Tanto tempo passado a pensar que perdera a metade do meu puzzle em pecinhas descoladas para sempre. Perdido numa vontade indómita sem reciprocidade. Armado em “miúdo” a quem a vida foi sempre servida numa “bandeja de prata”. E de repente, sem aviso, abre-se um universo paralelo para uma perspectiva de vida absolutamente diferente, como a um pinguim nos antípodas. Premonição? Ainda este fim-de-semana divagava que lá para o início do ano, teria que tomar decisões resolutas e de repente, elas aparecem-me como por magia. Afinal, há vida para além do presente. Afinal, há sempre algo diferente prestes a acontecer. Uma perspectiva que eu desdenharia se estivéssemos juntos. Um desafio que não me saberia bem se não tivéssemos passado. Uma resposta que seria uma certeza se as coisas tivessem acontecido como eu queria. Assim, agora, tudo é absolutamente fácil e o futuro aparece de forma completamente diferente, mesmo que eu não deseje com convicção este universo paralelo.
Tuesday, November 30, 2010
Sunday, November 28, 2010
a dupla traição
Traiu-a. Havia-lhe prometido que a inauguração daquele japonês seria com ela, da mesma forma que uns meses antes lhe dissera que a primeira experiência do oriental de degustação seria na sua companhia. Não cumpriram, apesar das mensagens trocadas do “vou guardar este para ir contigo”, de parte a parte. Ela foi ao japonês com amigos, tal como ele fora ao oriental com uma amiga. Lembrou-se disso enquanto esperava pelos seus convidados diante de um Sapphire com água tónica. Lembrou-se de como a ilusão lhe parecera boa há uns meses atrás, e nenhum dos dois tinha sido capaz de a aprofundar. Constatou que ambos haviam desistido da possibilidade.
fiquei na dúvida mas parece-me que tinha razão ;)
remição
(remir + -ção)
(remir + -ção)
s. f.
1. Acto! ou efeito de remir ou de se remir.
2. Desobrigação do cumprimento de uma obrigação ou pena. = quitação, resgate
v. tr.
1. Adquirir de novo. = conseguir, resgatar
v. tr. e pron.
2. Conseguir a libertação de outrem ou de si. = libertar, livrar
3. Tirar ou sair do perigo ou da condenação. = salvar ≠ perder
4. Ser reabilitado em relação a (crime, falha ou pecado); tornar-se puro em relação a. = expiar
5. Oferecer ou receber compensação. = compensar, ressarcir
v. pron.
6. Sentir arrependimento. = arrepender-se
vs.
remissão
(latim remissio, -onis, restituição, entrega, afrouxamento, brandura, indulgência)
(latim remissio, -onis, restituição, entrega, afrouxamento, brandura, indulgência)
s. f.
1. Acto! ou efeito de remitir.
2. Disposição para desobrigar o cumprimento de uma obrigação ou pena. = clemência, indulgência, misericórdia, perdão
3. Acto! de remeter.
4. Acção! de transferir a atenção do leitor ou consulente para outro texto ou outra parte do texto (ex.: remissão de um dicionário)
5. Falta de energia. = fraqueza, frouxidão
6. Diminuição do sofrimento ou do cansaço. = alívio, consolo
7. Med. Diminuição momentânea dos sintomas de uma doença. = remitência
8. Med. Desaparecimento da febre entre os acessos de malária. = remitência
sem remissão: inexoravelmente, impreterivelmente.
o filme do Senhor Nespresso
Fazia tanto frio como na altitude dos Apeninos mas a sala estava cheia para ver o filme do Senhor Nespresso. É um filme tranquilo e honesto, com muito boa fotografia e que não acaba bem – gosto disso no cinema, porque o aproxima da realidade. O Senhor Nespresso faz de Senhor Farfalle com consciência e aparência pesadas, em remição dos pecados, e acaba no paraíso mas não encontra o John Malkovich – gostei desta parte da alegoria. Gostei principalmente de recordar as paisagens dos Apeninos que já atravessei por duas vezes. De entre as espécies de montanhas são talvez as mais graciosas que conheço por se deixarem adornar pelas nuvens de forma maravilhosa – no filme há umas quantas imagens que reflectem isto mesmo. Recomendam-se, portanto, o filme e o passeio pelos Apeninos d’Abruzzo.
Saturday, November 27, 2010
auto-profundo
Ficou-me (como defeito) da minha formação científica esta prática de experimentar para depois analisar. Hoje “experimentei” sair com uma miúda, daquelas mesmo giras, cheia de enfeites e vontade de me agradar. Fiz tudo bem (para mim próprio) de forma concentrada e concertada, colocando o meu melhor sorriso e fazendo-me entendido quando ela divagava sobre os assuntos que a ela interessam e a mim não me dizem nada. Fui capaz de ser eu mesmo (no meu melhor) enquanto ela me olhava com aquela perspectiva de homem que se quer para a vida: maduro, gentil (não gosto deste adjectivo), bons genes e sucesso alcançado. Fui divertido, charmoso e um pouco misterioso para a deliciar. Tentei. A sério que tentei, assumindo o auto-desafio. Mas a páginas tantas, o bom da experiência tinha acabado e não era ali que eu queria estar. Pensava eu que já era hora de recuperar, mas afinal senti o coração preso num fecho-éclair perro, sem vontade de se soltar. E é isto. Sinto-me preso e não há coisa pior, para mim. É a sensação de que o futuro não nos reserva nada e de que chegámos ao pico da evolução, sem sentido e sem sentir, ou a sentir-me assim.
Thursday, November 25, 2010
Imbecil auto-crítico
Ao ler este blog com algum distanciamento, fico assustado com a quantidade de imbecilidades que fui escrevendo ao longo dos últimos meses. Creio que lhe deveria mudar o nome para “Verborreia em Lisboa” ou “O prolixo em Lisboa”. Cai chuva, cai – com o frio que faz, pode ser que saia um granizado!
