Aquele foi um ano de aventuras grandes e emoções férteis. Num verão não demasiado quente de calor, recordo-me de esperar por ela, mal desperto, pouco passava das 7 da manhã. Papillion selado e com os arreios bem postos, esperei uns bons 20 minutos, numa manhã fria para Agosto, até ouvir os cascos do Rouxinol a passo pelo alcatrão. Nunca entendi, porque decidiu dar nome de passarinho a um cavalo – há lá espécies mais diferentes. Saí pelo portão da quinta ao seu encontro e inclinámo-nos para nos beijarmos. Descemos a passo e a par pela estrada até ao cruzamento. Ali, metemos pela terra batida e começámos o trote. Ela a olhar-me de esguia, enquanto eu lhe dava primazia, com o cabelo ondulado e selvagem pretensamente preso por um “frufru”, daqueles que se usavam na época. No final do caminho encontrámos o que sabíamos, campo livre e Arrábida à vista para o galope em corrida, mesmo que cautelosa. “Até ao outeiro, Ricardo!”, gritou-me e, naturalmente, ganhou-me porque sabia montar tão melhor que eu, medroso, mesmo sendo o Papillion mais rápido que o grosso Rouxinol. Sorriu para mim, competitiva, sabendo o que isso me agradava – sempre gostei de miúdas assim, desafiantes para depois se tornarem meigas, como com aquele sorriso. Ela poderia ter sido a “mulher da minha vida”, se naquele tempo eu não me tivesse perdido de amores por outra ainda menos dócil. Voltei a vê-la há uns dias, mãe e feliz – como provavelmente não teria sido se tivesse continuado comigo. Deve ter-me achado triste e estranhado como ainda estou “sozinho”.
1 comment:
Quem escreve o que sente assim, não merece estar sozinho. beijinho
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