Queria muito abraçá-lo mas ia resistir. Por isso, agarrava-lhe as duas mãos com força, segura, e olhava-o de frente com os olhos bem abertos:
- Diz-me, o que queres de mim?
- Miúda, há uns dias atrás pus estas mãos – que agora estás a agarrar com tanta força que me começas a magoar… e estou a falar a sério, por favor, não as apertes tanto! – em “ponto de reza”, assim com os dedos perfeitamente encostados uns aos outros, em simetria, e pronunciei o teu nome bem alto, projectando a voz para ser ouvido. Depois, fiquei a sentir-me parvo de todo, porque como tu sabes não acredito nada no efeito prático destas coisas.
- E…?
- E nada, foi estranho ter feito aquilo e agora estar aqui, assim, contigo. Quase me leva a desconfiar de certas convicções que tenho como muito minhas.
- Sim, e voltando à minha pergunta, de que pareces estar a querer fugir...
- Não, eu não fujo. Fugir não é um verbo meu. Gosto é de perceber e explorar com exactidão as impressões que me surgem de vez em quando e que, de repente, num determinado contexto ou situação ainda me conseguem surpreender.
- Vá lá… não divagues. Já sei que estás a tentar ganhar tempo, mas responde-me!
- O que eu quero para nós é complexo. Bom, mas também difícil e não te quero assustar. Prefiro que comecemos pelas partes simples e que vamos construindo a partir daí. Por agora, apetece-me estar contigo. Sair contigo, trocar ideias, sentir-te, ter a tua companhia. Tu sabes, aquela parte do namoriscar. Não posso partir do pressuposto de que há uma base maior para o que podemos ser. Mas também sei que cá dentro, continuo cheio de sentimentos bons por ti, que não fui capaz de expurgar. E compreende que eu tentei. Apeteces-me, como nunca ninguém antes, é o que é. E sim, francamente, tenho receio que seja pela forma como deixámos as coisas acontecerem. No entanto, acredito nisto e eu sou irrepreensível com este verbo, mas isso tu já sabes. Por isto tudo: não voltes a fugir, deixa-te sim vir ter comigo…
- Abraça-me, com força!
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