Sunday, November 21, 2010
Witty wish
Tínhamos o privilégio de uma lareira acesa em Lisboa – eu gosto do calor da madeira a arder quando faz este frio húmido incaracterístico da cidade. O jantar tinha sido descontraído, apesar de ambos imaginarmos ao que íamos – acho graça ao processo intencional dos amigos que tentam suprir o que acham que nos faz falta com base em equações magnânimes de “vamos convidar R e K para jantarem cá em casa, e deixamo-los sozinhos no momento (que imaginam ser o) certo”. Por um instante alimentei a esperança de que tudo fosse assim tão simples, quando ela se virou para mim, com os olhos muito abertos e as pestanas carregadas de rimmel, e me disse:
- You’re a witty kind of guy!
E eu que não sabia o que queria dizer “witty”, mas não quis dar parte fraca, deixei-a prosseguir a conversa, embora cheio de vontade de usar o BB para entender, realmente, o que ela me estava a querer dizer.
- You’re a witty kind of guy!
E eu que não sabia o que queria dizer “witty”, mas não quis dar parte fraca, deixei-a prosseguir a conversa, embora cheio de vontade de usar o BB para entender, realmente, o que ela me estava a querer dizer.
- You’ve got this great energy within you that most people will notice once they meet you.
- …
- Have you ever seen “Brick Lane”? It’s this movie about a young girl living in London against her will, she’s from Bangladesh, and she has this wonderful thought about “love”, that you can actually induce into most things in life, and I like to quote: “There are different kinds of love: the kind that starts deep and slowly wears away. It seems like you will never use it up and then, one day, almost suddenly, you just realize it’s finished. Then there is the kind you do not notice at first but which adds a little bit to itself every day like an oyster makes a pearl, grain by grain, a jewel from the sand.” Do you get it?
E eu respondi-lhe que sim, que entendia o que ela me estava a querer dizer, mas a partir dali já não me sentia nada no registo “witty” mas sim no “let’s call it a night”.
Get a life, boy.
Thursday, November 18, 2010
O precipício
Sentaram-se no Orpheu. Ela atirou o casaco para a cadeira ao lado, ajeitou a camisola de gola alta, puxou ligeiramente as mangas descobrindo os pulsos, bonitos, e fixou os cotovelos na mesa de madeira:
Ela - O que foi agora?
Eu - Seria capaz de te voltar a amar…
Ela - Para quê? Já te perguntaste, para quê? Tu não percebes que não fomos feitos um para o outro? Não entendes o que sofremos por descobrir isso mesmo?
Eu - Desculpa-me, eu não entendo nada do que se passou assim. Para mim, tudo o que correu mal foi por causa da expectativa. Como tu sabes, naquela altura eu não esperava nada e foi porque te conheci que passei a esperar tudo. Passei a acreditar que a vida podia ser muito mais. Fiquei deslumbrado com os nossos momentos perfeitos e tornei-me num crente. A maldita da expectativa que não se deixa dominar, é que foi fatal. E foi isso o que aconteceu comigo, à medida que te ia descobrindo, mesmo nos pormenores em que sabia que não encaixávamos, fez-me acreditar. E não há nada pior do que acreditar. Faz-nos querer mudar, ajustar. Deixa-nos a divagar. E então a vida acontece.
Ela - A vida, qual vida? Não percebes que não há vida em nós. Há desilusão, há a mágoa do que me fizeste quando decidiste, por ti próprio, hesitar. Há o silêncio em que foste capaz de mergulhar e a forma como me decidiste informar das tuas conclusões muito próprias, como se eu não estivesse ali mesmo ao lado para me pores a par. Não foste capaz de perceber que, naquela altura, eu estava disposta a procurar respostas, soluções, que fizessem o futuro acontecer. Sim, eu estava apaixonada por ti, mas passou-me no instante em que tomaste as tuas opções. Depois disso, limitei-me a sofrer as consequências de ter decidido entregar-me. Em algum momento posso ter hesitado, posso ter pensado como tudo poderia ser diferente, mas a mim a vida ensinou-me que nestas circunstâncias já não faz sentido. E por cada vez que tentaste chegar até mim, novamente, eu fui acumulando a minha certeza de que estava certa, de que tudo contigo seria sempre demasiado complicado. Percebes? Gostava que percebesses, e que seguíssemos com as nossas vidas, cada um por si.
Eu - Não. Se fosse assim, simples, eu aceitava essa tua proposta de seguirmos em frente. Mas não é. Há tanto mais aqui, entre nós, para nós. Eu sei que sim, não apenas porque sei bem o que sinto, o que para mim já é um bom princípio porque nem sempre acontece com certeza vincada, mas também porque o “acreditar” de que te falava não me passou com o tempo. Como eu sei o que sou, como sou por dentro, esta é uma instrução clara de que não posso deixar-te passar. Tu és obstinada e eu sou convicto. Somos personalidades ímpares, que se deixaram seduzir a sério, apesar da improbabilidade, e isso faz a situação em que nos encontramos complexa, mas não inultrapassável. Se pelo menos percebesses isso, tínhamos um princípio.
Ela - Um precipício!
Eu - Chama-lhe o que quiseres, de qualquer forma eu vou lá estar para te agarrar.
Ela - O que foi agora?
Eu - Seria capaz de te voltar a amar…
Ela - Para quê? Já te perguntaste, para quê? Tu não percebes que não fomos feitos um para o outro? Não entendes o que sofremos por descobrir isso mesmo?
Eu - Desculpa-me, eu não entendo nada do que se passou assim. Para mim, tudo o que correu mal foi por causa da expectativa. Como tu sabes, naquela altura eu não esperava nada e foi porque te conheci que passei a esperar tudo. Passei a acreditar que a vida podia ser muito mais. Fiquei deslumbrado com os nossos momentos perfeitos e tornei-me num crente. A maldita da expectativa que não se deixa dominar, é que foi fatal. E foi isso o que aconteceu comigo, à medida que te ia descobrindo, mesmo nos pormenores em que sabia que não encaixávamos, fez-me acreditar. E não há nada pior do que acreditar. Faz-nos querer mudar, ajustar. Deixa-nos a divagar. E então a vida acontece.
