A felicidade tem uma composição difícil com ingredientes gourmet, especiarias muitas vezes distantes e sensações em castelo. Com uma base sustentada de vida bem vivida, doses acumuladas de boas recordações e uma escolha improvável de amigos capazes de nos encherem o coração. A camada dos amigos pode sujeitar-se a escolhas diferentes ao longo do percurso. Eu já fui mais apologista de que o importante era ter um em cada mão, daqueles verdadeiros a quem sabíamos poder recorrer em qualquer instante. Hoje sou menos ortodoxo, acho que nos fazem mais falta os amigos com vida do que os amigos para a vida. Ainda assim é essencial ter uns quantos que sejam profundos e que nos conheçam no íntimo. Também é necessário termos referências porque à medida que crescemos vamos decifrando com outra capacidade tudo aquilo que nos foram transmitindo sobre os factos da vida, mesmo quando já não estão cá para os consultarmos. Aí entra em jogo o factor memória e a importância do passado que é essencial ter bem arrumado, para vivermos plenamente o presente. Depois, existem as imagens mentalmente fotografadas sem as quais a capacidade de sonhar seria impossível. Para as acumularmos há que viajar, conhecer gente e distinguir com inteligência o importante, do interessante que muitas vezes se confundem. Nisto pesam diferentes perspectivas, de género, de idade e de motivações. Para mim os desafios são relevantes, mas não tem que ser assim para toda a gente. Traçar objectivos muito pensados e regrados pode ser negativo, porque ainda que nos ajudem a definir um rumo retiram a capacidade de nos deixarmos levar quando muitas vezes não há coisa melhor. Sabermos mudar é imprescindível. No recheio das sensações é bom conservarmos umas quantas palavras, músicas, filmes e lugares que temos como especiais, ainda para mais sabendo que provavelmente também o são para mais uns quantos milhões. A felicidade também passa por isso, pela sabedoria de saber partilhar as coisas que tomamos como univocamente nossas. E aqui chegamos à magia do infinito que mesmo sem compreendermos podemos pretender tomar como seguro e sobre o qual cada um pode fazer, sim, a sua interpretação exclusiva. Não devemos é deixar de o aceitar, sem medos. Sem medo, é também o moto de quem quer alcançar algo muito difícil: saber amar. Amar à séria é uma hipérbole bastante irracional e implica acreditar. Implica também, claramente ou obviamente, encontrar o sujeito perfeito, pelo menos aos nossos olhos e não o confundir com um objecto. Filtrando o óbvio, os objectos servem para gostar, são giros, ficam bem ali, transmitem-nos uma sensação de conforto, são agradáveis cheios de design ou cores bonitas. Os sujeitos perfeitos encaixam em nós, movem-se ao ritmo que julgamos ser o nosso, são animados e gostamos da forma como o fazem, sem paralelo. Para se chegar lá, há que esperar, encontrar e conseguir, o absolutamente inexplicável: reciprocidade. E então, chega-se ao mais fácil, porque é só isso que o cupido espera: entusiasmo aos molhos.
1 comment:
entusiasmo e fruição p a Demanda. viver como viajar.
Post a Comment