Sunday, December 18, 2005

3-benzoyloxy-8-methyl-8-azabicyclo[3.2.1]octane-4-carboxylic acid methyl ester

Este fim-de-semana ofereceram-me cocaína à descarada no Bairro! Sinal dos tempos!?

Monday, November 21, 2005

tiger food

Crónica do futuro – by oInimigoPúblico, a notícia é de 18 de Novembro de 2035:

“Faleceu esta semana o último português que servia num café. O funeral, organizado pelos colegas, incluiu samba, caipirinha e o desfile da Escola Unidos da Tijuca de Arroios”

mais abaixo, na mesma página, “brilhante prancha” de BD a gozar com a Pimpinha Jardim – by Nuno Markl (que é suposto tratar-se de um humorista iluminado da nossa praça) – sobre um qualquer cruzeiro do socialite nacional a Marrocos:

“Tânger é bastante feia, muito suja e as pessoas têm um aspecto assustador”

Sejamos pragmáticos. As televisões insistem em enfiar-nos pelo cérebro adentro imagens de malis e outros povos sub-saharianos a escalarem as barreiras de fronteira em Melilla, putos argelinos a incendiarem voitures nos arredores de Paris e em cada dia que passa há mais uma remessa de uzbequis descoberta num qualquer contentor acabado de chegar às ilhas britânicas. É assustador e mesmo assim ninguém pára para pensar que talvez – só talvez – esta gente não saiba ao que vem. Que repletos de uma ilusão efémera, esta gente não discerne entre o que deixa para trás e as agruras que vem enfrentar. Que o que os espera pode não ser tão melhor assim. Que dentro da fortaleza Europa ou para norte do arame farpado da Califórnia não há um mar de rosas. E ninguém se esforça por lhes explicar que talvez – só talvez – seja melhor ser-se um guardador de cabras e poder contemplar um céu intacto do que ter de lutar por um lugar ao sol no meio da multidão inerte.

Wednesday, October 26, 2005

directamente para o "top"


Les Poupées Russes - ou a vida tal e qual como ela foi quando se chega aos trintas, sem clichés!

Tuesday, October 18, 2005

lugar místico

“Nas noites de Verão levava-me ao alto de uma árida colina para observar o céu. Fatigado de contar meteoros, eu adormecia num rego do solo. Ele ficava sentado, de cabeça erguida, rondando imperceptivelmente com os astros. Deve ter conhecido os sistemas de Filolau e de Hiparco e o de Aristarco de Samos, que eu preferi mais tarde, mas estas especulações já o não interessavam. Os astros eram para ele pontos inflamados, objectos como as pedras, e os lentos insectos de que ele tirava igualmente presságios, partes constituintes de um universo mágico que compreendia também as volições dos deuses, a influência dos demónios e o destino dos homens.”


Existe às portas de Sevilha um lugar místico. As ruínas romanas de Itálica, a terra natal de Adriano que Crayencour refere na passagem acima. Visitei-as em pequeno, num dia solarengo que me ficou na memória, e de cada vez que por ali passo, a caminho ou vindo da Sierra Morena, assola-me a vontade de perscrutar as estrelas e contemplar os astros.