Ela - A vida, qual vida? Não percebes que não há vida em nós. Há desilusão, há a mágoa do que me fizeste quando decidiste, por ti próprio, hesitar. Há o silêncio em que foste capaz de mergulhar e a forma como me decidiste informar das tuas conclusões muito próprias, como se eu não estivesse ali mesmo ao lado para me pores a par. Não foste capaz de perceber que, naquela altura, eu estava disposta a procurar respostas, soluções, que fizessem o futuro acontecer. Sim, eu estava apaixonada por ti, mas passou-me no instante em que tomaste as tuas opções. Depois disso, limitei-me a sofrer as consequências de ter decidido entregar-me. Em algum momento posso ter hesitado, posso ter pensado como tudo poderia ser diferente, mas a mim a vida ensinou-me que nestas circunstâncias já não faz sentido. E por cada vez que tentaste chegar até mim, novamente, eu fui acumulando a minha certeza de que estava certa, de que tudo contigo seria sempre demasiado complicado. Percebes? Gostava que percebesses, e que seguíssemos com as nossas vidas, cada um por si.
Eu - Não. Se fosse assim, simples, eu aceitava essa tua proposta de seguirmos em frente. Mas não é. Há tanto mais aqui, entre nós, para nós. Eu sei que sim, não apenas porque sei bem o que sinto, o que para mim já é um bom princípio porque nem sempre acontece com certeza vincada, mas também porque o “acreditar” de que te falava não me passou com o tempo. Como eu sei o que sou, como sou por dentro, esta é uma instrução clara de que não posso deixar-te passar. Tu és obstinada e eu sou convicto. Somos personalidades ímpares, que se deixaram seduzir a sério, apesar da improbabilidade, e isso faz a situação em que nos encontramos complexa, mas não inultrapassável. Se pelo menos percebesses isso, tínhamos um princípio.
Ela - Um precipício!
Eu - Chama-lhe o que quiseres, de qualquer forma eu vou lá estar para te agarrar.
Dog days are over (os dias da neura)
Sw: Alo, estou de neura! So me apetece carregar no botao do tempo e avancar uns quantos meses... Ate tudo estar resolvido!! Doi muito chegar a uma determinada fase da vida, termos nocao de que temos valor e nao percebermos em que parte falhamos!!!
Sw: Eu sei o que sou, quem sou e tudo o resto! So nao sei como fazer para ser feliz!
Sw: So queria isso! Voltar a sentir-me bem!
Ricardo: Come on girl, cheer up! Nao sei o que se passa mas tenho a certeza de que tudo vai correr bem.
Ricardo: (e olha que eu hoje tambem nao estou nada bem disposto com a vida, mas ainda assim dou-te o miminho que tu mereces)
Sw: Vai, mas doi! Sempre me levanto, sempre. Mas custa! Cada vez custa mais!
Ricardo: E agora vou dormir, faz muito frio em Lisboa e estou super-cansado, faça o mesmo.
Ricardo: Beijocas
Sw: Porque a ilusao vai sendo cada vez menor e porque as repeticoes vao sendo cada vez mais.
Sw: O tempo passa e estamos sempre na mesma luta contra ele.
Sw: Faz bem! Voce tem tudo ricardo, so nao tem coragem de arriscar e ir atras do que quer!
Ricardo: O tempo é invencível, nada a fazer. Há que vivê-lo.
Ricardo: Vá, beijinhos
Sw: E nao te das conta, que chegara um dia em que ja nao tera importancia ires atras ou nao. Ja te vai ser igual. Morremos aos pouquinhos. Umas vezes vencidos pelo cansaco, outras vezes pela inercia de nao fazer nada.
Sw: Beijos. Tchau.
Ricardo: Ui, tanto drama. Toca mas é a dormir.
Sw: Eu sei o que sou, quem sou e tudo o resto! So nao sei como fazer para ser feliz!
Sw: So queria isso! Voltar a sentir-me bem!
Ricardo: Come on girl, cheer up! Nao sei o que se passa mas tenho a certeza de que tudo vai correr bem.
Ricardo: (e olha que eu hoje tambem nao estou nada bem disposto com a vida, mas ainda assim dou-te o miminho que tu mereces)
Sw: Vai, mas doi! Sempre me levanto, sempre. Mas custa! Cada vez custa mais!
Ricardo: E agora vou dormir, faz muito frio em Lisboa e estou super-cansado, faça o mesmo.
Ricardo: Beijocas
Sw: Porque a ilusao vai sendo cada vez menor e porque as repeticoes vao sendo cada vez mais.
Sw: O tempo passa e estamos sempre na mesma luta contra ele.
Sw: Faz bem! Voce tem tudo ricardo, so nao tem coragem de arriscar e ir atras do que quer!
Ricardo: O tempo é invencível, nada a fazer. Há que vivê-lo.
Ricardo: Vá, beijinhos
Sw: E nao te das conta, que chegara um dia em que ja nao tera importancia ires atras ou nao. Ja te vai ser igual. Morremos aos pouquinhos. Umas vezes vencidos pelo cansaco, outras vezes pela inercia de nao fazer nada.
Sw: Beijos. Tchau.
Ricardo: Ui, tanto drama. Toca mas é a dormir.
Wednesday, November 17, 2010
O não (tornar) a querer saber
Com algum esforço, andei tão afastado da realidade nacional, concentrado na mais-valia da informação multinacional permitida pela globalização, que quando torno a seguir o estado do país fico sempre surpreendido (desiludido). Sinto-me um verdadeiro alienígena e assim de repente, surgem-me logo meia dúzia de boas ideias:
1) Para os candidatos presidenciais: toca a trocar as campanhas nos mercados tradicionais por acções nos hipermercados (parece que agora até estão abertos ao domingo…), debitando umas palavrinhas para os telejornais enquanto ajudam a família de pretensos apoiantes a arrumar as comprinhas.
2) Para os Portugueses, em geral: desliguem, de vez, a televisão. Diz um estudo que “O cérebro de um adulto muda tanto como o de uma criança, quando aprende a ler”, já vai sendo tempo de crescerem um bocadinho.
3) Para os Chineses: comprem lá as relíquias nacionais e ajudem-nos a pagar a dívida, quando se retomar a sede especulativa vão valer mais do que o petróleo africano.
4) Para os (tele-)jornalistas: ponham um ar menos grave e sisudo, das vossas expressões (sorrisos) dependem as cotações do meu portfolio amanhã.
5) Para os moradores na Expo (Espô): não há-de ser nada, o Estado paga, o Estado tem sempre dinheirinho à custa do contribuinte, carro incendiado pelos anarquistas que conseguirem entrar, vai ser dinheiro em caixa para os presentes deste Natal.
6) Para o Santana Lopes: agora que já se sente um Senador desta República falhada (com direito a 15 minutos de aparição solene e semanal na televisão), corte lá o cabelinho esgrouviado atrás, que já não tem charme nenhum e mexa menos as mãozinhas porque já não está no palanque dos congressos.
1) Para os candidatos presidenciais: toca a trocar as campanhas nos mercados tradicionais por acções nos hipermercados (parece que agora até estão abertos ao domingo…), debitando umas palavrinhas para os telejornais enquanto ajudam a família de pretensos apoiantes a arrumar as comprinhas.
2) Para os Portugueses, em geral: desliguem, de vez, a televisão. Diz um estudo que “O cérebro de um adulto muda tanto como o de uma criança, quando aprende a ler”, já vai sendo tempo de crescerem um bocadinho.
3) Para os Chineses: comprem lá as relíquias nacionais e ajudem-nos a pagar a dívida, quando se retomar a sede especulativa vão valer mais do que o petróleo africano.
4) Para os (tele-)jornalistas: ponham um ar menos grave e sisudo, das vossas expressões (sorrisos) dependem as cotações do meu portfolio amanhã.
5) Para os moradores na Expo (Espô): não há-de ser nada, o Estado paga, o Estado tem sempre dinheirinho à custa do contribuinte, carro incendiado pelos anarquistas que conseguirem entrar, vai ser dinheiro em caixa para os presentes deste Natal.
6) Para o Santana Lopes: agora que já se sente um Senador desta República falhada (com direito a 15 minutos de aparição solene e semanal na televisão), corte lá o cabelinho esgrouviado atrás, que já não tem charme nenhum e mexa menos as mãozinhas porque já não está no palanque dos congressos.
O Saber
A parte mais engraçada do meu presente profissional é poder dedicar horas a ouvir quem sabe. Ficou-me da minha formação académica este gosto por escutar, ver apresentações ou assistir a debates sobre temas interessantes que domino apenas superficialmente e dos quais me permito aproveitar ideias com aplicação mais ou menos prática para o que faço no dia-a-dia.
Esta semana já passei umas quantas horas a ouvir um tipo que sabe muito sobre o sector da Saúde em Portugal.
Desconfortavelmente enfiados na cantina de um hospital, o Senhor dissertou sobre os problemas, as causas dos problemas, as soluções não aplicáveis e as soluções plausíveis, quase em exclusivo para mim que fiquei a saber mais sobre a matéria do que alguma vez julguei. O resultado, serão duas ou três abordagens em “consultês” que eu espero poderem vir a produzir resultados palpáveis para os utentes dos hospitais públicos.
Com este mesmo propósito, hoje e amanhã, participo num dos poucos eventos onde se apresentam e debatem ideias de futuro para a economia e sociedade deste país. Gosto destes fóruns, onde se reúne quem sabe para trocar ideias com os seus pares. O conceito de Fórum é aliás significativo, porque não é bem a mesma coisa ler sobre um tema e as palavras sem a explicação subliminar de quem as escreveu alteram profundamente a mensagem. Entristece-me que nestes eventos verdadeiramente úteis, as plateias se apresentem mais vazias do que seria recomendável e que muitos dos assistentes estejam ali mais para o networking de influência, também uma característica dos fóruns, do que para o da dita troca de ideias.
É daquelas coisas que nos faz mesmo falta, enquanto povo, a capacidade de ouvir, escutar, e reflectir sobre o saber que os outros nos trazem.
Enfim, por vezes parecemos mesmo uns pinguins, aprumados de fato e gravata, apostados em impressionar mas sem vontade nenhuma de pôr o neurónio colectivo a funcionar.
Esta semana já passei umas quantas horas a ouvir um tipo que sabe muito sobre o sector da Saúde em Portugal.
Desconfortavelmente enfiados na cantina de um hospital, o Senhor dissertou sobre os problemas, as causas dos problemas, as soluções não aplicáveis e as soluções plausíveis, quase em exclusivo para mim que fiquei a saber mais sobre a matéria do que alguma vez julguei. O resultado, serão duas ou três abordagens em “consultês” que eu espero poderem vir a produzir resultados palpáveis para os utentes dos hospitais públicos.
Com este mesmo propósito, hoje e amanhã, participo num dos poucos eventos onde se apresentam e debatem ideias de futuro para a economia e sociedade deste país. Gosto destes fóruns, onde se reúne quem sabe para trocar ideias com os seus pares. O conceito de Fórum é aliás significativo, porque não é bem a mesma coisa ler sobre um tema e as palavras sem a explicação subliminar de quem as escreveu alteram profundamente a mensagem. Entristece-me que nestes eventos verdadeiramente úteis, as plateias se apresentem mais vazias do que seria recomendável e que muitos dos assistentes estejam ali mais para o networking de influência, também uma característica dos fóruns, do que para o da dita troca de ideias.
É daquelas coisas que nos faz mesmo falta, enquanto povo, a capacidade de ouvir, escutar, e reflectir sobre o saber que os outros nos trazem.
Enfim, por vezes parecemos mesmo uns pinguins, aprumados de fato e gravata, apostados em impressionar mas sem vontade nenhuma de pôr o neurónio colectivo a funcionar.
