Sentei-me com ela na beira da piscina com os pés enfiados na água e o corpo protegido do sol pela sombra da casa branca. Discorri durante uns quarenta minutos sobre o que me está a acontecer. Ela escutou-me em silêncio, olhando-me com carinho e movendo lentamente as pernas para provocar remoinhos encantadores na água azul. Não me interrompeu uma única vez, nem quando eu balbuciei com os olhos molhados. Contei-lhe tudo o que considerei essencial para obter uma opinião. O meu estado de alma antes de te conhecer. Os actos únicos da peça de teatro. Os sentimentos diários nas tuas ausências. As mensagens. Os últimos fins-de-semana, enfatizando os pormenores relevantes. As nossas diferenças. Os silêncios que não consigo interpretar entre a incerteza e o desprezo. Quando terminei, ela sentiu-me mesmo triste e atirou-me água para me animar. Passou-me a mão pelo cabelo, puxando-o ao de leve como só ela o sabe fazer. Ambos sabemos que já me amou, mesmo a sério, e que eu não correspondi. Foi há tantos anos que dizer há mais de uma década me faz sentir antigo. Talvez por isso a decidi procurar. Não ficámos melhores amigos, mas ambos sabemos com o que podemos contar. Honestidade, sinceridade e cumplicidade quanto baste. Entretanto ela descobriu o mundo, fez o “move on” com toda a classe, cresceu, e podemos falar sobre quase tudo como se fôssemos íntimos. Disse-me que entendia bem porque me és tão especial. Desculpou-se com singeleza porque não te conhece e as gerações, ainda para mais no feminino, são bem diferentes. Mesmo assim, procurou palavras sábias e frontais e disse-me: “Ricardo, por muito que isso te seja estranho, não está nas tuas mãos. Ela decidirá o que vai querer, e tu só podes esperar pelo melhor”
2 comments:
Aí está a sinceridade de amigo.
Espera pelo melhor, ele virá concerteza...
Ricardo, não gosto nada de te ler assim triste. Anima-te, a alguém como tu as coisas só podem correr bem. beijinhos
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