Escrevo porque gosto muito. Escrever é, para mim, o exercício supremo. A inteligência humana colocada perante o desafio de dizer o que lhe vai na alma. Escrevo mais, muito mais, do que o que vou publicando por aqui. Desde muito novo, em cadernos de folhas brancas, depois em Moleskines e no Word. Hoje em dia, até no Blackberry, de teclado completo. Já escrevi em inglês, espanhol e até um pouco em francês, para além do português, dependendo da vontade. Já escrevi ficção e muita realidade. Histórias curtas e capítulos avulsos, como esboços de um romance que um dia vou escrever numa janela com vista sobre Siena. Para além de quem gosta de me ler aqui, tenho fãs de carne e osso, que foram tendo a sorte de lhes escrever algo dedicado. Acho isso equivalente a pintar um quadro, ou compor uma melodia para se oferecer a alguém. Muito do que escrevi foi plenamente oferecido. Talvez não tão valorizado, porque o sentido da estética na escrita é menos imediato do que as sensações permitidas por um Rothko pendurado na parede, a perfeição das mãos de um Rodin ou o deslumbramento das Valquírias do Wagner. Actualmente, escrevo mais do que leio, porque escrever bem perdeu-se com a democratização da literacia, e restam poucos autores que mereçam realmente ser lidos. Estranhamente, creio que ao contrário da maior parte das pessoas, escrevo mais com o tempo quente do que no inverno, e gosto, particularmente, de ter água por perto. Uma praia é quase um lugar perfeito para eu escrever. Há também alguns lugares que me inspiram, para além do labirinto de Siena. Aviões. Quase sempre que voo apetece-me escrever, em particular se tenho a janela com uma vista sobre as nuvens ou a Terra. Já escrevi coisas bonitas no terraço da Tate Modern, no alto da escadaria da Piazza di Spagna e em algumas esplanadas com vista para Lisboa. Creio que o turbilhão das gentes lá em baixo, os telhados e a vista do céu me inspiram. Escrever tem o dom de não acompanhar o pensamento, escreve-se necessariamente mais lento do que se pensa e isso é fascinante porque obriga ao “ralenti”, permitindo o duplo ou triplo pensamento.
2 comments:
Ou eu dei uma pirada ou algo estranho aconteceu, porque eu tinha lido Chuva em Lisboa e, agora, vi que o nome do blog é Calor em Lisboa.
Podia ter escrito isso. Tirando os sitios em que já escrevi, que são um pouco diferentes.
O avião e a praia, sim, sem tirar nem pôr!
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