Sky Mall (way too much fun tv)
Os Americanos (do Norte) que sabem ser despretensiosamente bimbos têm destas peculiaridades capazes de deixar extasiado qualquer Europeu armado em erudito. Naqueles voos internos que apanham como nós apanhamos um autocarro ou comboio para fazer 300 km (ameaçando que nos vai levar 1h30 de vida quando na realidade não passará dos 45 min, apenas para não arriscarem um processo judicial), servem-nos, a acompanhar a Coca-Cola num copo fundo de gelo, a revistinha do Sky Mall, cheia de acessórios ou gadgets capitalistas e divertidos, com preços terminados em 90 e qualquer coisa cêntimos, mas que bem embrulhadinhos fariam as delícias de qualquer árvore de Natal – Sky Mall online!
Destaques absolutamente idiotas (estes senhores não me pagam para isto):
Destaques absolutamente idiotas (estes senhores não me pagam para isto):
Quenching Big Thirst Fountain
Panda Rain Gauge
Bigfoot Garden Yeti Sculpture
Mobile Massage System
Cast Iron Giraffe Paper Holder
World War II Airplanes Tie
Monday, November 15, 2010
Remédio Santo
Contou-me, um dia, que quando se sentia verdadeiramente triste, assim com o coração dilacerado, por causa dos males da paixão, apostava em intensificar o efeito até rebentar em lágrimas. O truque, dizia-me, é procurares a música certa – eu cá gosto do “Into my arms” – e ouvires as palavras profundas com atenção. Caso sejas tão agnóstico quanto eu – pelo teu grau de esclarecimento sobre a vida, imagino que o és – verás que, por cada vez que o Nick Cave te alimenta com mais uma figura de estilo sobre a “existência dos anjos” ou sobre o “acreditar no amor”, vais soluçar em estilo. Podes ter que ouvir a melodia 3, 4 ou 5 vezes, mas acredita que no final, quando saíres do torpor, vais ver tudo de uma forma completamente diferente. E então atacas com o “I can see clearly now” do Johnny Nash – sabes, aquele do anúncio do nescafé – e voltas a acordar para a vida.
Sunday, November 14, 2010
Interminável
Ouvia a música inconfundível enquanto abria a porta. Encontrava-a deitada no sofá com as pernas atiradas para cima do encosto dos braços e os longos cabelos espraiados sobre uma almofada, a sua posição favorita para relaxar. Ela recebia-o com um sorriso rasgado e mágico e dizia-lhe:
- “Olá meu querido! Como foi o teu dia?”
Ele ficava parado por um momento, dois segundos, a fixá-la com os olhos semi-cerrados, observando-a fascinado, como que a querer guardar mais aquela imagem nas “polaroids” daquela vida a dois, enquanto sentia o seu próprio sorriso a abrir-se, encantado.
- “Deslumbrante… os meus dias são sempre deslumbrantes, quando te encontro assim.”
Descalçava os sapatos e pendurava o casaco no encosto de uma cadeira e dirigia-se ao sofá, sentando-se cuidadosamente para substituir a almofada em que ela se encostava. Passava-lhe carinhosamente as mãos pelos cabelos, estendendo-os sobre o seu regaço. Enquanto ela fechava os olhos de contentamento, falava-lhe baixinho:
- “Estavas a ouvir as nossas músicas…”
E ela:
- “Sim, estava aqui a pensar em ti, à espera que chegasses. Já te sentia saudades…”
Ficavam assim longos minutos a ouvir a música e a desfrutar da companhia um do outro. Ele movendo os dedos por entre os cabelos dela em cafunés doces e intermináveis.
I see you out sometimes by coincidence
Been reading about you, I know where you've been
You don't know how much I liked you and I think of you
So much to tell you, to fill you in
Where you go is where I want to be
Wherever you go is where I want to be
I wonder if it's right to call you a friend
I remember your eyes, they made me way too late
Now if I'm standing at a party waiting for the train
I know you're out there, can't wait till we meet again
Where you go is where I want to be
Wherever you go is where I want to be
Where you go is where I want to be
Wherever you go is where I want you to lead me, to lead me
So much to tell you, I have to find you
It's time I see you, I wish we were alone
And it was late at night, I met you at a party
It was a crowded room, I couldn't hear you talking
You tried to hold my hand and then you left without me
But don't you know that where you go is where I want to be
A música chegava ao fim e ela puxava-o pela gravata, devagarinho, fazendo-o curvar-se para o poder beijar e afagando-lhe o cabelo junto à nuca enquanto os lábios se encontravam.
- “O que queres fazer hoje? Saímos para jantar ou pedimos para entregar?”
- “Humm, ainda é cedo. Se te apetecer tomo um banho enquanto tu pões aquele teu vestido preto e os teus brincos, e saímos para jantar num sítio giro”
- “Sim, apetece-me sair. Mas conduzes tu.”
- “Miúda, tu estás relaxadinha, conduzias tu e íamos a um daqueles com valet-parking…”
- “És um preguiçoso, e eu faço-te as vontades… só mais uma música”
Do you think (When you know you know it)
If we could go back in time (When you know you know it)
Do you think (Listen now, listen now)
That I'd like you then (I will look for you there)
Would you try (when you see, you see it)
Not to be so mean (when you see, you see it)
And we'd ne- (Won't be long, it won't be long)
-ver just be friends (I will wait for you there)
Do you think (When you know you know it)
If we could go back in time (When you know you know it)
Do you think (Listen now, listen now)
That I liked you there (I will look for you there)
Won't you try (when you see, you see it)
Not to be so mean (when you see, you see it)
And we're now (Won't be long, it won't be long)
For just be friends (I will wait for you there)
There are times that I
Felt that this was right
There are times that I
Felt that this was right
Why do you think
This will never work
Why do you think
This will never work
There are times that I
Felt that this was right
There are times that I
Felt that this was right
Why do you think
This will never work
Why do you think
This will never work
Então, ela abria os olhos para lhe dizer:
- “Ainda bem que isto nos passou…”
E ele voltava a inclinar-se, elevando-a para si, para a beijar. Voltava a colocar-lhe a almofada confortável por debaixo da cabeça e a espraiar-lhe os cabelos, enquanto se erguia do sofá, ainda com o sorriso encantado.
