Monday, February 1, 2010

eu camaleão

Gosto de mudanças e narcisicamente, gosto de mudar. Dizem os astros que sou gémeos do mais puro que há, nascido no ponto mais ou menos intermédio do dito signo, dizem que sou adaptável e versátil, comunicativo e original, intelectual e eloquente, jovial e animado. Pela negativa, superficial e inconsistente. Por outro lado sou Ricardo, que dizem significar líder forte. Tenho ainda um segundo nome próprio, comum a todos os rapazes da minha família pelo lado da materno, também de origem germânica que significa nobre ou puro. Mais uma vez narcisicamente, acho que dá uma combinação interessante. E no entanto, ando cansado. Cansado da minha inconsistência quase pagã. Da minha falta de rumo e da mutabilidade do que quero hoje e já não quero, ou vou querer, amanhã. Apetecia-me ser mais simples. Mais rectilíneo. Acreditar mais nas causas dos outros. Arriscar menos. Encostar-me mais. Ser menos versátil e mais paciente ou constante. Afinal, o tempo não pára e isso só por si pesa. Enfim, devaneios.




Saturday, January 30, 2010

Maldita hora em que decidi sair.

Vi-a esta noite e ela encontrou-me no meio da multidão. Decidiu vir falar-me e espetou-me um beijo na face. Logo ali me arrependi de ter decidido sair. Está linda (ou continua linda). Mantém o estilo dócil mas provocador de quando a conheci. Com um olhar imediatamente desaprovador, forçou-me a apresentar-lhe a minha companhia. Deixou-me incómodo e a sentir-me perdido, como quando era miúdo. Perguntei-lhe pela vida e só me saíram palavras ocas. Fez questão de me passar a mão pelo cabelo, puxando-o ao de leve e dizendo-me que estava comprido. Lembrei-me de quando lhe dizia que devia ser ela a cortar-mo. Contou-me brevemente a sua última viagem, que esteve pela Ásia e que se lembrou de mim. Disse-me que tinha visto paisagens incríveis. Fez questão de incluir a minha companhia na conversa, como que a testar. E depois afastou-se, despedindo-se para se juntar à sua grupeta. E eu fiquei disperso, sem asa e sem vontade de continuar naquela rua. Já sei que vou sonhar com ela. Maldita hora em que decidi sair.




Thursday, January 28, 2010

A mais bela cena de amor

[Passa-se no Pilade, a enoteca de eleição para os intelectuais de esquerda de Milão - Ripa di Porta Ticinese, nº 5]

Veio ter com ele Lorenza Pellegrini. “Levas-me a casa?”
“Porquê eu, hoje?” perguntou-lhe.
“Porque és o homem da minha vida.”
Corou, como só ele conseguia corar, olhando para outro lado. Disse-lhe: “Temos uma testemunha.” E para mim: “Sou o homem da vida dela. Lorenza.”
“Ciao”
“Ciao”
Levantou-se e sussurrou qualquer coisa ao ouvido de Lorenza.
“O que tem a ver?” disse ela. “Só te pedi se me levavas a casa de carro”
“Ah” disse ele. E para mim: “Desculpe, tenho de fazer de taxi driver para a mulher da vida de não sei quem.”
“Parvo”, disse ela com ternura, e beijou-o na face.



Wednesday, January 27, 2010

Playtime... (inscrito no moleskine durante um fastidioso Lisboa - São Paulo, há alguns anos atrás, sob o efeito séptico de três doses de mau whisky servido em saquinhos de polietileno)

Viagens de avião despertam sempre em mim o que me resta da pouca inocência de consultor mas também o fascínio que sempre exerceram sobre o meu espírito irrequieto os aeroportos, em particular, e o mundo da aviação em geral. Não no sentido do “voar” ou da sensação de liberdade que leva muitos miúdos a aspirarem a vida de piloto mas no sentido “arquitectónico” do tema, dos aeroportos, das companhias de aviação e do mundo do transporte aéreo constituir em si mesmo o paraíso do espírito obcecado pela arrumação do complexo.

(Em criança, eu colocava torrões de açúcar na varanda para capturar formigas e não descansei até possuir o meu formigueiro particular, inspirado por um personagem de uma série televisiva italiana que dava pelo nome de “La Piovra” – na versão Portuguesa, “O Polvo”)



É que o mundo de oportunidades que se abre a um espírito como o meu quando encontra um ambiente “Playtime à la Jacques Tati” como acontece em qualquer aeroporto com mais de 10 milhões de transeuntes por ano não é apenas fascinante mas também viciante.

(Há uns anos atrás de visita à livraria da faculdade de arquitectura de Roterdão, vi e perdi a oportunidade de adquirir o livro mais fascinante sobre o tema, inteiramente dedicado à arquitectura e organização dos aeroportos históricos do planeta, com direito a resenha histórica desde o fascinante Berlin Tempelhof dos anos 30, passando pelo Los Angeles LAX dos 80, ao moderníssimo Hong Kong International)



Porque para além de traduzir as mudanças provocadas pela massificação do transporte aéreo, a combinação de personalidades, vontades, exigências, motivações e opções presentes nas alminhas que passam por qualquer aeroporto internacional fazem destes o lugar perfeito para um consultor perspicaz.
(No meu caso, em modo viajante-solitário-intratável-e-no-mínimo-mal-disposto)

1) Porque é que, sem excepção, quem embarca num avião parece definitivamente mal-encarado.

2) Porque raio a fila dos passaportes “EU Citizens” é sempre mais longa e mais lenta do que a dos “Other Nationalities” (em Lisboa, entenda-se!).

3) Porque existem 10 portas para “passaportes electrónicos” – automáticas e sem fiscal de alfândega – e apenas 6 cabinas para “passaportes-não-electrónicos-mas-obrigatoriamente-OCR-porque-assim-até-te-deixam-entrar-nos-States-senão-necessitarias-de-visto” (em Lisboa, entenda-se!) – como se a adesão aos ditos fosse massiva e um país com altos índices de analfabetismo se auto-propusesse conseguir que os mesmos utilizem de forma eficaz (já sem dizer eficiente) as máquinas que obrigam a tirar o retrato e comparar com a fotografia do passaporte.

4) Porque a nossa transportadora aérea nacional (carinhosamente, TAP) não percebe que quando tenho o cuidado de pedir no tele-check-in um lugar na saída de emergência (porque apesar de tudo ainda sou mais jovem que a mediana dos passageiros e necessito de mais espaço para esticar os meus 1,88 m) considere apropriado instalar nas filas adjacentes toda a santa criança de berço ou de colo que insiste em desafiar a paciência dos meus tímpanos durante as malditas 8 horas de voo – como se os mesmos possuíssem a extrema autonomia de escaparem do avião em chamas caso me coubesse a mim, em acto voluntarioso, abrir a porta de emergência.

5) Porque a mesma TAP decide colocar nos ecrãs comuns do velhinho A340 um programa do Oliver, ainda jovem e entusiasta, a cozinhar galinha com um molinho de açafrão e tomate que até me cheira aqui, enquanto nos serve (a TAP) uma amostra de perna de perú “no forno” que sabe acima de tudo a glutamato de sódio com um pretensioso arroz árabe de passas raquíticas.



6) Ou, finalmente, porque mais uma vez a carinhosa TAP, não é capaz de entender que enfrento melhor estas viagens de 9 horas e 50 minutos (insistindo em frisar bem os 50 minutos através dos altifalantes, como se se tratasse de uma qualquer promoção a 9,99 euros mas sem perceber que o efeito é nefasto) devidamente embriagado entre copos de vinho branco e whisky do que sóbrio que nem uma madalena para que cumpram (mais uma vez, a TAP) a normativa comunitária xpto que restringe o consumo de bebidas alcoólicas a bordo mesmo em voos transatlânticos.

Enfim, em jeito de conclusão, voar já teve outro glamour e há de certeza demasiada gente “enlatada” a 22.000 pés pelos céus deste planeta fora, para a coisa apresentar outros fascínios além do conseguir “transportar formigas” através do ar.