Friday, October 7, 2005

O eclipse do regime

Ao longo dos últimos 2 anos tenho tentado abstrair-me o mais possível dos factos políticos de Portugal. Do governo ou desgoverno deste país. Assumi com rigor uma postura absentista. Deixei de queimar neurónios com a leitura supérflua dos pasquins nacionais. Ignorei ao máximo as bujardas da classe jornalística que contribui lentamente para o devorar da nação lusa. Saciei as minhas necessidades de realidade presente à custa da Economist e afins. Sentia-me bem com a desintoxicação. Com a perspectiva mais global da sociedade humana. E de repente, há coisa de um mês, surgiu-me um dilema: em quem votar nas próximas autárquicas. Considerando que estas acabam por ser as eleições mais próximas do meu quotidiano, queria conseguir escolher bem o próximo presidente da CML. Voltei a estar atento aos telejornais de qualidade duvidosa que passam nas nossas “tevês” e a tentar apanhar qualquer coisita de jeito sobre o assunto nas páginas deturpadas dos nossos jornais. Comecei por descobrir que não havia muita gente preocupada com o assunto. O tema do momento era, e ainda é, as presidenciais do próximo ano. Estava tudo mais concentrado no desfazer do tabu do hipotético candidato X, nas deambulações senis do candidato Y e nos lirismos do vai-não-vai candidato Z. Como se a prima-dona que vai habitar o palácio de Belém contribuísse de alguma forma para a felicidade comunal do Português normal. Depois, revelou-se-me muito mais importante analisar ao milímetro os passos, actividades e palavras inflamadas dos quatro caciques, candidatos independentes a câmaras de terceira linha, que estiveram envolvidos em coisas “tão escandalosas” como umas férias, à revelia da justiça, no Brasil, a oferta de frigoríficos a eleitores e a participação obscura nas negociatas do futebol nacional, o desvio de fundos para a conta bancária do primo taxista na Suiça ou a participação num qualquer reality-show do momento. Tudo temas suculentos para os energúmenos do 4º poder e respectivos leitores ou telespectadores, está bem de ver. Finalmente, a uma semana da data chave descobri uma pobre matriz de perguntas mal-engendradas aos cinco estarolas em quem posso por a cruzinha. Suficiente, pensei eu, para este pobre cidadão lisboeta fundamentar uma decisão sobre a matéria em apreço. E, veja-se bem, eu que sou um rapazinho “às direitas” estava convencido que tinha conseguido discernir o “menos mau” no espectro diametralmente oposto às minhas convicções. Eis senão quando, por causa das reticências e renitências, decidi assistir ao último debate entre os ditos candidatos. Resultado: vou votar em branco. O que se vai tornando um hábito nada feliz. E espero que muitos façam como eu porque esta tristeza de nem sequer se conseguir escolher o “menos mau” tem que acabar ou então acabe-se com este regime caduco. Porque mais vale ter a inteligência de compreender que algo vai mal, que não estamos preparados para esta forma de governo e que se calhar basta “puxar a rolha” do Alqueva para ver se nos afundamos definitivamente no Atlântico.
De borla, aqui ficam algumas ideias de um consultor altruísta para quem se quiser candidatar daqui a quatro anos:

1) Portagens à entrada da cidade – para equilibrar as vantagens de viver em Lisboa, já que não conseguem fazer as continhas à gasolina e tempo desperdiçado no vai-e-vem diário;
2) Habitação desabitada durante mais que X tempo é para quem a reabilitar;
3) Prédio com 5 ou mais andares: os dois primeiros obrigatoriamente para serviços e os outros compulsivamente para habitação – ou proporcional;
4) Buraco aberto na rua: obrigação de repavimentar a rua inteira;
5) Viatura mal estacionada ou em 2ª fila: fotografia com o telemóvel e repartição do valor da multa com o delator;
6) Jardinzinho de bairro: regador e ancinho a cargo do residente nas tardes de fim-de-semana;
7) Pombo morto e entregue nos serviços municipais: bilhetinho de metro como recompensa;
8) Arrumador ganzado ou pedinte errante: fardinha da EMEL ou vassourinha de palha, i.e., funcionário municipal encartado;
9) Motinha de escape aberto em circulação: uma semana de carrinho-aspirador ou cortador de relva na mão;
10) Lar de idosos e creches municipais debaixo do mesmo tecto – uns tomarão conta dos outros.
E prontos, para bom entendedor meia-palavra basta...

Thursday, October 6, 2005

fragments of a lovely season

Never win and never lose
There's nothing much to choose
Between the right and wrong
Nothing lost and nothing gained
Still things aren't quite the same
Between you and me

I keep a close watch on this heart of mine
I keep a close watch on this heart of mine

I still hear your voice at night
When I turn out the light
And try to settle down
But there's nothing much I can do
Because I can't live without you
Any way at all

I keep a close watch on this heart of mine
I keep a close watch on this heart of mine

(05Out05 - John Cale live at CCB)

Friday, September 23, 2005

chip

Gosto do conceito das “grandes ideias” que mudam o mundo. Das coisas simples que, sem darmos por elas, transformam a Vida. Dos objectos que inicialmente são novidade e lentamente se tornam banais, acessíveis e se massificam. Não sou fã de gadgets – tenho até alguma aversão aos ditos – mas reconheço o contributo dos “gecos” – geeks, entendidos como aqueles cromos que aderem sempre à 1ª vaga de tudo o que é novidade – para a democratização da espécie humana. Em jeito de exemplo, os tipos que na década de 80 ficaram corcundas por causa dos telemóveis-tijolo de 1ª geração, na década de 90 ceguetas por causa dos laptops de ecrã reduzido e nesta década alienados por causa dos iPod. Presto-lhes tributo por terem sido cobaias, arriscando a possibilidade do tumor cerebral, a córnea deslocada ou o tímpano martirizado, para que hoje muita gente tenha acesso a estes objectos semi-úteis. E também considero justo que as mentes visionárias que engendraram tais ideias, nadem em rios de dinheiro, até porque foram capazes de acrescentar blocos novos às cadeias de valor, criar complexidade e assegurar subsistências. Isto é fácil de entender se vos disser que dos 58 milhões de italianos, cerca de 500.000 contribuem directamente para que os 58 milhões de “telefoninos” estejam operacionais, o que se traduz em assegurar não só as comunicações móveis dos ditos 58 milhões mas também os futuros dos seus agregados familiares – por estimativa, 1 milhão de alminhas a irem aos “coleggios”, a acelerarem “piaggios” e a comerem “pastas-divella-la-massa-bela”. Pessoalmente, sou um bocadinho céptico em relação a toda esta evolução, que certamente poria a cabecinha do Darwin a andar à roda, e prefiro as 2ªs / 3ªs vagas – consegui resistir ao “telefonino” até 2000. Mas há-de estar por aí a rebentar o “invento do século” para o qual eu me candidato, desde já, a rato-de-laboratório: invente-se o bloco de notas mental, o chip registador de acoplagem cerebral, e lá estarei eu na 1ª fila para o comprar. Porque sinto que todos os dias me escapam pelo menos 10 ideias diferenciais, 3 temas para reflectir e meia-dúzia de imagens únicas a relembrar. E cada vez que tomo consciência disto mesmo, penso no desperdício de neurónios DNA registado que deixaram de existir sem proveito nenhum. Em conclusão: vou voltar à fosfoglutina.

Monday, September 12, 2005

changes

Já dizia o poeta perspicaz – apesar da pala – que “todo o mundo é composto de mudança, tomando sempre novas qualidades…”. Pois, nos últimos tempos sobe-me a mostarda ao nariz cada vez que alguém próximo decide exigir de mim grandes planos, estratégias de vida renovadas ou intenções de porvir. Compreenda-se que considero escusado, ou demasiado, o tempo que investimos a conjecturar sobre o futuro próprio e alheio, a traçar grandes objectivos sem colher benefícios palpáveis. Que estou bem, agora e aqui, e me apetece viver por um bocadinho o presente. Que as grandes mudanças das vidas dos outros não têm obrigatoriamente que encontrar paralelos na minha própria vida, qual efeito-borboleta. Que as lógicas do tempo certo para se fazer isto e aquilo são impostas por regras de uma sociedade longe de perfeita. E que embora utópica me lembro muitas vezes da história de vida de um certo Douglas Bader, que li quando era pequeno, absorto à tentativa de pensar um dia de cada vez, sem desígnios intensos. O tempo das mudanças voltará, naturalmente, mas por agora apetece-me degustar o presente tal e qual como ele se apresenta, sem tirar nem pôr.

Monday, August 1, 2005

Feeling alive is…

Seating on the Piazza di Spagna stairs and crying inside while the sun sets over the rooftops...

Driving through Austrian yellow fields while listening to Suzanne Vega’s “In Liverpool”...

Having a meal & some red wine in Tate’s restaurant facing St. Paul’s Cathedral beneath a cloudy sky while writing life’s newest decisions on a piece of paper...

Driving on Donegal’s rollercoaster roads and catching the most beautiful Leonard Cohen’s program on the radio-waves...

Trying to concentrate on some love-letter words while your teardrops soak the paper...

Embracing my love inside a calm and salty sea and feeling the unique scent of her skin...

Tuesday, July 26, 2005

o fanático do sashimi

Fazia-me falta um novo vício na vida. Eis senão quando redescobri a bela da comidinha japonesa. Uns tempos passados após as primeiras tentativas frustrantes, sonho acordado com o “maguro tataki” a desfazer-se na minha boquinha como manteiga em pão quente. Em termos práticos, são apenas pedacinhos de atum cru, melhor, muito ligeiramente braseados e as minhas papilas gustativas em êxtase. E na última semana já lá vão quatro visitas à variada gastronomia nipónica. E gosto de quase tudo (passo bem sem o “nori” e o arroz do sushi adultera um bocadinho a essência do sashimi) porque é mesmo bom!

Sunday, July 17, 2005

anicha aqui

Ainda não percebi bem porquê mas dei por mim a tirar um livrinho bem antigo da prateleira poeirenta para o voltar a ler. “A Causa das Coisas”, by MEC. Li-o, pela primeira vez num verão distante de 1988, numas férias passadas entre o esturricar ao sol no monte de areia, diante da Anicha, o mergulho refrescante no final de cada crónica e a impaciência pela saída noctívaga até ao Seagull. Um verão descontraído de passeios de bicicleta com uma namoradinha estival de nome Benedita e peras verdes apanhadas directamente das árvores. Mas o engraçado é que as croniquetas do Miguel Esteves Cardoso, escritas em meados da década de 80 e retratando as peculiaridades do povo português permanecem impecavelmente válidas. Substituídos os escudos por euros e a CEE pela União Europeia, os estereótipos e figurões actuais estão lá todos, como se as “Coisas” tivessem permanecido estáticas ao longo destes vinte anos e as “Causas” fizessem parte do código genético desta Nação. E eu digo: podemos ter todos os defeitos do mundo mas temos também as virtudes de uma personalidade forte – sejam elas quais forem. Valha-nos isto!