- “Olá meu querido! Como foi o teu dia?”
Ele ficava parado por um momento, dois segundos, a fixá-la com os olhos semi-cerrados, observando-a fascinado, como que a querer guardar mais aquela imagem nas “polaroids” daquela vida a dois, enquanto sentia o seu próprio sorriso a abrir-se, encantado.
- “Deslumbrante… os meus dias são sempre deslumbrantes, quando te encontro assim.”
Descalçava os sapatos e pendurava o casaco no encosto de uma cadeira e dirigia-se ao sofá, sentando-se cuidadosamente para substituir a almofada em que ela se encostava. Passava-lhe carinhosamente as mãos pelos cabelos, estendendo-os sobre o seu regaço. Enquanto ela fechava os olhos de contentamento, falava-lhe baixinho:
- “Estavas a ouvir as nossas músicas…”
E ela:
- “Sim, estava aqui a pensar em ti, à espera que chegasses. Já te sentia saudades…”
Ficavam assim longos minutos a ouvir a música e a desfrutar da companhia um do outro. Ele movendo os dedos por entre os cabelos dela em cafunés doces e intermináveis.
I see you out sometimes by coincidence
Been reading about you, I know where you've been
You don't know how much I liked you and I think of you
So much to tell you, to fill you in
Where you go is where I want to be
Wherever you go is where I want to be
I wonder if it's right to call you a friend
I remember your eyes, they made me way too late
Now if I'm standing at a party waiting for the train
I know you're out there, can't wait till we meet again
Where you go is where I want to be
Wherever you go is where I want to be
Where you go is where I want to be
Wherever you go is where I want you to lead me, to lead me
So much to tell you, I have to find you
It's time I see you, I wish we were alone
And it was late at night, I met you at a party
It was a crowded room, I couldn't hear you talking
You tried to hold my hand and then you left without me
But don't you know that where you go is where I want to be
A música chegava ao fim e ela puxava-o pela gravata, devagarinho, fazendo-o curvar-se para o poder beijar e afagando-lhe o cabelo junto à nuca enquanto os lábios se encontravam.
- “O que queres fazer hoje? Saímos para jantar ou pedimos para entregar?”
- “Humm, ainda é cedo. Se te apetecer tomo um banho enquanto tu pões aquele teu vestido preto e os teus brincos, e saímos para jantar num sítio giro”
- “Sim, apetece-me sair. Mas conduzes tu.”
- “Miúda, tu estás relaxadinha, conduzias tu e íamos a um daqueles com valet-parking…”
- “És um preguiçoso, e eu faço-te as vontades… só mais uma música”
Do you think (When you know you know it)
If we could go back in time (When you know you know it)
Do you think (Listen now, listen now)
That I'd like you then (I will look for you there)
Would you try (when you see, you see it)
Not to be so mean (when you see, you see it)
And we'd ne- (Won't be long, it won't be long)
-ver just be friends (I will wait for you there)
Do you think (When you know you know it)
If we could go back in time (When you know you know it)
Do you think (Listen now, listen now)
That I liked you there (I will look for you there)
Won't you try (when you see, you see it)
Not to be so mean (when you see, you see it)
And we're now (Won't be long, it won't be long)
For just be friends (I will wait for you there)
There are times that I
Felt that this was right
There are times that I
Felt that this was right
Why do you think
This will never work
Why do you think
This will never work
There are times that I
Felt that this was right
There are times that I
Felt that this was right
Why do you think
This will never work
Why do you think
This will never work
Então, ela abria os olhos para lhe dizer:
- “Ainda bem que isto nos passou…”
E ele voltava a inclinar-se, elevando-a para si, para a beijar. Voltava a colocar-lhe a almofada confortável por debaixo da cabeça e a espraiar-lhe os cabelos, enquanto se erguia do sofá, ainda com o sorriso encantado.
Na fase do apetecível (corrigido)
Na fase do apetecível, o fácil é encontrar miúdas giras que nos deixam interessados. O difícil é ficar com a mulher brilhante que nos desperta para a vida.
Saturday, November 13, 2010
Na festa do moinho
Tinha 16 anos e apaixonou-se. Sabia que era apenas e só uma daquelas paixões fúteis de verão mas ainda assim achou que valia a pena arriscar. Na festa do moinho, agarrou-a pela mão e levou-a para um local sossegado. Declarou-se e viu que os olhos dela se lhe abriam e que não era por causa da lua cheia. Gostou daquela luz reflectida nos olhos dela e beijou-a com paixão. Ela correspondeu e depois, só depois, hesitou. Disse-lhe que não e de repente a lua escureceu. Ele não disse mais nada. Saiu a correr pelo monte abaixo na companhia de um amigo daquelas férias. Voltou para o que era seu, no final daquele verão.
My Nighttime Saving Time
A alegoria da isenção de horário é magnífica. Dois dias consecutivos com reuniões às 9h da manhã dão-me cabo do circuito. Gosto tanto mais de sair de casa no 2º turno. De não ter que “apanhar” o trânsito dos pais que deixam as crianças na escola às 8 e tal. De não ter que “gramar” as filas de trânsito dos que têm que entrar a horas para “picar o ponto”. Não fui feito para profissões de horário fixo. Não gosto de me sentir preso pela pressão do relógio logo pela manhã. Não gosto de me sentir farto do que ainda tenho para fazer quando chegam as 6 da tarde, quando meia Lisboa se encaixota nos carros em direcção a casa. Gosto das noites longas, dos jantares tardios, tipicamente latinos, e da sensação de que o dia não termina logo quando o sol se põe. Gosto do meridiano mediterrânico em que o bom das noites dura para lá da meia-noite, passado à conversa, a ler um livro ou a escrever. Não gosto de chegar a esta hora a sentir-me com o sono de quem despertou antes das 8. Gosto de persianas corridas que filtram os primeiros raios de sol. Gosto de acordar com vontade e não por obrigação. Gosto de me deitar tarde porque, então, me apetece.
Friday, November 12, 2010
A minha Secretária intelectual
Fui ao teatro e encontrei a minha Secretária com o namorado. Era uma peça para a intelligentsia, profunda, mesmo se encenada de forma descontraída e propositadamente embriagada (eu às tantas já desconfiava se os actores bebiam mesmo vodka...). Quem diria? A minha Secretária, ruiva natural (??? – os homens nunca sabem realmente a verdade sobre estas coisas), de olho azul (bom, ainda assim não faz jus à Christina Hendricks) e simpática, para além de eficiente – quando está para aí virada –, é uma intelectual. Gosto disto!
Wednesday, November 10, 2010
Para quê?
Para quê questionar? Para quê duvidar? Ele era um miúdo maravilhoso, capaz de a fazer sonhar. Perfeito? Não, claro que não. A perfeição só existe no mundo das estátuas e a maior parte das realmente perfeitas são do tempo dos clássicos. Ele também era um clássico, imperfeito é certo, mas dos bons. Mais tarde ou mais cedo toda a gente gosta, a sério, dos clássicos, nem que seja pelo efeito da idade. Bom rapaz, pleno de vontade, perfeito no olhar. Convicto e absolutamente convencido. Então, para quê questionar? Para quê pesar tanto os contras se também existem os prós? Para quê insistir em achar que não, quando sim, a felicidade mora a dois passos de distância. Mesmo...
Antecipar alternativo (porque o subconsciente não deixa de procurar o caminho)
Queria muito abraçá-lo mas ia resistir. Vinha investindo demasiado tempo, demasiado sofrimento, para agora deitar tudo a perder. Obstinada, sentou-se ao seu lado e olhou-o sem profundidade e com pouca vontade:
- Diz-me, o que pensas quando me lês?
- Eu? Eu já perdi completamente a capacidade de te interpretar. Sinto-me um índio perdido no meio do mato, incapaz de regressar a casa apesar dos sinais. Tu escreves “cair” e eu penso nas miúdas. Tu escreves Março e eu penso no “clique”. Tu escreves sobre fragrâncias e eu vou ver os compostos do meu perfume – e estão lá. É estranho e é ambivalente – eu não gosto de não perceber os significados. Não consigo interpretar-te e isso aborrece-me.
- Diz-me, o que pensas quando me lês?
- Eu? Eu já perdi completamente a capacidade de te interpretar. Sinto-me um índio perdido no meio do mato, incapaz de regressar a casa apesar dos sinais. Tu escreves “cair” e eu penso nas miúdas. Tu escreves Março e eu penso no “clique”. Tu escreves sobre fragrâncias e eu vou ver os compostos do meu perfume – e estão lá. É estranho e é ambivalente – eu não gosto de não perceber os significados. Não consigo interpretar-te e isso aborrece-me.
Tuesday, November 9, 2010
Do concerto
Foi deslumbrante. Já me tinham dito que o homem, apesar de Belga e excêntrico, cola as mãos ao piano com uma intensidade que torna a música única.
E ao intervalo, encontrei-o. Creio que já o esperava, que já o sabia. Foi ele quem me ensinou a gostar daquelas melodias. Foi ele quem assumiu o papel de irmão mais velho, fazendo de mim o irmão mais novo que não tem. Era ele quem nas férias de verão punha as clássicas a tocar na Marantz quando acordávamos, tarde, de mais uma noite de borga, abrindo a janela para as vinhas que faziam crescer as uvas ao som daqueles acordes vespertinos. Era ele quem me assaltava as prateleiras de livros bons, da mesma forma que eu assaltava as dele. Temos tantos livros trocados, os meus em casa dele, os dele na minha que por vezes penso no significado verdadeiro da palavra influenciar. Gosto disso. Gosto de conhecer bem as pessoas que me marcam a vida, da dedicação que foram capazes de colocar em mostrar, apresentar, indicar, as coisas boas que a minha vida tem. E ele estava ali sozinho, recém-separado e meio macambúzio, deixando-me triste por não o ter convidado, a ele, para me fazer companhia no concerto:
- Estás a gostar?
- Muito!
- Magnífico, não?
- Sim, e a Tatiana – ou Tatjana –, a violinista: hipnótica.
- Sim, já o tinha visto aqui em 2005 e este está a ser ainda melhor.
Monday, November 8, 2010
Calzedonia
Entra-me no carro e reclama com a música que estou a ouvir: “Ricardo, essa música é deprimente”. E eu respondo-lhe que não, que é o Concerto para saxofone e violoncelo do Michael Nyman, que pode até ter umas partes tristes, mas que acaba em Allegro crescendo e que quem está a tocar é “só” o Julian Lloyd Webber.
Deprimentes ou deprimidos são os portugueses que param para observar minuciosamente cada batida de carros provocada pela chuva que cai, entupindo o trânsito à nossa frente. Deprimentes são os nossos governantes incapazes de controlar a situação a que os mercados acham que o país chegou. Deprimente é o Benfica levar uma goleada das sérias, sabendo que isso vai afectar metade do povo cá do rectângulo. Deprimentes são os jornalistas que não dão uso à boa cortiça nacional para enfiarem umas belas rolhas pelas bocas, insistindo em debitar notícias negativas e em perseguir mais um desgraçado de um funcionário público que teve o azar de se destacar e merecer um aumento em ano de apertar o cinto.
E depois chego a casa e na televisão passa este anúncio deslumbrante, cheio de vida, da Calzedonia (Calzedonia - Speriamo che sia femmina) e pergunto-me porque é que nestas alturas de depressão colectiva ninguém se lembra do importante que são as imagens boas do “West Coast of Europe”, do “Wonderful Portugal” ou do “Vá para fora cá dentro”.
Sunday, November 7, 2010
o banzé
Estes dias em que durmo até tarde e sonho contigo (connosco) horas a fio são um banzé. Sentir-te assim tão intensamente próxima, como se estivesses mesmo ao meu lado, é um banzé dos grandes. E quando acordo, tenho o cabelo comprido todo espetado como o do meu cartoon favorito.