Tuesday, January 26, 2010

Chuva forte em Lisboa

Observava-a enquanto fumava pacificamente o seu último cigarro. O sorriso dela em conversa com uma amiga enchia-lhe o olhar e a imaginação. Tinha um rosto perfeito e um cabelo suave, preso atrás da nuca pela combinação de dois lápis. Não deveria ter mais de 30 anos mas parecia-lhe uma mulher feita. Alegre e claramente erudita, com lábios carnudos daqueles que apetece provar. Despretensiosa e ainda assim charmosa. Afrodite de pleno direito. Decidiu arriscar. Pegou numa carteira de fósforos que se encontrava em cima do balcão e rabiscou furiosamente no papel áspero. Chamou o barman e pediu-lhe que a entregasse acompanhada de uma flute de champanhe. Quando ela se virou e lhe fixou o olhar, ele tremeu por dentro. Arrepiou-se com a sensação de déjà vu, reconhecendo-a de múltiplos sonhos passados. Sentiu o sangue a fugir-lhe do cérebro como se estivesse a flutuar. Atirou com duas notas para cima do balcão e saiu porta fora. A chuva caia forte em Lisboa. Ela não lhe telefonou.


Monday, January 25, 2010

il vico

Fim de semana passado entre o delírio da febre e o torpor provocado pelo antigripal... que desperdício de vida.





Wednesday, January 20, 2010

Madrid me mata

Eu odeio ir e vir a Madrid num mesmo dia. Odeio o despropósito do sono interrompido às 5h30 da manhã para apanhar o avião. Detesto o ambiente do aeroporto às primeiras horas da manhã. Faço caretas aos seres inúteis que exercem autoridade para nos deixarem passar incólumes no detector de metais. Rogo pragas aos “executivos” que pensam ser high-flyers porque viajam até à capital da “Ibéria” de semana a semana. Não suporto a prepotência de Barajas e os minutos que se passam a rolar desde a aterragem até à manga do T2. Não gosto dos taxistas madrileños, tão mais civilizados e asseadinhos do que os colegas de Lisboa. Vomito as pausas para “cafés-cortados” sem as quais os espanhóis não passam. Desdenho os “filetes de ternera” mal-passados que insistem em servir, como segundo prato, nos almoços profissionais. Desprezo as conversas crónicas sobre as reportagens que passaram nas têvês castelhanas.


Há anos atrás passei uma longa temporada a trabalhar em Barcelona. Apanhar o aviãozinho catita e pequenino da saudosa Portugália em cada 2ª feira era um charme. Ser recebido pelos, realmente gentis, taxistas catalães no El Prat e ouvi-los debitar as proezas do Figo, música para os ouvidos. Percorrer a Via de les Corts Catalanes enquanto os indígenas despertavam para mais um dia de “feina”, um prazer único. Comer um belo de um croissant pleno de influência francesa no Passeig de Gràcia, um deleite. Ouvir “bon dia” pelo início da manhã, um delírio.

Barcelona me encanta

Monday, January 18, 2010

Empty as a blank .ppt

Porque será que depois de ter passado o fim-de-semana quase inteirinho de volta de um .ppt (coisa que este consultorzinho já não tinha que fazer há muito tempo) me estou a sentir tão vazio?



Sunday, January 17, 2010

Das noites loucas de Lisboa (e da moda das botas altas)

Aqui a capital do rectângulo padece de noites peculiares de quando em vez. Tipicamente, quando se reúnem as condições propícias – meio da época de exames (?), primeiro sábado de temperatura amena e sem chuva desde o início da saison, e algum concerto menos mau no Coliseu – a fauna sai à rua.
Ontem, foi uma dessas noites: meia população de Lisboa na rua e a invasão dos bárbaros vindos dos subúrbios – já disse aqui que sou totalmente a favor de portagens à entrada da cidade?
Isto dá em três horas para se descer do Chiado até à disco da moda, o Bairro “lleno” de gentalha a querer experimentar o que mais parece um comício e muita gente feia nos locais do culto nocturno.
Ah, mas eu e a grupeta divertimo-nos à bessa com a nova moda das botas altas a que o povo no feminino se devotou este inverno. Ele há o parzinho de botas a passar do joelho (perna curta...), os belos dos botins que ninguém usaria senão para andar no campo (entre os animais, está certo...), as botinhas caneleiras mal ensebadas (que se usavam nos idos 80...), as de camurça demasiado largas (muito propícias para a temporada, sim senhora... e ao pé-frio) e, muito ocasionalmente, as que realmente assentam em pernas perfeitas, com não mais de dois dedos para o joelho (realmente giras...). Acho que não faltou muito para vermos galochas a circular (ou se calhar até sim... noutro sentido).


[imagem roubada daqui pink4leafclover - sorry!]


ps- ainda à volta com coisas de “gaja”... influências da blogosfera.

Thursday, January 14, 2010

Relatividade

Astronomers’ latest estimates put the age of the universe at about 13.7 billion years. That is three times as long as the Earth has existed and about 100,000 times the lifespan of modern humanity as a species. The true size of the universe is still unknown. Its age, and the finite speed of light, means no astronomer can look beyond a distance of 13.7 billion light-years. But it is probably bigger than that.

Nor does reality necessarily end with this universe. Physics, astronomy’s dutiful daughter, suggests that the object that people call the universe, vast though it is, may be just one of an indefinite number of similar structures, governed by slightly different rules from each other, that inhabit what is referred to, for want of a better term, as the multiverse.

In “As important as Darwin” published on August 15th, we said that no astronomer can look beyond a distance of 13.7 billion lightyears. This was incorrect. The universe has expanded during the 13.7 billion years that light has been zipping across it and, as a consequence, astronomers can see to distances of perhaps as far as 47 billion lightyears.



[The core of the spectacular globular cluster Omega Centauri glitters with the combined light of 2 million stars. The entire cluster contains 10 million stars, and is among the biggest and most massive of some 200 globular clusters orbiting the Milky Way Galaxy.]


According to a recent study, smoking kills an average of 55 Iraqis a day, compared to a current average of ten deaths daily from terrorist shootings or bombings. So the government argues that it is perfectly reasonable to outlaw smoking on public-health grounds.


The capital of Haiti, Port-au-Prince, suffered a devastating earthquake measuring 7.0 magnitude on Tuesday January 12th. Much of the city was flattened and at least hundreds-and probably thousands-of people have been killed.


Monday, January 11, 2010

ex-lovers (or something else)

R. foi a primeira “mulher” da minha vida, tínhamos 5 anos. Íamos casar, eu seria polícia da GNR com botas de cano alto e ela, já não me recordo. (Ainda hoje me dou com a R, encontramo-nos em jantares de colegas do colégio. Curiosamente, casou com um Ricardo e têm 2 filhos, acho eu)

M. foi a primeira “mulher” com quem “dormi”, era minha prima em 2º grau e explorámos o corpo um do outro, como só as crianças o sabem fazer. Era uma miúda linda, também atrevida, e fomos apanhados pela minha tia na troca de camas partilhadas num verão muito quente em São Pedro de Muel. (Não sei nada da M há muitos anos mas aposto que é feliz)

S. foi a minha primeira paixão. Eu achava-a mais bonita do que a Bruna Lombardi, que naquela altura estava na moda, mas não deu em nada. (Hoje somos bons amigos e encontramo-nos em jantares todos os anos. É também daquelas pessoas que nunca se esquece de me telefonar no meu aniversário)

C. foi a minha primeira “namorada de mão dada e beijos diários”. Era meio francesa e tinha o cabelo encaracolado. Não sobrevivemos às férias do verão.

M. foi o meu primeiro amor. Amor à séria, daqueles que se esperam retomar durante anos e que geram ciúmes às namoradas. (Está casada há uns bons anos também com um Ricardo e da última vez que estive com eles, iam no 3º rebento)

B. foi uma namorada estival. Era linda de morrer e adorava observá-la a dormitar na praia e beijá-la na varanda do Seagull, nas noites de festas. (Depois daquele verão, nunca mais tive notícias da B)

A. foi a primeira namorada do verão do desassossego, durou menos de um mês. (Não sei nada dela)

Seguiu-se a P. Éramos ambos animadores numa colónia de férias para miúdos e escapávamos para trás das dunas. Durou enquanto houve actividades.

