Thursday, January 19, 2012

Papagaios-de-papel sobre a favela (ou uma carta de amor)

Foi quando vi dois papagaios-de-papel a sobrevoar a favela que me senti encantado com a memória da fotografia tirada num compasso das tuas palavras.
Amor, amor assim sente-se do nada e sobrevive porque é bom. Este tipo de amar, que releva tempo e distância, transforma-nos a vida em cada pedacinho dedicado e faz-nos astutos. Pressentimos o que está para lá do vazio.
Sento-me na tua posição preferida e está uma neblina baixa que mal deixa ver o outro lado do rio, mas que faz sobressair a dança dos papagaios-de-papel. Sinto o meu cabelo, muito comprido, a acompanhar a imagem do teu sobre a almofada de marca. São estas imagens que me marcam, de ti e de nós nos estreitos momentos em que nos fazemos felizes.
A temperatura baixa com o sol escondido mas o que sinto por dentro não me deixa arrefecer. Há algo aqui, na redoma redonda que eu entendo ser a alma que me aquece continuadamente desde o dia em que comecei a gostar de ti. Aprendi a amar-te desta forma maravilhosa e tu respondeste-me com a reciprocidade de te sentires apaixonada pelo menos em dois momentos igualmente distantes.
Tu que acreditas nas estranhas energias, devias compreender que a tua alma comunica com a minha. Por vezes parece um telégrafo restrito a pontos e traços, outras é mesmo uma intensidade de palavras e imagens trocadas em banda-larga.
Há dois giros atrás já nos tínhamos encontrado mas ainda não sabíamos o que significava. Há uma revolução do astro, adormecias feliz nas camisolas sobre o meu peito. O futuro era como esperávamos, brilhante, e hoje continua assim mas com um céu aberto como os dois papagaios-de-papel a voar sobre a favela que se vêem da nossa varanda.

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