Naquele ano eu quase me afoguei em São Martinho. Eu e o Francisco, fizemo-nos ao mar na baía mas este estava calmo demais e a brisa era pouca. Demos por nós parados bem no meio da concha quando o barquito começou a meter água. Saltámos borda fora para não afundarmos a embarcação e nadámos sem coletes com a barcaça a reboque. Quando alcançámos a praia estava enregelado até aos ossos e sentia a barriga cheia de água salgada. Naquele verão eu portei-me mal contigo. Deixei-me enfeitiçar por uma loirinha gira, perdi ao ping-pong com o “outro amor da minha vida” e deslumbrei-me com a liberdade das férias de rapazes. Fizemos muitos disparates: alta-velocidade pelos pinhais de São Pedro de Muel sem luzes, confusões nos torneios de snooker da Foz do Arelho, banhos de espuma na Green Hill, ao som do “Losing my Religion”, sem fé nenhuma, e desintoxicações no hospital das Caldas. No dia em que me foste visitar, convidei-te para um jantar romântico com vista para a baía mas acabámos a discutir numa tasca da vila. Tu fugiste para Palma de Maiorca e eu fui de visita para Roma que amei. Quando regressámos, eu vinha doente com uma pleurisia e tu com a pele esturricada pelo sol e chamei-te ovo estrelado. Caímos nos braços um do outro, nos jardins do Campo Grande, e tu estavas tão bonita e eras tudo o que eu pedia à vida, mas nada, nunca mais, voltaria a ser como dantes. E eu hoje, abraçava-te enquanto caminhávamos, e pensava para os meus botões, porque nos perdemos em 1991...
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