Tuesday, July 12, 2005

human imperfection

It was one of those days. Woke up wandering why on earth did my dear soul end up trapped inside this imperfect body capsule. Hadn’t slept 10 minutes in a row during the night and spent the whole day wishing I was like “Marsellrebelldesosa”, who seems to be able to sleep only 4 hours a night. At 9h30 as I was finally reaching my REM stage, the damn phone rang: a hysterical secretary trying to get me on time to a recruiting session – it wasn’t my turn, obviously. Got dressed and went to “the bunker”. Nobody around and I was just going to nap over the laptop when a colleague arrived and switched the lights on – “Good morning!” Yeah, and I hate you bastard. The phone strikes again and I have to deal with half an hour of consulting bullshit on a low-coverage area, while feeling the brain getting fried next to my ear. Tried to work a bit and here comes the phone again: quality auditing to my project. Not during the next two weeks, pleeease… Keeping my eyelids in a horizontal position and guess what, the fucking phone rings again. Bad news, this time: a friend’s father just died last night, while sleeping. A father who had that kind of unique relationship with his daughter, so it seemed. Not that old, I believe. A “special parent” so it used to be commented. And I get to that inner line of thought on “how to deal with dead” and “why do we have to sleep”. Human imperfection, that’s it.


copyright: vitriolica

Friday, July 8, 2005

warum?

Impressionante! Graças ao “poder dos fotologs” soube rapidamente que toda a gente que conheço em Londres estava bem e fiquei descansado. Mas no “bunker” em que me encontro a trabalhar, havia um “bife” de um outro projecto absolutamente desesperado a tentar telefonar para a família para saber como estavam. Felizmente, bem. O mesmo homem que ainda ontem pulava de contente por causa dos jogos olímpicos, passou a manhã inteira agarrado ao telemóvel para conseguir saber notícias. E estas coisas deixam-nos a pensar. Se Alá é grande, se somos todos filhos de um Deus menor ou se o fortuito manda.

Copyright: abox

Sunday, July 3, 2005

Manager

Pois é, para acabar com o mau humor dos últimos tempos, saiu-me no sapatinho a promoção desejada. E agora que a poeira já assentou sobre a novidade, fica a listinha de intenções para o novo desafio. Seis, está bem de ver, porque é este o número que faz toda a diferença – mas a ordem é perfeitamente irrelevante:

1) Chegar a partner em 3 anos (ou em 5, no limite) – sou totalmente a favor da ambição, esta é o sal da vida e o motor do progresso, mas sem confusões com ganância.
2) Ser um exemplo a seguir – creio que ao longo da vida, em particular da profissional, predomina o aprender pela negativa, isto é o evitar reproduzir o que os outros fazem mal. Como é evidente, isto implica uma dupla operação: discernir entre o malfeito e o bem-feito e estabelecer a forma correcta de fazer. É complexo e ineficiente. Quero, por isso, que quem trabalhe comigo aprenda pela positiva.
3) Incentivar o “pro bono” – poucas pessoas sabem mas as empresas de consultoria, para além de cobrarem rios de dinheiro, também desenvolvem actividades de filantropia. Tipo, dedicarem horas úteis a desenvolver projectos para Organizações e Instituições sem orçamento para nos contratarem. Quero fazer disto.
4) Tratar os “mentorados” nas palminhas – em boa verdade toda a gente precisa dum estímulo inicial e depois recorrente, de uma energia de activação para poder vencer, principalmente para quem saiu fresquinho da escola e não faz a menor ideia do que é executar. Mais do que pagar almocinhos quero mostrar caminhos.
5) Gerar resultados – esta é egocêntrica mas há lá coisa que dê mais pica do que fazer o negócio crescer, fazer prosperar e garantir futuros.
6) Não vender “gato por lebre” – isto é, não tentar vender o que o Cliente não precisa realmente ou gerar necessidades artificiais. Odeio publicidade enganosa e o marketing do supérfluo ou inútil.

Ui, até já estou assustado. Boa sorte para mim.