Veio então a S., morena e vistosa de cabelo aos caracóis. Foi a minha primeira “namorada oficial” com apresentação aos pais e tudo. Namorávamos intensamente nas festas nocturnas pela Arrábida, isolávamo-nos em passeios de barco porque ela tinha carta de marinheiro e ensinou-me a fazer ski aquático. Também dávamos longos passeios a cavalo pela Serra. Nesta fase o namoro durou uns 3 meses e até sobreviveu ao meu devaneio adolescente de 2 semanas em Paris rodeado dos encantos das francesas.

Depois veio a R. Três anos de namoro sério, alguns mais apaixonados do que os outros. Oficialmente a coisa começou ao som de um slow do Phil Collins. Durou e durou, apesar das traições de parte a parte, dos ciúmes, das birras, dos beicinhos, das diferenças de opiniões bem vincadas sobre tudo aquilo que parece importante quando se chega à idade adulta. Parecia que era para a vida, porque então era aquela a vida. Terminou com a entrada para a universidade, embora tenha havido “retomares” vários e intenções ao longo dos anos. (Hoje ela vive no estrangeiro e apesar de morena tem uma filha loira, linda. Preocupamo-nos em saber um do outro, fazemos por estar juntos, mas muitas vezes pergunto-me se a nossa amizade não se deverá mais aos resquícios do que fomos, do que ao que somos no presente... tão diferentes)

Pelo meio, houve “uma noite só” com a E. num retiro espiritual, porque se proporcionou e o sentido de aventura assim o exigia. (Nunca mais soube nada dela)

Houve também a A. Sueca e talvez a miúda mais bonita que já conheci e que nem sequer foi “uma noite” mas mais uma madrugada. (Sim, gostaria voltar a encontrar)

Retomou-se então a S. anterior. Porque tinha que ser, porque para ela a história não estava fechada e eu, bem, eu precisava de acreditar. Naturalmente, não durou. (Não estou com a S há algum tempo mas lembro-me de a ter encontrado já casada, num casamento, e de ter ficado a pensar que poderia ser minha. Tenho a certeza de que é feliz, porque ambicionava felicidade)

Por esta altura surgiu a J. era amiga da S. Bastante mais nova do que eu, para aquela idade, e facilmente deslumbrável. Como tal, demasiado fascinada por mim e não podia durar. (Sou bom amigo do irmão dela, que é uma figura pública, e da última vez que me deu novidades da J. andava pelo mundo e mandava saudades)

Seguiram-se os anos das aventuras, apenas entrecortados pela M., namorada de 3 meses. Muito gira mas também demasiado miúda. (Deram-me notícias dela há pouco tempo, ia no 2º casamento)

Houve a M. e a N. numa noite de excessos na temporada em Barcelona. Houve a A., exótica, numa noite passada dentro do carro com os vidros embaciados. Houve a fixação pela G., espanhola que nunca me ligou de volta. Houve a S., diferente, que me ocupou o pensamento durante meses e se revelou uma desilusão.

Finalmente, na fase da procura pela estabilidade houve a S. Durou 4 anos, conhecemos parte do mundo junto e creio que fomos felizes a maior parte do tempo. Mas não estava destinado a ser o que, cada um por si, queríamos que fosse e por isso tinha que terminar.


E sim, este é um post demasiadamente nostálgico e também revelador ou íntimo (quase poderia ser de “gaja” – deve ser uma fase)... what’s next?

Wednesday, January 6, 2010

“Mulher moderna”

Ser mulher moderna em 2010 implica carregar nos ombros um século de emancipação, mais coisa menos coisa. Ter sido melhor que os rapazes na escola. Ter competido e ganho a outras miúdas na universidade. Ter conseguido passar as entrevistas no masculino na procura do emprego. Ser capaz de pensar, analisar e chefiar no trabalho. Entender as entrelinhas. Gostar de moda. Gostar de pintura no rosto. Gostar de saídas nocturnas. Conhecer as músicas que estão a dar. Gostar de dançar. Deixar as bebidas brancas. Aprender a gostar de um bom vinho. Gostar de comer pouco. Saber estar. Saber conversar. Deixar de chorar no cinema. Ter um blog e/ou muitos amiguinhos no Facebook. Viajar. Folhear revistas fúteis mas não só. Estar a par. Filtrar olhares. Flirtar sem acomodar. Distinguir piropos de palavras sinceras. Saber resistir. Gostar de experimentar. Saber jogar. Gostar de gostar. Conseguir apaixonar. Deixar-se apaixonar. Saber fingir. Amar. Saber perder. Tomar a iniciativa. Voltar a perder. Sofrer. Saber sofrer. Deixar de gritar. Abdicar. Ser amiga. Perder o orgulho. Reconquistar. Voltar a amar. Resistir a pressões. Eliminar o factor tempo. Ser séria. Ser divertida. Ser criança como nós gostamos. Mimar. E tudo isto, não necessariamente por esta ordem, compensa? Elas lá saberão...



Tuesday, January 5, 2010

Mad Men

Roger: “I know marriage isn’t a natural state, but you do it.”

Don: “Why?”

Roger shrugs: “Kids?”
.

Monday, January 4, 2010

Seagulls

Morava a dois passos do Tejo e despertava em cada manhã com os guinchos das gaivotas. Ainda de pijama gravava cuidadosamente o CD do dia que escutaria a partir do pôr-do-sol. As tardes passava-as a deambular por Lisboa, entre lojas, lanches com as amigas, visitas a galerias e exposições de fotografia. Por vezes fazia-se acompanhar da máquina fotográfica de filme que usava em ruas e vielas da cidade ocre ou em miradouros com vista para o rio. Tinha um mini descapotável verde que a levava para todo o lado e também para os antros da noite onde sempre conhecia um novo amor. Homens que rapidamente se deixavam seduzir pelo seu olhar de miúda-mulher e que sem acanho a convidavam para os seus apartamentos de solteiros. E com eles fazia amor, carinhoso mas ardente, pelas horas intermédias da noite. Inevitavelmente, ela deixava-os no leito ainda noite escura, saindo de mansinho e substituindo o seu corpo pelo CD gravado naquela manhã.





Tuesday, December 29, 2009

envidia

Este verão por terras de Boston fiz um bom amigo. De nacionalidade espanhola, nascido num pequeno pueblo não muito distante de Badajoz e por isso com o coração cheio de referências a Portugal, o bom do Manuel é, sem tirar nem pôr, a personificação do estereótipo que eu imagino para um espanhol castiço: estatura baixa, ossos vincados no queixo, tez morena mas caucasiana, arguto, convicto, argumentativo, excelente pessoa e amigo dos seus amigos. Depois de ter iniciado a sua carreira em Madrid, mudou-se, há alguns anos atrás, de armas mas sem muita bagagem, para a Cidade do México, onde subiu até Director-Geral da representação de uma multinacional espanhola. Fez muito negócio pelos Estados Unidos e ter-se-á apaixonado por uma mexicana de nome Arantxa com quem chegou a viver. Conheci-o num curso repleto de gente brilhante dos quatro cantos do mundo e, como sempre acontece quando se encontram portugueses e hermanos nestas situações, tornámo-nos compinchas. O bom do Manuel, em fase de recuperação do amor perdido, encontrava-se numa encruzilhada da vida, sem pretender saber o que faria depois do MIT. Voltámos a falar há uns dias atrás e o Manuel anda de viagem pelo Mundo durante os próximos meses, por agora pela América do Sul qual Che Guevara...




Monday, December 28, 2009

Counter-economics

À falta de informação interessante e de mais notícias parvas tão típicas da saison, os telejornais da terrinha enchem-nos com as estatísticas dos levantamentos e pagamentos multibanco (ao minuto, ao dia e ao cartão) para passarem a mensagem de que “a crise” acabou porque os portugueses “levantaram mais”, “pagaram mais” e, conclusão própria de jornalista letrado mas analfabruto “gastaram mais” (em presentes de Natal, entenda-se). Será que ninguém lhes explica que “antes” existiam menos cartões e mais dinheiro que não passava pelos caixas automáticos... é que se calhar, só se calhar, gastaram o mesmo...


Em formato similar, corre no meio internacional – bastião dessa minha favorita que é a The Economist – a tese de que o download ilegal de música diminuiu a olhos vistos nos últimos anos, e que tal se deve à maturidade dos iTunes, Spotify, bem como dos 2 ou 3 casos de condenações de piratas incautos. Até que alguém mais perspicaz:

SIR – Your article jogged me out of my headphone slumber. I suggest that a reduction in music piracy is not, in fact, due to “smarter” or “harsher” policing, but because most downloaders have filled their boots by now. They have already obtained as much music as they desire and are now merely drip-feeding their hard disks with new releases.

