E foi durante aquele jantar a dois, naquela esplanada num recanto da cidade, mergulhado num vento quente e seco, que ela lhe chamou de “Dalai Lama” e traduziu-lhe o significado das palavras tibetanas para: tu és o meu “mar de sabedoria”. Conheciam-se há alguns anos, 6 ou 7. Ele era mais velho, também 6 ou 7 anos, mais experiente, mais capaz de interpretar aqueles olhos azuis, inseguros, que o observavam desde o outro lado da mesa. Ele sempre soubera que não devia deixar-se levar pelo encantamento daquela miúda mais nova. Soubera-o desde o momento, alguns anos antes, em que se haviam encontrado pela última vez, num almoço tardio, numa outra esplanada aquecida pelo sol, apenas os dois, numa mesa isolada e envolta pelo calor do pino do verão. Fora talvez esse mesmo calor que lhes havia aguçado o apetite e a memória um do outro, e por isso tinham combinado aquele jantar. Ele conhecia-lhe o fascínio pelas religiões orientais e a admiração pelos costumes tibetanos. Ele falou-lhe vagamente sobre um artigo que havia lido recentemente, que propunha a mesma raiz genética para os povos Han e Tibetano – extremamente ofensivo para os dois “credos” que se consideravam reciprocamente superiores um ao outro. O pormenor das diferenças marcado por 3 mil anos de apuramento da “raça” e da vida a grande altitude. Em qualquer caso, deixava a questão no ar: seriam os Tibetanos descendentes dos Han ou vice-versa? Mas aquela conversa, mesmo se a dois, não passava dali e foi quando ela soltou aquela frase, verdadeira para ela, que ele se sentiu cansado de tudo aquilo, olhou-a nos olhos, bonitos, e deu-lhe o seu “namasté”.
2 comments:
lo que yo queria, gracias
Aprendi muito
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