Naquela manhã ele voltou a acordar muito cedo, pouco passava das 7 da manhã. Vestiu uma t-shirt cinzenta, os calções desportivos e calçou os ténis por cima das meias caneladas. Saiu para a rua onde já fazia calor. Dirigiu-se ao caminho de tartan e começou a correr. A primeira volta custou-lhe, sentiu os músculos doridos pelo esforço dos dias anteriores. Percebeu que estava a dar passos curtos e alargou bastante a passada. Na segunda volta ao percurso sentiu o coração descompassado mas a respiração já estava segura. Concentrou o pensamento naquilo mesmo, no coração descompassado, tentando interpretar se seria por causa da corrida ou ainda pela dor imensa que lhe ocupava o peito. Começou a terceira volta, a correr a bom ritmo, pensando como tudo deveria ser diferente, mais justo. Foi então que deu por si no meio de uma dúzia de trabalhadores que se dirigiam às obras, em contra-mão. Observou-lhes os rostos carregados e as mãos calejadas, segurando sacolas aos ombros. Gritou-lhes “bom dia” e imaginou-se um personagem do Tolstoy, daqueles cujos nomes terminam sempre em “itch” e que garbosamente vestidos, reflectem sobre a cena em que montando a cavalo, no meio da floresta, dão por si no meio dos camponeses esfarrapados e ao frio. Sentiu-se um príncipe dos tempos modernos, a fazer jogging concentrado nos males da paixão, quando a vida tem tantas outras preocupações. Já ninguém morre de amor?
5 comments:
A questão é para quê?
para isso é preciso apaixonarmo-nos a sério...
... e eu que pensava ter atingido o máximo da escala!
Morre-se da amor e desamor... aos poucos...
Inês, isso é definhar e não há nada pior.
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