Shaun Askey
Annecy-le-Vieux, France


Isto é, se calhar, mas só mesmo se calhar, já todos “sacámos” musiquinha para uma vida inteira de iPod no ouvido! Counter-economics is a beautiful science...

Sunday, December 13, 2009

excertos #4

7
Quando eu morrer batam em latas,
Rompam aos saltos e aos pinotes,
Façam estalar no ar chicotes,
Chamem palhaços e acrobatas!

Que o meu caixão vá sobre um burro
Ajaezado à andaluza...
A um morto nada se recusa,
Eu quero por força ir de burro.
- Mário de Sá Carneiro


Tomás sofria da ocasional depressão, sempre que lhe comunicavam o falecimento de alguém conhecido. Era nestas ocasiões assolado pelo discurso catastrofista de que a vida dos vivos, não mais passava do que de uma sucessão de anunciações de novas mortes. Impressionava-o que quanto mais a ciência moderna contribuía para a longevidade da vida mais sofridas eram as vidas dos que continuamente viam “partir” amigos, familiares e personagens das suas gerações. Invariavelmente, fazia-me sair mais cedo do trabalho, convocando-me para um café de início de noite no Bamako ou no Nouakchott e discorria sobre o tema por entre coca-colas servidas com gelo e limão:
- Tu já viste como apesar de toda a evolução da espécie a Humanidade continua a não saber lidar com uma coisa básica como a morte? Morre uma pessoa, e o que fazem as pessoas – reúnem-se em capelas claustrofóbicas, beijam-se e abraçam-se apresentando condolências, em redor de um paralelepípedo de madeira contendo um corpo. Fazem um cortejo fúnebre atrás do carro da funerária e chegados ao cemitério, percorrem silenciosamente as vielas formadas por jazigos de família há muito abandonados, lendo de quando em quando, penitenciosamente, os nomes de quatro e cinco palavras de anteriores defuntos. Cerimoniosamente, vêem enterrar, pelos coveiros, o dito paralelepípedo num buraco de terra, em seguida coberto pelos nem sempre tristes arranjos florais propositadamente preparados para a ocasião. E tudo aquilo me parece mal, mal arranjado, mal organizado, mal ambientado. Com vistas deslumbrantes – vá-se lá saber porque, os cemitérios têm sempre, tentativamente, vistas espectaculares sobre as cidades, vilas ou aldeias, como que a tentarem chegar aos céus, rodeados dessas magníficas árvores ciprestes.
E nesta fase, inevitavelmente, a nossa conversa divergia para as vantagens e desvantagens da cremação, a beleza dos cemitérios em redor das antigas igrejas anglicanas e para o pedido testamenteiro do Tomás:
- No dia em que eu morrer, por favor, assegura-te de que lançam o meu corpo ao mar.

Sunday, September 13, 2009

Plaza Mayor

Deception – que os imaginativos senhores-que-em-Portugal-se-encarregam-destas-coisas decidiram (vá-se lá saber porquê) nomear de “No Limite da Ilusão” é Ewan McGregor no seu melhor: auditor de carreira, cabelo sempre extremamente bem-penteadinho, pretensamente bem-comportadinho, solitário até à exaustão numa NY que poucos vislumbramos quando de visita, plena de escritórios de luzes acesas pela noite fora na Midtown, carregada de almas desgarradas, workaholics do capitalismo moderno. Uma cena preciosamente real na partilha de um charro com o senhor Australia, apenas possível a quem se dedicou à causa e sabe perfeitamente o efeito que induz num diálogo. Uma antevisão do que poderá trazer o futuro com um clube de sexo pelo sexo, anónimo, nos hotéis de Manhattan. O brilhantismo do personagem devidamente isolado em salas de reuniões e temido pelos pares das empresas a quem presta serviços. O cliché das diferenças entre as vidas dos outros, do outro lado do Atlântico, e a facilidade da felicidade sentida no quotidiano de uma Madrid representativa das características da Europa latina.
Não é um grande filme – acaba bem e andamos fartos de finais felizes – mas vale o tempo investido pelas 2 ou 3 ideias ou constatações que me deixou.

Sunday, September 6, 2009

sic transit gloria mundi

Assim vão os tempos que correm: fui literalmente empurrado para ir ver o filmezito cor-de-rosa do momento (*) ... “ABC da Sedução”.
Para além de fútil – ora não se tratasse de um argumento absolutamente dirigido para as massas femininas de índole urbana –, também futilmente previsível e despretensiosamente composto por uma sequência inaudita de cliché atrás de cliché, é com toda a certeza o filme mais ordinareco que já vi. Os impropérios cautelosamente traduzidos para as legendas em português sucedem-se a um ritmo alucinante assustando a projecção na tela e mereceriam uma nova classificação por parte de quem-quer-que-seja-que-trata-destas-coisas: interdito a menores de 18 anos e não recomendável para maiores de 38...

(*) troca por troca do fabuloso e espectacularmente demente Inglourious Basterds, o último do magnânimo Quentin Tarantino.

Thursday, September 3, 2009

Silly season goes on...

Chego a casa cedo depois de um jantar rápido na Zucchero – a propósito, servem as melhores pizzas do momento em Lisboa – e descubro que a silly season deste ano ameaça prolongar-se por todo o período eleitoral que nos espera.
Manuela Moura Guedes não poderá apresentar o Jornal Nacional de 6ª feira amanhã, porque nos pretendia presentear com uma qualquer peça escaldante sobre o “caso Freeport”... So what? Who cares? Não têm mais nada com que nos entreter as vidinhas insignificantes do que mais uns avanços sobre as malvadezas dos governantes do momento? Não haverá causas mais interessantes ou temas mais significantes para alimentar o neurónio?


Friday, August 28, 2009

and so it is...



Dexter has a new depressed-maniac girlfriend, the global economy seems to be rebounding, although China lies about its GDP growth, the nights are still way too hot to sleep early, Lisbon traffic jams will definitively get worse next week and I do need a new life…

Sunday, February 8, 2009

carinha laroca

Andará a pobre classe jornalística distraída, com as diatribes – plantadas ou não – do nosso filósofo de serviço, ou o orgulho nacional ao ritmo da suposta crise mas ainda ninguém deu em reclamar a nacionalidade(*) da carinha laroca de serviço?
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Pois é, Freida Pinto, atente-se no apelido, nascida em Mumbai, Índia – antes Bombaim, assim nomeada pelos Portugueses – provém de Mangalore, que logo em 1498 o nosso Vasco da Gama decidiu visitar e concerteza um bom dum Pinto “fez das suas” para que com o passar dos tempos se apurassem estas linhas de rosto...

Quanto a Slumdog Millionaire... bonzito, como Danny Boyle sabe fazer. Umas cenas chocantes para começar, entrecortadas com pitadas de humor – para quem não se lembra, no Trainspotting há a magnífica cena do lençol de Spud no pequeno-almoço com os pais da namorada a comerem baked beans – evitando assim a má disposição do público e em crescendo positivo até ao final – neste caso, o bairro-de-lata transformado em apartamentos modernos.

