Sunday, July 25, 2010

a praia

Encontravam-se a meio da tarde no empedrado e desciam pela passadeira de madeira até à areia, lado a lado. Caminhavam, olhando um para o outro sem se falarem, num silêncio que ambos sabiam confortável, enquanto apreciavam os tons da pele um do outro que tão bem conheciam. Ele de cabelo algo comprido, meio despenteado e castanho esbatido pelo sol, de bermudas caqui e t-shirt azul-escura com a toalha na mão. Ela com um vestido giro sobre o bikini, saco gigante ao ombro, o cabelo loiro meio enfiado no chapéu de palha e olhos protegidos pelos óculos de sol. O vento soprava quente vindo do mar e por isso escolhiam estender as toalhas junto à protecção de um muro de pano para alugar. Deitavam-se na perpendicular com as caras muito próximas e ela tirava os óculos para se verem olhos nos olhos. Não se viam há muito tempo mas não se tinham perdido. Os dois sabiam o que havia ali, apesar da distância e da ausência quase extrema. Não precisavam de se tocar para continuarem a sentir-se enfeitiçados, embora o toque fosse verdadeiramente encantador para um e para o outro. Conversavam então, longamente e ao sabor do vento, mais sobre o presente do que sobre a história passada. Contavam-se as novidades e ansiedades do momento, de forma perfeita e em sintonia. Trocavam algumas ideias sobre o futuro, sabendo que se poderiam tornar reais. Ela passava-lhe a mão sobre a face percorrendo-a até às pontas do cabelo solto. Ele fazia-lhe festinhas no braço até à altura do ombro. Procuravam o beijo no preciso momento em que o vento os atacava do outro lado do muro e tinham que fechar os olhos para se protegerem da areia. Sorriam por saberem tão bem que só a eles lhes poderia acontecer assim, como se até os elementos conspirassem para que tudo fosse tão único. Adiavam então o beijo, e caminhavam pelas dunas com as mãos presas apenas pelas pontas dos dedos, finalmente.

2 comments:

ines said...

Ricardo, que praia tão linda. Gosto muito quando escreves assim, meio descritivo. beijinhos

Ricardo said...

I., mesmo sendo ficção, um dia será real, numa praia qualquer...