Já contei esta estória(*) antes mas para o comum dos mortais, vulgo povão, que se levanta de manhã e apanha o metropolitano de Lisboa (a pior empresa pública do país – mas não me vou pôr a dissertar sobre isto) a sensação de déjà vu a cada ceguinho (em politicus correctus: invisual) que entra pela porta do fundo no preciso instante em que o anterior saiu pela porta da outra extremidade – normalmente auxiliado por uma qualquer alma pacóvio-caridosa – só pode suscitar um pensamento: alcateia. Alcateia, sem querer ofender os lobos mas na literal definição de “quadrilha de ladrões facinorosos”. E eu pergunto: os invisuais não pagam passe? Ou será um bom negócio!?
E já que estamos nesta onda pessimistico-desabafa-aqui. Existem na bela Lisboa uma série de personagens típicos. Ele é o homem do saco de plástico a acenar no Saldanha (por acaso no outro dia vi-o às compras no Corte Inglês, mas isso agora não interessa para nada). Ele é o velho rasta e andrajoso a fingir-se de bêbado no Bairro. Ele é o jovem aprumado a pedir dinheiro para o chuto nos sinais das Amoreiras. E há também os dezenas / centenas de Cais a tentarem impingir as revistinhas. Bom, no metro do Marquês (lá está, este semi-jovem consultor é utilizador frequente do comboio subterrâneo – quando este funciona ou não lhe engole o bilhetinho à 3ª viagem das 10 já pagas. Gatunos!) há um dos ditos Cais dos seus 30 e tal aninhos, traços meio sul-americanos e óculos, que deve ser, muito provavelmente, a pessoa que mais sorriu para mim. Está por ali, junto à passadeira rolante, parado e sorridente de revistinha na mão, enquanto o povão passa e ele sorri, sorri, sorri… Fazendo umas continhas rápidas: desde os meus tempos de universidade e admitindo que andei uns 100 dias / ano de metro dá uns 1.300 sorrisos. É obra! E eu pergunto: o que é que a Cais fez ou faz por este ser? Proporciona sorrisos gratuitos ao povão? Opa lá lá, atribua-se desde já um subsídio à Cais!
E pergunto mesmo mais: será que vou sentir a falta do sorriso idiota e enjoativo da criatura no dia em que esta desaparecer?
Ufa!
E já que estamos nesta onda pessimistico-desabafa-aqui. Existem na bela Lisboa uma série de personagens típicos. Ele é o homem do saco de plástico a acenar no Saldanha (por acaso no outro dia vi-o às compras no Corte Inglês, mas isso agora não interessa para nada). Ele é o velho rasta e andrajoso a fingir-se de bêbado no Bairro. Ele é o jovem aprumado a pedir dinheiro para o chuto nos sinais das Amoreiras. E há também os dezenas / centenas de Cais a tentarem impingir as revistinhas. Bom, no metro do Marquês (lá está, este semi-jovem consultor é utilizador frequente do comboio subterrâneo – quando este funciona ou não lhe engole o bilhetinho à 3ª viagem das 10 já pagas. Gatunos!) há um dos ditos Cais dos seus 30 e tal aninhos, traços meio sul-americanos e óculos, que deve ser, muito provavelmente, a pessoa que mais sorriu para mim. Está por ali, junto à passadeira rolante, parado e sorridente de revistinha na mão, enquanto o povão passa e ele sorri, sorri, sorri… Fazendo umas continhas rápidas: desde os meus tempos de universidade e admitindo que andei uns 100 dias / ano de metro dá uns 1.300 sorrisos. É obra! E eu pergunto: o que é que a Cais fez ou faz por este ser? Proporciona sorrisos gratuitos ao povão? Opa lá lá, atribua-se desde já um subsídio à Cais!
E pergunto mesmo mais: será que vou sentir a falta do sorriso idiota e enjoativo da criatura no dia em que esta desaparecer?
Ufa!
(*) e não se ponham com estórias sobre o “estória” versus “história” senão passo a escrever tudo em inglês!
1 comment:
tenho de discordar contigo em duas coisas: o senhor joão (o do saco de plástico) é amoroso, e só pede uma apitadela quando passas por ele no Saldanha... ou em Belém, que é onde fica o lar onde ele está. sim, tem muito dinheiro, mas já não tem todas as capacidades cognitivas a funcionar. uma apitadela gasta-te a buzina?
a Cais ajuda, de facto, os sem-abrigo. tem uma política de controlo bastante forte para que não haja extorsões, e tenta apoiar apenas pessoas que querem trabalhar para ganhar dinheiro mas não têm casa, portanto, não têm como se inscrever no centro de emprego. caminhos à parte, há quem queira realmente voltar a ser.
tanto no caso do senhor do "sorriso enjoativo" como no do senhor joão, dão-te um sorriso em troca de nada. se comprares a revista (eu já lha comprei um par de vezes), recebes um muito obrigado e até para o mês que vem... de alguém que, se calhar, não vai chegar a consultor, mas que te agradece que respeites o trabalho dele, que lhe custou o orgulho a conseguir.
beijinho.
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