(*) à semelhança de Nelly Furtado, Keanu Reeves, Nuno Bettencourt ou até do Sr. Bush que às tantas já era descendente da Dona Urraca tia de Dom Afonso Henriques.
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Thursday, February 5, 2009

Adnan would understand

Por estes dias de chuva a rodos e lágrimas não justificadas eu tenho é muitas saudades do verão. Saudades de fazer snorkelling amador nos mares quentes do Índico, por entre cardumes de peixinhos felizes, e de brincar ao escafandro e à borboleta with you my love...
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Tuesday, February 3, 2009

New Little Ice Age

There is no agreed beginning year to the Little Ice Age, although there is a frequently referenced series of events preceding the known climatic minima. Starting in the 21st century, pack ice began advancing southwards in the North Atlantic, as did glaciers in Greenland. The three years of torrential rains beginning in 2009 ushered in an era of unpredictable weather in Europe.The Little Ice Age brought bitterly cold winters to many parts of the world, but is most thoroughly documented in Europe and North America. It probably brought about the demise of Capitalism. The Thames frost fair restarted in 2010, although changes to the bridges and the existence of an embankment affected the river flow and depth, hence the possibility of freezes.
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The severe winters affected human life in ways large and small. One researcher noted that, in many years, “snowfall was much heavier than recorded before or since, and the snow lay on the ground for many months long”. Many springs and summers were outstandingly cold and wet, although there was great variability between years and groups of years. Crop practices throughout Europe had to be altered to adapt to the shortened, less reliable growing season, and there were many years of death and famine. In Ethiopia and Mauritania[citation needed], permanent snow was reported on mountain peaks at levels where it does not occur today. Timbuktu was flooded at least 13 times by the Niger River; there are no records of similar flooding before. Scientists have identified two causes of the Little Ice Age from outside the ocean/atmosphere/land systems: decreased solar activity and increased Human activity. One of the difficulties in identifying the causes of the Little Ice Age is the lack of consensus on what constitutes "normal" life.
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Wednesday, January 28, 2009

high fidelity



Fui ver a Mafalda Veiga ao Coliseu. Foi um espectáculo bom. Como diriam os especialistas: “intimista”. Gostei dela, gostei do empenho e vibrar dos músicos que com ela tocam. Gostei da referência nostálgica à sua primeira actuação no Coliseu, com os Trovante, e senti-me velho – embora não tanto como o “Velho” – também pela capacidade que tem de manter um público bastante jovem. Ela, com um repertório já volumoso, algo repetitivo, e melhor criado no passado do que no mais recente, pôs-me a pensar. Porque em vez de perseguir novos temas e edição de novos discos, os bons músicos, cantores e bandas que vamos tendo, não apostam em espectáculos regulares, ano a ano, com regularidade, fidelizando os fãs do “ao vivo”.


Monday, January 19, 2009

The Curious Case of George Bush

Ainda não se sabe o que a História guardará na memória sobre o personagem mas o facto de nos ter permitido a melhor paródia de todos os tempos, abona em seu favor:

Playwright Jim Sherman wrote this after Hu Jintao was named Chief of the Communist Party in China.

(We take you now to the Oval Office.)

George: Condi! Nice to see you. What's happening?
Condi: Sir, I have the report here about the new leader of China.
George: Great. Lay it on me.
Condi: Hu is the new leader of China.
George: That's what I want to know.
Condi: That's what I'm telling you.
George: That's what I'm asking you. Who is the new leader of China?
Condi: Yes.
George: I mean the fellow's name.
Condi: Hu.
George: The guy in China.
Condi: Hu.
George: The new leader of China.
Condi: Hu.
George: The Chinaman!
Condi: Hu is leading China.
George: Now whaddya' asking me for?
Condi: I'm telling you Hu is leading China.
George: Well, I'm asking you. Who is leading China?
Condi: That's the man's name.
George: That's who's name?
Condi: Yes.
George: Will you or will you not tell me the name of the new leader of China?
Condi: Yes, sir.
George: Yassir? Yassir Arafat is in China? I thought he was in the Middle East.
Condi: That's correct.
George: Then who is in China?
Condi: Yes, sir.
George: Yassir is in China?
Condi: No, sir.
George: Then who is?
Condi: Yes, sir.
George: Yassir?
Condi: No, sir.
George: Look, Condi. I need to know the name of the new leader of China. Get me the Secretary General of the U.N. on the phone.
Condi: Kofi?
George: No, thanks.
Condi: You want Kofi?
George: No.
Condi: You don't want Kofi.
George: No. But now that you mention it, I could use a glass of milk. And then get me the U.N.
Condi: Yes, sir.
George: Not Yassir! The guy at the U.N.
Condi: Kofi?
George: Milk! Will you please make the call?
Condi: And call who?
George: Who is the guy at the U.N?
Condi: Hu is the guy in China.
George: Will you stay out of China?!
Condi: Yes, sir.
George: And stay out of the Middle East! Just get me the guy at the U.N.
Condi: Kofi.
George: All right! With cream and two sugars. Now get on the phone.
(Condi picks up the phone.)
Condi: Rice, here.
George: Rice? Good idea. And a couple of egg rolls, too. Maybe we should send some to the guy in China. And the Middle East. Can you get Chinese food in the Middle East?

Sunday, July 27, 2008

UCB


Há bastantes anos atrás um desconhecido – ou nem tanto – criativo da publicidade da Benetton imaginou uma surpreendente campanha que misturava a diversidade racial dos povos neste planeta Terra. Não sei se passaram 15 ou mesmo 20 anos desde então mas esta noite, enquanto aguardava a partida do voo com destino a Frankfurt na “Gate 7” do Doha International Airport constatei a estonteante evolução da Humanidade nos últimos anos: à minha volta, na sala de espera para o embarque, encontram-se misturadas todas as raças do mundo – negros, indianos, caucasianos, latino-americanos, orientais de género chinês e nipónico, entre outros.
Há uma negra de feições etíopes acompanhada de um branco de tez suíça. Há uma oriental de feições filipinas com um americano de barriga protuberante e portanto caucasiano. Há um par de rostos sul-americano, que parecem mãe e filho, ele com um corte de cabelo radical, ela com um vestido tradicional. Há um hindu de turbante e até um monge de ar tibetano que me oferece um sorriso aberto quando o fixo com o olhar.

Wednesday, July 2, 2008

cair

Por estes dias em que a cara-metade nos chama forreta porque fazemos uma cara estranha, do outro lado da mesa, quando nos trazem a conta do jantar. Por estes dias em que os mercados caem vertiginosamente, em que o Shanghai cai para os 2.600 quando eu já fiz dinheiro próximo dos 6.000, qual advento do falhanço do capitalismo, e só me sobra tempo e espaço ao final do dia para perceber que os parcos investimentos em bolsa caem aos 4% por cada dia que passa, relembro-me de um velho dogma muito meu, em que o apanágio de riqueza – vulgo felicidade – era poder comer sempre fora, almoço e jantar, bem acompanhado e onde bem me apetecesse, sem olhar para a maldita conta...


Sunday, June 1, 2008

Dia da Criança

Tras las quejas de un muchísimo especial "grupo de aficionados" de esto blog...
Esta noche venía dirigiendo a mi coche, oyendo a un viejo y sabio cantante de los ochenta y pensando en ti...

We're sailing in a strange boat, heading for a strange shore
We're sailing in a strange boat, heading for a strange shore
We're carrying the strangest cargo
that was ever hauled aboard

We're sailing on a strange sea, blown by a strange wind
We're sailing on a strange sea, blown by a strange wind
We're carrying the strangest crew
that ever sinned

We're riding in a strange car
We're following a strange star
We're climbing on the strangest ladder
that was ever there to climb

We're living in a strange time, working for a strange goal
We're living in a strange time, working for a strange goal
We're turning flesh and body
into Soul

