Ela via-o quase todos os dias. Esperava por ele junto ao embarcadouro da Rialto. Percorria demoradamente as margens do Canal Grande pelo passadiço do lado do bairro de San Polo. Desesperava por vê-lo avançar ao final de cada tarde na sua lancha de madeira reluzente. Perdia-se a observar os pares de namorados e amantes, a maior parte turistas encantados pela sua cidade, que atravessavam a ponte de mãos dadas ou que se sentavam na pedra quente, enquanto se beijavam, com as pernas descaídas para a amurada à beira da água. E instintivamente, quando o via vir na sua direcção, invariavelmente de pé e apenas com uma mão a segurar o volante, sabia que também ele a observava, por detrás dos seus óculos escuros, que escondiam aqueles grandes olhos negros que ela tão bem conhecia. E pensava para si mesma: só quem nunca amou ao ponto de ter que saber conquistar, resiste assim ao que eu tenho para lhe dar.
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