Chamava-se Maria e tinha um coração enorme, três vezes maior do que o comum dos corações. Na meninice sofrera de uma virose que lhe tinha afectado o coração e este crescera desmesuradamente, apertando-lhe o peito por dentro, mesmo à medida que crescia. E ela cresceu, tornando-se uma miúda bonita, primeiro, e transformando-se numa mulher perfeita, depois. Viveu sempre a vida despreocupada mesmo com aquele aperto vindo do interior. Encantava as pessoas com o seu jeito e com aquelas batidas compassadas que se ouviam quando ao perto. No dia em que conheceu o amor, encontrou-o numa esplanada abafada pelo sol quente do início da tarde. Era o final da época dos dias de chuva e ele apresentava-se constipado. Surgiu-lhe sem aviso, metendo conversa desde a mesa ao lado enquanto ela fumava um cigarro que o fizera sentir-se incomodado, com o fumo a interpor-se entre os olhos e o livro que lia. E logo ali, quando ele a interpelou, olhos nos olhos, ela sentiu o coração grande a querer sair do peito para fora, descompassado. E não se fez rogada, aprofundando a conversa, que surgira do nada, e apagando o cigarro. Ao cair da noite ambos estavam dominados um pelo outro, conhecendo-se tão devagar quanto o tempo, pausado, havia permitido. E ele arriscou beijá-la profundamente mas sem a agarrar ao que ela correspondeu prendendo-o simplesmente com os lábios. E sentiram-se bem, desejados um pelo outro como nunca ninguém. E com aquele beijo bem preso no ar, ela deixou-se contaminar por aquela estirpe de vírus moldada pela personalidade dele que se instalou no coração grande dela. Maravilha da genética, passaram a amar-se.
6 comments:
Sonhei ou este post já aqui tinha estado há uns dias atrás e foi depois removido ? Agora o post foi intencional ou erro ao copiar e colar ? :-)
Também eu acho que já tinha lido este texto!
eu ainda não tinha lido, mas está lindo como tantas outras coisas que escreves por aqui. :-)
Pede-se desculpa aos leitores (não anónimos). É o estado instável em que se encontra este blog. Apaga-se o que não se gostou de escrever e depois recupera-se o que afinal se gostava.
Ricardo.
Apagou-se mal. Gosta-se bem.
Está excelente (se é que a minha opinião pode contar para alguma coisa).
Claro que sim, Maria. Este blog é para leitores de bom gosto.
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