Hesitava, ponderava, recusava e pensava sobre o assunto. Voltava
atrás, sentindo-se livre, sorria com os lábios cheios, em estrela. O convite dizia
só: “Vem comigo, dou-te o espaço todo que quiseres, mas vem comigo.” Quando o
silêncio deixava de lhe parecer suficiente, aceitava.
Ele esperava por ela à hora marcada, pronto e com a
expressão de sorriso aberto que ela reconhecia e que a fazia feliz. Deixava-se
conduzir, deixava-se cativar, mais uma vez, pelas palavras dele que entrecortavam,
infinitas, o espaço solarengo Alentejo adentro. Ele observava, para ela, os
campos infinitos ao longo do caminho, deixando-a absorver a planície e a lisura
das flores transformadas pela luz. Ela sentia-se especial, viva, enquanto ele
lhe fazia festinhas na mão. Ela apanhava-lhe os dedos, daquela forma especial
que não sentia com mais ninguém. Deixava de se sentir presa, ao longo da
estrada, e concluía que afinal amava os pensamentos dele, quando ele lhe
descrevia a história dos ciprestes na paisagem.
Chegavam ao destino, ao retiro, que era mesmo uma espécie de
convento, fugiam para o quarto, animado pelo branco das paredes e pelos sons
característicos do pueblo. Acendiam a lareira no espaço ao lado e deitavam-se
lado a lado, a respirarem o ar frio mas fresco, e metiam-se debaixo da roupa
enquanto se sentiam aquecer para perderem a dita.
Encontravam-se nos corpos, no amar e no olhar trocado com a
luz do final da tarde, entrante pela janela pequena mas imensa no despertar do
que sentiam os dois.
(De volta ao presente, eu estou perdido na cidade, com
o jasmim para regar, e tu estás com quem sabes. Ambos procuramos felicidade nas
palavras e na certeza do que sabemos)
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