by Mike Scott

Thursday, January 31, 2008

excertos #3

6
Le cinéma, c'est un stylo, du papier et des heures à observer le monde et les gens.
- Jacques Tati




Quinze de Abril era um dia bem marcado nas nossas agendas, físicas ou neuronais, e pelo qual penávamos durante um ano inteiro. Invariavelmente, era a mim que me tocava acordar mais cedo, ensonado, procurar o carro estacionado numa das ruas do bairro e dar início à procissão. Invariavelmente, começava por ir buscar Guilherme que nunca estava despachado às seis e meia da manhã, embora soubesse de antemão ser essa a espertina combinada, para depois recolhermos Tomás que encontrávamos sempre à porta do seu prédio já nervoso com a câmara de vídeo pendurada a tiracolo.
Condição sine qua non ou requisito número um de cada vez que trocava de automóvel: descapotável ou com tecto de abrir, de forma a não comprometer o esplendor da filmagem anual a quinze de Abril. O princípio de tudo, devidamente marcado em tempo e quilometragem, começava com a entrada em marcha lenta na rotunda do Marquês, com o Tomás de cabelos ao vento e o Guilherme atento aos pormenores no assento do passageiro. Foco essencial para o alto do Parque, seguido de descida em velocidade de cruzeiro pela Avenida, com pormenor particular dos edifícios à direita por entre as copas das árvores. São Jorge, Palácio, Edén, Estação e Rossio com primeiros movimentos da manhã. Subida lenta ao Chiado, esquerda para a Ivens, direita para pormenor do São Carlos já com a luz da manhã em bom ritmo, volta para baixo, esquerda para as Belas Artes, nova volta pelo Governo Civil e desta vez direita sucessivas, por entre a abertura dos cafés na Garrett, até ao Camões, giro ao largo, descida suave pelo Alecrim, bombeiros à direita, passo lento até ao Cais, apanhando o movimento matinal com entrada glorioso na Ribeira das Naus em direcção ao Terreiro. Seguia-se o percurso pela Madalena, Sé e Castelo, as vielas até São Vicente e a paragem momentânea na Graça. Depois Pena, Anjos, Penha e Deus, Avenidas em ritmo marcado pelo trânsito, Sete Rios, Campolide, Campo de Ourique e Prazeres, Alcântara, Santos e novamente Santa Catarina. Interrupção da película e em grande velocidade para Belém, onde se concluía a aventura em colóquio prévio ao repasto de peixe fresco com vista para o Tejo. Era assim, invariavelmente, a folga conservadora do quinze de Abril em que a tarde se passava por entre copos de cerveja fria já na sala do Tomás a visionar e comparar as mudanças factuais dos filmes dos anos anteriores, desde a arquitectura, ao pormenor das cores, às novas vestimentas e expressões diferentes das pessoas capturadas pelas lentes de ano para ano.
Diferentes também, os nossos estados de espírito que como sintoma do passar do tempo, naquele dia do ano pareciam mais aptos a absorver as imagens simultâneas do presente e dos passados.

Thursday, January 24, 2008

human junk


Leio num artigo interessante da Economist que existem mais de 12.000 objectos “visíveis” em órbita à volta da Terra. Cerca de 3.000 são satélites, activos e inactivos, mais ou menos 1 estação espacial e 1 telescópio orbital – o bom do Hubble.

De acordo com o artigo da Wiki dedicado ao tema, o space junk deixado em órbita desde o lançamento do Sputnik em 1953 – contas feitas, em apenas 54 aninhos – inclui uma luva perdida por um astronauta em 1965, uma câmara fotográfica deixada ao abandono em 1966 e múltiplos saquinhos de lixo produzido pelos ocupantes da Mir nos 15 anos em que a latinha de fabrico soviético se aguentou no espaço – pelo menos neste caso tiveram o cuidado de a fazer desintegrar-se cuidadosamente sobre o Pacífico Sul.

Concluindo os “factos interessantes” parece haver também pelo menos uma chave inglesa e uma escova de dentes à deriva, que qualquer um pode ver a passar muito rapidamente ao apontar um telescópio para o céu.

O resto... bom, o resto são fragmentos – que para serem considerados “visíveis” têm pelo menos o tamanho de uma bola de golfe – enviados lá para cima de cada vez que o Homem decidiu fazer uma visitinha ou colocar qualquer coisinha em órbita e que, de acordo com os especialistas na matéria, acabarão por vir a desfazer-se na atmosfera terrestre ao longo dos próximos 35 anos, podendo as respectivas partículas cair ao nosso lado quando vamos a passar na rua... eventually!

Monday, December 17, 2007

Pi-nó-ni...pi-nó-ni…

Ah, e esta agora de Lisboa parecer ter sido geminada com Nova Iorque e todo o maldito carro da polícia e a santa ambulância – em ambos os casos o número de voitures parece ter aumentado exponencialmente nos últimos tempos – não serem capazes de circular sem a bela da sirene a azucrinar os frágeis tímpanos do povão!?!

Friday, December 7, 2007

Portugal pós-moderno


Em definitivo, o que me faz subir a mostarda ao nariz neste Portugal pós-moderno:

1) Jornais gratuitos

Já não bastava a péssima imprensa paga (e pesada em termos de papel mal-gasto) e não é que decidiram importar a ideia da distribuição gratuita de jornais em cada semáforo de Lisboa. Existirá uma boa meia-dúzia de pasquins sofregamente entregues por brasileiros mal-pagos, miúdos andrajosos e raparigas produzidas (em plena competição!) aos estremunhados e mais que muitos solitários automobilistas que tentam chegar (ou nem por isso?) ao trabalho (ou será emprego!?).


2) Iluminações de Natal

Em cada ano que passa, começam mais cedo e são mais feias (o termo técnico é mesmo feias). Deve tratar-se de um negócio da China, sem demonstração prática do benefício directo para os enganados comerciantes que supostamente pagam a respectiva instalação sem pensarem que provavelmente as vendas da quadra natalícia seriam exactamente iguais sem as estrelinhas a piscar rua sim, rua sim.


3) Sensação de insegurança latente e não provada

Essa ideia mal engendrada de que é perigoso ou existem riscos em andar pela cidade à noite, como se em cada esquina fosse saltar um perigoso gatuno ou assassino com vontade de assediar o transeunte incauto (e para mais o discurso já gasto de que não se vê um polícia na rua!). Arranjem lá melhor desculpa para ficarem fechados em casa a justificarem as humildes existências, porque para dito peditório não é a Sociedade do “bora lá ver TV” que vai encontrar respostas.


4) Proibido fumar

Num país em que pelo menos metade do parque automóvel é constituído por fenomenais bólides a diesel, sempre com os injectores mal cuidados, a deitarem baforosas doses de fumos negros pelos escapes (já sem falar nos magníficos táxis Mercedes década de 80 que parecem saídos de um qualquer filme turco) está toda a gente muito preocupada com o fuminho dos SG Ventil e com a reserva de espaços para os imaculados pulmões da arraia.


Sunday, October 14, 2007

Unlikely.


Does the Universe Have a Purpose?

Perhaps you hoped for a stronger statement, one way or the other. But as a scientist I don't believe I can make one. While nothing in biology, chemistry, physics, geology, astronomy, or cosmology has ever provided direct evidence of purpose in nature, science can never unambiguously prove that there is no such purpose. As Carl Sagan said, in another context: Absence of evidence is not evidence of absence.

Of course, nothing would stop science from uncovering positive evidence of divine guidance and purpose if it were attainable. For example, tomorrow night if we look up at the stars and they have been rearranged into a pattern that reads, "I am here," I think even the most hard-nosed scientific skeptic would suspect something was up.

But no such unambiguous signs have been uncovered among the millions and millions of pieces of data we have gleaned about the natural world over centuries of exploration. And this is precisely why a scientist can conclude that it is very unlikely that there is any divine purpose. If a creator had such a purpose, she could choose to demonstrate it a little more clearly to the inhabitants of her creation.

One is always free, as some people do, to interpret the laws of nature as signs of purpose, as for example Pope Pius did when Belgian physicist-priest George Lemaitre demonstrated that Einstein's general theory of relativity implied the universe had a beginning. The Pope interpreted this as scientific proof of Genesis, but Lemaitre asked him to stop saying this. The big bang, as it has become known, can be interpreted in terms of a divine beginning, but it can equally be interpreted as removing God from the equation entirely. The conclusion is in the mind of the beholder, and it is outside of the realm of scientific theory and prediction.

Finally, even if the universe has a hidden purpose, everything we know about the cosmos suggests that we do not play a central role in it. We are, as a planet, cosmically insignificant. Life on Earth will end, as it has probably done on countless planets in the past, and will do in the future. And all the stars and all the galaxies we see could disappear in an instant and the universe would go on behaving more or less as it is doing right now. Nature seems as uncaring as it is unyielding.

Thus, organized religions, which put humanity at the center of some divine plan, seem to assault our dignity and intelligence. A universe without purpose should neither depress us nor suggest that our lives are purposeless. Through an awe-inspiring cosmic history we find ourselves on this remote planet in a remote corner of the universe, endowed with intelligence and self-awareness. We should not despair, but should humbly rejoice in making the most of these gifts, and celebrate our brief moment in the sun.


by Lawrence M. Krauss, Professor of Physics and Astronomy (in conversations about the “Big Questions” the John Templeton Foundation is conducting among leading scientists and scholars)



Thursday, September 13, 2007

Memento ou será que os peixinhos morriam de saudade?

