Entre o calor húmido, a sensação da pele peganhenta, a profusão
dos corpos siliconados à beira-mar e as noites mal dormidas dos insectos, fui
abrindo os olhos protegidos pela sombra da palhota, uma vez após outra, vindo
de um sono obtuso. Nos despertares, apeteceu-me regressar às tardes de sol e
vinho verde no Atlântico do outro lado. Apeteceram-me os disparates dos amigos
quando ainda éramos muito novos. Apeteceu-me ser o rapazinho mulato a correr
para norte, sem deixar pegadas na areia molhada. Apeteceu-me encarnar a vida
aparentemente despreocupada do vendedor que, para lá e para cá, insistia em
parar para oferecer bugigangas. Apeteceu-me ter o exclusivo do gelo para os sucos
e caipirinhas, e fazer fortuna à custa dos veraneantes emergentes. Apeteceu-me
realmente a inspiração para escrever um romance digno de história, sob o efeito
do sol e da pele esturricada. Finalmente, desejei um helicóptero na volta para
a cidade.
(e acho que trouxe uma melga comigo que me está para
aqui a tentar morder os pés, enquanto escrevo isto, apre melga!)
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