Monday, February 6, 2012

A praia e as bugigangas

Entre o calor húmido, a sensação da pele peganhenta, a profusão dos corpos siliconados à beira-mar e as noites mal dormidas dos insectos, fui abrindo os olhos protegidos pela sombra da palhota, uma vez após outra, vindo de um sono obtuso. Nos despertares, apeteceu-me regressar às tardes de sol e vinho verde no Atlântico do outro lado. Apeteceram-me os disparates dos amigos quando ainda éramos muito novos. Apeteceu-me ser o rapazinho mulato a correr para norte, sem deixar pegadas na areia molhada. Apeteceu-me encarnar a vida aparentemente despreocupada do vendedor que, para lá e para cá, insistia em parar para oferecer bugigangas. Apeteceu-me ter o exclusivo do gelo para os sucos e caipirinhas, e fazer fortuna à custa dos veraneantes emergentes. Apeteceu-me realmente a inspiração para escrever um romance digno de história, sob o efeito do sol e da pele esturricada. Finalmente, desejei um helicóptero na volta para a cidade.
(e acho que trouxe uma melga comigo que me está para aqui a tentar morder os pés, enquanto escrevo isto, apre melga!)

No comments: