Foi talvez quando voltou a ouvir, por sugestão, o Keith Jarrett de há meia vida atrás, ou debaixo do chuveiro num final de tarde muito quente, que se apercebeu de que estava a mudar. Uma mudança astronómica que tinha parecido disciplinada no meio do turbilhão das sensações.
Constatou-o pela quantidade de palavras que vinha escrevendo, em crescendo, desde há uns 6 meses atrás. Constatou-o pela forma mais sentida como começava a interpretar a vida. Constatou-o pelas últimas conversas verdadeiramente profundas que havia tido. Constatou-o com o imenso calor do verão que lhe envolvia o corpo.
Alguns meses antes sentia-se feliz consigo mesmo, sem obrigações ou grandes desejos. Vivera uma larga temporada de olhos fechados e tranquilo, mesmo se entretido. Depois acontecera-lhe tudo de forma sinfónica e isso ajudara a despertá-lo.
Percebeu que na vida profissional estava a um passo do cume e que os novos desafios, a partir dali, seriam apenas uma questão de tempo ou vontade – sentiu-se realizado. Percebeu que sobre o significado da vida já muito havia explorado – as respostas importantes continuariam a surgir ao acaso. Percebeu que conhecia mais e melhor o mundo do que alguma vez concebera – faltava-lhe o imprevisto. Percebeu então o que realmente queria…
3 comments:
Gostei muito.
Parabéns pelo post!
As minhas pessoas mais próximas, já me ouviram dizer: posso nem sempre saber o que quero, mas sei o que não quero! Mas sabe tão bem quando se sabe exactamente o que se quer!... Mas não é um sentimento permanente... o que, bem feitas as contas, até é bom!
Humm, alguns quereres são melhores permanentes...
Post a Comment