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Quando eu morrer batam em latas,
Rompam aos saltos e aos pinotes,
Façam estalar no ar chicotes,
Chamem palhaços e acrobatas!
Que o meu caixão vá sobre um burro
Ajaezado à andaluza...
A um morto nada se recusa,
Eu quero por força ir de burro.
- Mário de Sá Carneiro
Tomás sofria da ocasional depressão, sempre que lhe comunicavam o falecimento de alguém conhecido. Era nestas ocasiões assolado pelo discurso catastrofista de que a vida dos vivos, não mais passava do que de uma sucessão de anunciações de novas mortes. Impressionava-o que quanto mais a ciência moderna contribuía para a longevidade da vida mais sofridas eram as vidas dos que continuamente viam “partir” amigos, familiares e personagens das suas gerações. Invariavelmente, fazia-me sair mais cedo do trabalho, convocando-me para um café de início de noite no Bamako ou no Nouakchott e discorria sobre o tema por entre coca-colas servidas com gelo e limão:
- Tu já viste como apesar de toda a evolução da espécie a Humanidade continua a não saber lidar com uma coisa básica como a morte? Morre uma pessoa, e o que fazem as pessoas – reúnem-se em capelas claustrofóbicas, beijam-se e abraçam-se apresentando condolências, em redor de um paralelepípedo de madeira contendo um corpo. Fazem um cortejo fúnebre atrás do carro da funerária e chegados ao cemitério, percorrem silenciosamente as vielas formadas por jazigos de família há muito abandonados, lendo de quando em quando, penitenciosamente, os nomes de quatro e cinco palavras de anteriores defuntos. Cerimoniosamente, vêem enterrar, pelos coveiros, o dito paralelepípedo num buraco de terra, em seguida coberto pelos nem sempre tristes arranjos florais propositadamente preparados para a ocasião. E tudo aquilo me parece mal, mal arranjado, mal organizado, mal ambientado. Com vistas deslumbrantes – vá-se lá saber porque, os cemitérios têm sempre, tentativamente, vistas espectaculares sobre as cidades, vilas ou aldeias, como que a tentarem chegar aos céus, rodeados dessas magníficas árvores ciprestes.
E nesta fase, inevitavelmente, a nossa conversa divergia para as vantagens e desvantagens da cremação, a beleza dos cemitérios em redor das antigas igrejas anglicanas e para o pedido testamenteiro do Tomás:
- No dia em que eu morrer, por favor, assegura-te de que lançam o meu corpo ao mar.
Quando eu morrer batam em latas,
Rompam aos saltos e aos pinotes,
Façam estalar no ar chicotes,
Chamem palhaços e acrobatas!
Que o meu caixão vá sobre um burro
Ajaezado à andaluza...
A um morto nada se recusa,
Eu quero por força ir de burro.
- Mário de Sá Carneiro
Tomás sofria da ocasional depressão, sempre que lhe comunicavam o falecimento de alguém conhecido. Era nestas ocasiões assolado pelo discurso catastrofista de que a vida dos vivos, não mais passava do que de uma sucessão de anunciações de novas mortes. Impressionava-o que quanto mais a ciência moderna contribuía para a longevidade da vida mais sofridas eram as vidas dos que continuamente viam “partir” amigos, familiares e personagens das suas gerações. Invariavelmente, fazia-me sair mais cedo do trabalho, convocando-me para um café de início de noite no Bamako ou no Nouakchott e discorria sobre o tema por entre coca-colas servidas com gelo e limão:
- Tu já viste como apesar de toda a evolução da espécie a Humanidade continua a não saber lidar com uma coisa básica como a morte? Morre uma pessoa, e o que fazem as pessoas – reúnem-se em capelas claustrofóbicas, beijam-se e abraçam-se apresentando condolências, em redor de um paralelepípedo de madeira contendo um corpo. Fazem um cortejo fúnebre atrás do carro da funerária e chegados ao cemitério, percorrem silenciosamente as vielas formadas por jazigos de família há muito abandonados, lendo de quando em quando, penitenciosamente, os nomes de quatro e cinco palavras de anteriores defuntos. Cerimoniosamente, vêem enterrar, pelos coveiros, o dito paralelepípedo num buraco de terra, em seguida coberto pelos nem sempre tristes arranjos florais propositadamente preparados para a ocasião. E tudo aquilo me parece mal, mal arranjado, mal organizado, mal ambientado. Com vistas deslumbrantes – vá-se lá saber porque, os cemitérios têm sempre, tentativamente, vistas espectaculares sobre as cidades, vilas ou aldeias, como que a tentarem chegar aos céus, rodeados dessas magníficas árvores ciprestes.
E nesta fase, inevitavelmente, a nossa conversa divergia para as vantagens e desvantagens da cremação, a beleza dos cemitérios em redor das antigas igrejas anglicanas e para o pedido testamenteiro do Tomás:
- No dia em que eu morrer, por favor, assegura-te de que lançam o meu corpo ao mar.
1 comment:
Vim espreitar e gostei muito.
Achei piada interpretares tristeza nos meus posts, experimenta ler num registo irónico.
Nem todas as situações são/foram comigo! Não aguentava ;-)
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