e figuras. Os outros sistemas queriam mudar o mundo ou apenas conservá-lo, o “sistema Lego” reproduzia-o. Mas faltava ainda uma ideia, os pinos que permitiriam a maravilha: o encaixe. Por coincidência, a década da contestação seria a mesma da imaginação. Só então o Criador pôde descansar. Os mundos estavam entregues aos miúdos.
As linhas da peça possuem a beleza e estabilidade de uma coluna clássica, mas feita de ABE (acrilonitrilo butadieno estireno), um novo produto que é mais estável e possui melhores cores. E a possibilidade de as colar umas às outras tem a natural genialidade de uma célula. Simples como um pedaço de madeira, estimulante como uma escultura, ágil como um braço mecânico, a peça de Lego de oito pinos é uma espécie de ADN da imaginação. Permite tudo: ser arquitecto das alturas ou demiurgo pisador, traficante de armas fabulosas ou escultor desmedido, inventor de catástrofes ou mecânico de automóveis, piloto de naves espaciais ou criador de monstros genéticos. São 102981500 as combinações possíveis com seis peças de oito pinos da mesma cor… Com três peças passam a 1060 hipóteses e, com duas, serão apenas 24 as possibilidades. Parece pouco.
As palavras dos especialistas dirão do bem que faz aprender a pegar nas peças, descobrir como as juntar, combinar as cores, saborear tudo, destruir e reorganizar, enfim, gastar horas eternas a brincar. Neste momento, duas gerações depois do fundador, a Lego é um gigante da economia mundial enquanto fabricante de brinquedos, gerindo parques de atracções e linhas de roupa, mas isso são detalhes. Apesar dos inúmeros prémios que o carácter pedagógico arrecadou, está por avaliar a mudança no entendimento acerca das possibilidades das coisas deste mundo que o Lego motivou em sucessivas infâncias.
Algum do encanto se foi perdendo à medida que se complicava o simples, por exemplo com a roda (1961), o comboio (1966), Duplo (1967), as figuras (1973), Technic (1977), Legoland (1978), Light & Sound (1986). Era inevitável, mas manda a esperança que se olhe com atenção para Mindstorms, que soma as possibilidades do computador às infinitas possibilidades do design. A peça que suportou grandes mundos pode agora, por via da robótica, mover-se, agir e até decidir por sua conta e assim construir uma ponte entre milénios. Precisará para isso da imaginação. A mesma que “já fazia” mover, agir e até decidir por sua conta a pequena peça de plástico.
- Autor desconhecido
Sai um plágio. Monumental peça de escrita publicada no bom do Indy, quando este ainda era o meu jornal de referência – como então me dei ao trabalho de o copiar, parece-me apropriado eternizá-lo no etéreo da blogosfera.
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