Saturday, November 6, 2010
O schmuck em “A Woman to Love”
“Yes, honey. The schmuck, who deserves to die, worries about you. Sometimes worrying about you feels like a full-time job.”
- Jack Nicholson – brilhante, como só ele sabe
- Jack Nicholson – brilhante, como só ele sabe
a Muralha
Mesmo depois de afirmar que não acreditava em muros, construiu uma Muralha. Uma Muralha mesmo grande, daquelas com “M” grande e com a largueza da Muralha da China. Fechou-se do lado de lá, do lado do Reino do Meio. Apesar de dizer que não gostava, foi lá que se refugiou, deixando-o do lado de cá. Do lado de cá das pedras intransponíveis, mesmo para um David Copperfield (foleiro) desesperado pela Claudia Schiffer (gira, mas kitsch). Deixou-o perdido por tempo indeterminado, sem saber nada mais do que a ilusão do que ainda sonhava, com ela.
(David Copperfield Going Through Great Wall of China Revealed - um bocadinho seca, mas sempre dá ver como se cria uma ilusão.)
(David Copperfield Going Through Great Wall of China Revealed - um bocadinho seca, mas sempre dá ver como se cria uma ilusão.)
Nick Hornby’s top-lists-technique – Japoneses em Lisboa
Depois de completar a ronda pelas novidades que este ano trouxe, temos:
1. Suntory
2. Sushi Bar @ Bica do Sapato
3. Yakuza
4. Assuka
5. SushiRio
Fora da lista mas dignos de menção ficam: Clube do Sushi, Café Sushi e Origami.
O melhor na categoria Oriental-degustação (definitivamente, a novidade do ano): Umai
O melhor (pra' sempre?) na categoria Oriental-noodles-descontraído: New Wok
Thursday, November 4, 2010
Ainda o brilho complicado e complexo das mulheres
Não sei se é efeito deste início de pequeno Verão de São Martinho em que depois do fim-de-semana de chuva copiosa parece que toda a gente decidiu sair da toca, mas estes últimos dias têm sido um manancial de reencontros. Será também por causa do avançar da idade, eu gosto cada vez mais de reencontros do que de encontros, definitivamente.
Saí para jantar e reencontrei a R. que para quase todos os homens que conheço e a conhecem a ela é sinónimo de “a mulher perfeita”. Bonita, bem-disposta, com neurónio e bem sucedida, tem aquele brilho suave e encantador de miúda que foi capaz de ultrapassar todos os obstáculos da vida e conseguir o que sempre quis. Admiro-a por isto tudo e também porque consegue ser, honestamente, simpática com todos, como só as miúdas do norte. Mas (nestas reflexões sobre o alheio, há sempre um “mas”) eu que a conheço bem e que durante largos meses com ela privei, dia após dia, sei que lá por dentro é uma complicada das fortes. Um dia chegará a CEO de uma qualquer grande empresa, porque tem “garra” para isso e, provavelmente, até será casuisticamente feliz com o, por agora, namorado que por acaso também é meu conhecido, por intermédio de um amigo em comum que recordo me costumava dizer “complicado, nada é complicado, quando muito complexo... complicadas são as mulheres!”.
(Nota: este post está no mínimo confuso mas não me apetece desfazer o novelo)
De volta ao bom dos reencontros, a parte singular destes é que nos trazem sempre à memória o encontro anterior. Da última vez que tinha visto a R., ela estava no meio de uma multidão, numa espécie de concerto, e eu, naquela noite, estava tão próximo da felicidade suprema, tão próximo do apaixonado absoluto, absolutamente convicto do meu amor por uma miúda verdadeiramente complexa e que me sabia derreter com a sua complexidade brilhante, que me lembro de ao ver aquela “mulher perfeita”, para todos os outros, me ter apanhado num pensamento paralelo e linear a concluir que o encanto das mulheres depende mesmo do grau do complexo e não do complicado.
Saí para jantar e reencontrei a R. que para quase todos os homens que conheço e a conhecem a ela é sinónimo de “a mulher perfeita”. Bonita, bem-disposta, com neurónio e bem sucedida, tem aquele brilho suave e encantador de miúda que foi capaz de ultrapassar todos os obstáculos da vida e conseguir o que sempre quis. Admiro-a por isto tudo e também porque consegue ser, honestamente, simpática com todos, como só as miúdas do norte. Mas (nestas reflexões sobre o alheio, há sempre um “mas”) eu que a conheço bem e que durante largos meses com ela privei, dia após dia, sei que lá por dentro é uma complicada das fortes. Um dia chegará a CEO de uma qualquer grande empresa, porque tem “garra” para isso e, provavelmente, até será casuisticamente feliz com o, por agora, namorado que por acaso também é meu conhecido, por intermédio de um amigo em comum que recordo me costumava dizer “complicado, nada é complicado, quando muito complexo... complicadas são as mulheres!”.
(Nota: este post está no mínimo confuso mas não me apetece desfazer o novelo)
De volta ao bom dos reencontros, a parte singular destes é que nos trazem sempre à memória o encontro anterior. Da última vez que tinha visto a R., ela estava no meio de uma multidão, numa espécie de concerto, e eu, naquela noite, estava tão próximo da felicidade suprema, tão próximo do apaixonado absoluto, absolutamente convicto do meu amor por uma miúda verdadeiramente complexa e que me sabia derreter com a sua complexidade brilhante, que me lembro de ao ver aquela “mulher perfeita”, para todos os outros, me ter apanhado num pensamento paralelo e linear a concluir que o encanto das mulheres depende mesmo do grau do complexo e não do complicado.
Monday, November 1, 2010
mar de prata
Mais um almoço de domingo junto ao rio, com os progenitores e uma prima. Dia de chuva, sem regatas. Na mesa ao lado, senta-se uma miúda loira e gira, muito gira mesmo, alta e com um corpo fabuloso, tão afirmativa que chega a ser provocadora. Mas falta-lhe o charme, falta-lhe o brilho, na realidade falta-lhe quase tudo. E eu dou por mim a olhar o rio marcado pelo sol, um mar de prata, e a concluir que nem tudo o que reluz é ouro.
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