A common misconception that goldfish only have a three second memory has been proven completely false. Research by the School of Psychology at the University of Plymoth in 2003 demonstrated that goldfish have a memory-span of at least three months and can distinguish between different shapes, colours and sounds. They were trained to push a lever to earn a food reward; when the lever was fixed to work only for an hour a day, the fish soon learned to activate it at the correct time.
Scientific studies done on the matter have shown that goldfish have strong associative learning abilities, as well as social learning skills. In addition, their strong visual acuity allows them to distinguish between different humans. It is quite possible that owners will notice the fish react favorably to them (swimming to the front of the glass, swimming rapidly around the tank, and going to the surface mouthing for food) while hiding when other people approach the tank. Over time, goldfish should learn to associate their owners and other humans with food, often "begging" for food whenever their owners approach.




E assim se acaba com uma das mais bonitas intenções da natureza a de que o belo do peixinho dentro do aquário redondo olhava(*) para nós a cada 3 segundos como se fossemos um novo amiguito, estilo: olha um novo amiguito...(3s)...olha um novo amiguito...(3s)...olha um novo amiguito...

(*) devo ter tido uma meia-dúzia, durante a minha longa adolescência, aos pares ou solitários e nenhum deles terá durado mais de 3 meses!


Wednesday, September 12, 2007

Against the wall

What we have
What we give
What we take
Who we are
What we have
What we give
What we take
What we have
What we give
What we take
Who we are
What we have
What we give all away
Always
What we do if we throw it all away
All away
Always
What we do
If we throw it all away

by Nitin Sawhney, Philtre, Throw




Tuesday, September 11, 2007

for men that mean business

Férias “veranengas” em Bilbao. Hotel-giro-design-com-vista-para-o-Guggenheim. Chuva a cair lá fora e a estragar as fiestas da terrinha. Entre as revistinhas e livrinhos estrategicamente disponibilizados na prateleira de charme do hotel há uma Esquire de Setembro de 2007, preço em libras esterlinas(*). Folheio-a, descobrindo rapidamente que apesar do peso desproporcionado da publicidade página sim, página não – fundamentalmente dedicada a automóveis e relógios de pulso – e de ter sido fundada em 1933 se trata de mais uma tentativa condenada ao fracasso de convencer os homens a lerem revistinhas metrosexuais... women’s imagination at work!



(*) “esterlinas” – sempre quis dar uso a esta palavra – é linda, não é!?

Thursday, July 26, 2007

What makes perfect

Acredito que a verdadeira distinção entre o racional e o irracional tem a ver com a percepção da perfeição. A capacidade de juntar partes do todo para obter momentos perfeitos de harmonia e satisfação. Assim como quando se está perfeitamente rodeado de amigos a beber copos na noite e tudo, mesmo tudo, o que toda a gente diz ou faz parece sinfónico. Ou quando nos apanhamos a ver aquele filme mesmo ajustado ao estado da alma na companhia da cara-metade. Ou quando se sai para jantar e nos saem aquelas amêijoas temperadas com a dose exacta de coentros enquanto o sol se põe num mar tranquilo. Ou então quando com a alma pesada olhamos um céu carregado de amarelo e de repente desata a chover torrencialmente. Ou simplesmente quando damos por nós a conduzir com o carro cheio de gente a dormitar e a rádio decide tocar a musiquinha perfeita que nos faz sentir verdadeiramente vivos.




Tuesday, July 24, 2007

Insomnia

It all starts with an airplane flying over Alaskan thick ice. And it is the best film start one could imagine.
Good things in life come with good music.
Playwrights that make you feel alive and shining.
Endeavours of images you haven’t captured with a camera but that you’ve pictured in your mind.
Sensations you’ll definitively remember the second your soul expires. Because, just because, you’ll remember those strong images of amazing places you’ve been when shivering was still perceptive to your young age and time did not seem to pass by as quickly as it does as you become aged. A time when looking at the night sky felled like reaching the stars.


Sunday, March 4, 2007

Wednesday, December 27, 2006

Who Is "J" Anyway?

Há uns anos atrás aconteceu-me uma daquelas completamente inexplicáveis. Estava no meu segundo ou terceiro ano de consultoria, entretido com a ideia de que iria contribuir para mudar algumas coisas, criar valor, melhorar as empresas nacionais, blablabla, blablabla, quando um dia ao chegar a casa tenho à minha espera na caixa do correio uma carta. Dirigida a mim, nome e morada escritos “à máquina” sem remetente, selo postal das Filipinas, Pasay City 1300… Estranho, pensei: não me lembro de conhecer ninguém que ande pelas Filipinas. Abro o envelope e lá dentro apenas uma folha de revista rasgada da dita, não identificável, com um artigo «How Top Executives Manage to ‘Do it all’», e um post-it, daqueles tipicamente amarelos 3M, escrito à mão a dizer “Ricardo. Try this. It’s really good!”, assinatura não decifrável mas parecida com um “J”. De forma resumida, o artigo publicitava um livro chamado “The Organized Executive” e marcava pontos com um “If you still measure success by the hours you spend working, you’re missing the point. Success today is the time you spend doing what you want.”.


Está claro que não encomendei o livro mas durante este tempo me interroguei quem seria a alma preocupada que me pregara uma valente partida, de passagem pelas Filipinas, até que há uns dias atrás me lembrei de googlar e encontrei «Who Is “J” Anyway?»

Pareto’s once again

“…almost all of us believe ourselves to be in the top 20% of the population when it comes to driving, pleasing a partner, or managing a business…”

Sunday, October 29, 2006

Tarantino’s style

Nove e vinte de sexta-feira, encurralado no pára-arranca do eixo Norte-Sul a tentar alcançar a ponte. Para completar um dia de cão, parecia-lhe que meia Lisboa e arredores decidira partilhar a ideia de aproveitar a semana de feriado no Algarve. E ali estavam todos metidos nas suas caixas de metal de fabrico estrangeiro apoiadas sobre rodas. Sentia-se frustrado, desmotivado e cansado, a precisar definitivamente de recarregar baterias, no seu – e de muitos outros também, a avaliar pelo tráfego – refúgio algarvio. O seu T2 a dois blocos da linha da praia, perto de Lagos, que comprara com os ganhos da bolsa nos idos de 97…bons tempos. Infelizmente, as miúdas também lá estariam durante o fim-de-semana. Após a acalorada discussão telefónica da hora de almoço, Isabel seguira com as crianças pelas seis da tarde, e era certo e seguro que as três fêmeas lá de casa não o iam deixar sossegado durante sábado e domingo. Mas na segunda-feira ficaria sozinho, para se dedicar à leitura do último de Noam Chomsky, divagar um pouco e passar pelas brasas em horário de trabalho. Enfim, deixava para trás a azáfama do escritório, as intrigas palacianas dos colegas e a poluição sonora da capital. Estava realmente farto de tudo e de todos, dos compromissos que assumira, da vida persistentemente repetitiva, de acordar, trabalhar, ir buscar as miúdas ao colégio, fazer conversa ao jantar com Isabel, dormitar diante da televisão e deitar. Tinha dias em que lhe apetecia mesmo… Por isso, e por outros motivos mais, jogava compulsivamente no euromilhões, tal como anteriormente no totoloto. Todas as semanas empatava entre vinte e trinta euros nos jogos de azar popular – no passado ia também regularmente ao casino mas com o nascimento das miúdas tivera que se deixar disso. E naquela sexta-feira, tinha tido que aguardar meia-hora na fila interminável para meter os boletins e candidatar-se aos 113 milhões. Acelerava já na auto-estrada junto da Marateca, quando se lembrou de sintonizar o rádio para saber a chave – “e os números da chave vencedora do concurso desta semana do euromilhões são 3, 4, 8, 44 e 50, e as estrelas o 7 e o 8” – fixou-os de memória e puxou da carteira onde guardava religiosamente os boletins, concurso 42: “3 4 8 44 50 + 7 8” e naquele momento, lançou as mãos à cabeça e o carro fugiu para a vala de separação da auto-estrada…

Sociedade moderna


Segundo as estatísticas televisivas cá da terrinha existem cerca de 50 mil pessoas a trabalhar em Call Centers e Contact Centers em Portugal. Continhas de merceeiro: 4 turnos por dia, descontos de noite e fim-de-semana, em horário de expediente dá aproximadamente 10 mil marmelos a atenderem clientes e fregueses ou a fazerem contactos. Em permanência, existem sempre pelo menos uns 10 mil portugueses a fazerem pedidos, reclamações ou a serem vítimas do marketing enganoso ou não – i.e., em contacto com os outros 10 mil desgraçadinhos. É obra, e triste pensar ao que chegámos. E o comércio tradicional, o que é feito do comércio tradicional?

