Naquele verão voei para Berlim sentado no lugar 23F de um Fokker 100 sem ninguém a fazer-me companhia. Passei as 3 horas da viagem a espreitar pela janela, desperto pelo ruído monótono e ensurdecedor dos motores, a observar a paisagem por entre um céu cristalino sem a sombra de uma única nuvem. Sentia-me vazio e absolutamente insensível, incapaz de me deixar maravilhar pela imagem dos campos da Alemanha – ninguém deveria deixar de viver sem ver os campos da planície alemã a 30.000 pés – esplendor máximo de civilização entrecortados a castanho e verde. Pensava em mim, puramente em mim, e onde o destino perdido me levava. Sem qualquer fulgor da alma, sem qualquer resquício da minha personalidade. Ausente naquela manhã de ausência com o sol nascente pela frente. Era eu e só eu, a imaginar vidas passadas, até que na distância surgiu a metrópole espraiada pela imensidão da Prússia e cortada pelas curvas do Spree e eu acordei para a vida real.
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