Wednesday, October 18, 2006

Awakening

Aparentemente falta cá na terrinha um pouco de tudo. Ele é o dinheirito para pagar as portagens nas Scut. Ele é o bom senso para deixar de prometer pensões de reforma que depois não são possíveis. Ele são as fontes de energia primária para impedir os incrementos desmesurados da electricidade. Ele é a “flexibilidade negocial” para ir ao encontro das reivindicações dos pobres professores e do seu magnânimo Estatuto da Carreira do Docento, vulgo ECD. Enfim, as coisas em geral vão tão mal que parece que também já faltam as maternidades e serviços de urgência com proximidade às parturientes e pacientes. Nesta época do ano, até nem o sol nos faz a vontadinha e temos que gramar a chuvinha a rodos.
Pensar em soluções para todas estas desgraças, necessidades e soluções também já não é causa a que muitos se dediquem – creio que por estas alturas também estamos todos mais ou menos conformados e confortáveis com a ideia de que o xico-espertismo genético vingará e passaremos todos mais ou menos incólumes pelas nossas humildes existências, apreciando pormenorizadamente os nossos próprios umbigos e fechando os olhos às agruras do vizinho do lado. Eu, pessoalmente, também já desisti de me pôr a gastar os neurónios a não ser que me paguem bom dinheiro pelo exercício. Assim sendo, e só porque me apetece – valha-nos a liberdade de irmos fazendo o que bem nos apetece – retomo a solução simples e imediata de copiar e plagiar ideias antigas de quando alguns de entre nós ainda se dedicavam a ter ideias radicais para dar a volta às coisas.



Baseando-me e acrescentando valor à magnífica ideia do “Europe’s West Coast” by BBDO, proponho:

- A construção de 10 ou 12 casinos à volta de Lisboa, para ajudar a malta a torrar os tostões que ainda restam enchendo os cofres do Estado, impedir a entrada das hordas de suburbanos nas noites de fim-de-semana, incentivar o turismo e com isto justificar o investimento no novo aeroporto e, duma forma geral, entreter a multidão mais regularmente do que com a espera pelos sorteios do euromilhões.

- Transformar toda a zona desde o Tejo até ao Douro num enorme espaço dedicado a urbanizações e lares para a terceira idade, para a nossa e para a dos outros. Há que ter visão para isto porque se trata do único futuro plausível: termas aqui e acolá, muita floresta cuidada, rios e serra q.b. para actividades ao ar livre não demasiado radicais, um pouco de praia atlântica para quem não gosta de ir a banhos, frutinha e vegetais de qualidade e vinho, muito vinho para ajudar a animar os espíritos. Emprego geriátrico para quem quiser e as pensões de reforma dos países ocidentais a entrarem em torrente.

- Fazer do belo Alentejo uma gigantesca hollywood, para produção de filmes, novelas e reality-shows também. Imaginem lá os montes alentejanos todos transformados em magníficos cenários de grandes produções, telenovelas mexicanas ou casas big-brother ou similar. Os velhotes indígenas a verem passar as estrelas, mais uns quantos resorts para entreter as ditas, meia-dúzia de aeródromos para os jatinhos particulares e toda a gente satisfeita a papar umas migas e a trincar costeletinhas de borrego. Uma delícia!

Enfim, com o Algarve já não temos que nos preocupar, as ilhas poderiam continuar a ser subsidiadas à custa do cash-flow do continente e para norte do Douro, poderíamos sempre ir pensando num parque jurássico. Bora lá?

Sunday, September 24, 2006

O despertar dos mágicos


Disseste-me há muitos anos atrás duas coisas que me ficaram na memória:

“O próximo milénio será o do regresso ao misticismo.”

“O grande negócio dos próximos anos passa pelo entreter das massas.”


Oh adivinho incauto, parece que estão dados os primeiros passos para a veracidade das tuas predestinações. Se a segunda me serviria de muito não fora eu o fruto dos teus genes, limitado empreendedor e cumulativamente desdenhoso da noção democrática de que há que permitir tudo a todos, já a primeira me assusta desmesuradamente. Dizem os arautos da desgraça que a História se repete, em ciclos temporais matematicamente demarcados. Afirmam com certeza absoluta que regressam os tempos das cruzadas, do choque das religiões ou entre civilizações. E eu papalvo inconsciente agarro-me com firmeza à ideia de que a evolução nos trouxe por um caminho sem retorno em que o racional prevalecerá sobre o místico, desprezando em bom rigor o poder do espiritual, o medo infligido pela fé sobre a lógica dos homens e não querendo acreditar no paralelo entre o “entreter das massas” e a necessidade mentecapta dos meus pares, que não semelhantes, em alimentarem as almas com o pregão dos magos.

Monday, August 28, 2006

Project Mayhem

"GOOD morning, ladies and gentlemen. We are delighted to welcome you aboard Veritas Airways, the airline that tells it like it is. Please ensure that your seat belt is fastened, your seat back is upright and your tray-table is stowed. At Veritas Airways, your safety is our first priority. Actually, that is not quite true: if it were, our seats would be rear-facing, like those in military aircraft, since they are safer in the event of an emergency landing. But then hardly anybody would buy our tickets and we would go bust.
The flight attendants are now pointing out the emergency exits. This is the part of the announcement that you might want to pay attention to. So stop your sudoku for a minute and listen: knowing in advance where the exits are makes a dramatic difference to your chances of survival if we have to evacuate the aircraft. Also, please keep your seat belt fastened when seated, even if the seat-belt light is not illuminated. This is to protect you from the risk of clear-air turbulence, a rare but extremely nasty form of disturbance that can cause severe injury. Imagine the heavy food trolleys jumping into the air and bashing into the overhead lockers, and you will have some idea of how nasty it can be. We don't want to scare you. Still, keep that seat belt fastened all thesame.
Your life-jacket can be found under your seat, but please do not remove it now. In fact, do not bother to look for it at all. In the event of a landing on water, an unprecedented miracle will have occurred, because in the history of aviation the number of wide-bodied aircraft that have made successful landings on water is zero. This aircraft is equipped with inflatable slides that detach to form life rafts, not that it makes any difference. Please remove high-heeled shoes before using the slides. We might as well add that space helmets and anti-gravity belts should also be removed, since even to mention the use of the slides as rafts is to enter the realm of science fiction.
Please switch off all mobile phones, since they can interfere with the aircraft's navigation systems. At least, that's what you've always been told. The real reason to switch them off is because they interfere with mobile networks on the ground, but somehow that doesn't sound quite so good. On most flights a few mobile phones are left on by mistake, so if they were really dangerous we would not allow them on board at all, if you think about it. We will have to come clean about this next year, when we introduce in-flight calling across the Veritas fleet. At that point the prospect of taking a cut of the sky-high calling charges will miraculously cause our safety concerns about mobile phones to evaporate.
On channel 11 of our in-flight entertainment system you will find a video consisting of abstract imagery and a new-age soundtrack, with a voice-over explaining some exercises you can do to reduce the risk of deep-vein thrombosis. We are aware that this video is tedious, but it is not meant to be fun. It is meant to limit our liability in the event of lawsuits. Once we have reached cruising altitude you will be offered a light meal and a choice of beverages - a wordthat sounds so much better than just saying 'drinks', don't you think? The purpose of these refreshments is partly to keep you in your seats where you cannot do yourselves or anyone else any harm. Please consume alcohol in moderate quantities so that you become mildly sedated but not rowdy. That said, we can always turn the cabin air-quality down a notch or two to help ensure that you are sufficiently drowsy.
After take-off, the most dangerous part of the flight, the captain will say a few words that will either be so quiet that you will not be able to hear them, or so loud that they could wake the dead. So please sit back, relax and enjoy the flight. We appreciate that you have a choice of airlines and we thank you forchoosing Veritas, a member of an incomprehensible alliance of obscure foreign outfits, most of which you have never heard of. Cabin crew, please make sure we have remembered to close the doors. Sorry, I mean: 'Doors to automatic and cross-check'. Thank you for flying Veritas."

Tuesday, August 1, 2006