Friday, July 1, 2005

alcateias

Já contei esta estória(*) antes mas para o comum dos mortais, vulgo povão, que se levanta de manhã e apanha o metropolitano de Lisboa (a pior empresa pública do país – mas não me vou pôr a dissertar sobre isto) a sensação de déjà vu a cada ceguinho (em politicus correctus: invisual) que entra pela porta do fundo no preciso instante em que o anterior saiu pela porta da outra extremidade – normalmente auxiliado por uma qualquer alma pacóvio-caridosa – só pode suscitar um pensamento: alcateia. Alcateia, sem querer ofender os lobos mas na literal definição de “quadrilha de ladrões facinorosos”. E eu pergunto: os invisuais não pagam passe? Ou será um bom negócio!?

E já que estamos nesta onda pessimistico-desabafa-aqui. Existem na bela Lisboa uma série de personagens típicos. Ele é o homem do saco de plástico a acenar no Saldanha (por acaso no outro dia vi-o às compras no Corte Inglês, mas isso agora não interessa para nada). Ele é o velho rasta e andrajoso a fingir-se de bêbado no Bairro. Ele é o jovem aprumado a pedir dinheiro para o chuto nos sinais das Amoreiras. E há também os dezenas / centenas de Cais a tentarem impingir as revistinhas. Bom, no metro do Marquês (lá está, este semi-jovem consultor é utilizador frequente do comboio subterrâneo – quando este funciona ou não lhe engole o bilhetinho à 3ª viagem das 10 já pagas. Gatunos!) há um dos ditos Cais dos seus 30 e tal aninhos, traços meio sul-americanos e óculos, que deve ser, muito provavelmente, a pessoa que mais sorriu para mim. Está por ali, junto à passadeira rolante, parado e sorridente de revistinha na mão, enquanto o povão passa e ele sorri, sorri, sorri… Fazendo umas continhas rápidas: desde os meus tempos de universidade e admitindo que andei uns 100 dias / ano de metro dá uns 1.300 sorrisos. É obra! E eu pergunto: o que é que a Cais fez ou faz por este ser? Proporciona sorrisos gratuitos ao povão? Opa lá lá, atribua-se desde já um subsídio à Cais!
E pergunto mesmo mais: será que vou sentir a falta do sorriso idiota e enjoativo da criatura no dia em que esta desaparecer?
Ufa!

(*) e não se ponham com estórias sobre o “estória” versus “história” senão passo a escrever tudo em inglês!

Tuesday, June 28, 2005

preacher’s son

Era uma daquelas noites de verão intenso em que o suor faz a camisa colar-se ao peito. Marcelino cantava agarrado ao microfone no único café-karaoke do Entroncamento, como se todo o sucesso da sua vida dependesse do acerto vocal naquela noite. Sentia-se meio Che Guevara, com a barba por fazer, e simultaneamente o melhor vendedor de automóveis usados do mundo com a gravata, bordeaux, semi-desapertada a querer alcançar o cinto de camurça entrelaçada que lhe segurava as calças do fato de linho azul. E num inglês polido debitava:

Billy-ray was a preacher’s son
And when his daddy would visit he’d come along
When they gathered round and started talkin’
That’s when billy would take me walkin’
A-through the back yard we’d go walkin’
Then he’d look into my eyes
Lord knows to my surprise

The only one who could ever reach me
Was the son of a preacher man
The only boy who could ever teach me
Was the son of a preacher man
Yes he was, he was, mmm, yes he was

Being good isn’t always easy
No matter how hard I try
When he started sweet-talkin’ to me
He’d come and tell me everything is all right
He’d kiss and tell me everything is all right
Can I get away again tonight?

O personagem encantava Constança, encostada ao balcão do bar com uma garrafa de super-bock green na mão e o pezinho a bater ao ritmo da música. Ao seu lado, Ezequiel e Raquel trocavam carícias mão na mão e mão no antebraço.

The only one who could ever reach me
Was the son of a preacher man
The only boy who could ever teach me
Was the son of a preacher man
Yes he was, he was, lord knows he was

How well I remember
The look that was in his eyes
Stealin’ kisses from me on the sly
Takin’ time to make time
Tellin’ me that he’s all mine
Learnin’ from each other’s knowing
Lookin’ to see how much we’ve grown

Constança esperava mais da vida. Deixar o ribatejo e ir viver para Lisboa. Largar o estereótipo de filha da cabeleireira local e embrenhar-se na cidade. Conhecer os bares da moda e cruzar-se com os famosos das novelas.

And the only one who could ever reach me
Was the son of a preacher man
The only boy who could ever teach me
Was the son of a preacher man
Yes he was, he was, oh, yes he was
He was the sweet-talking son of a preacher man
I guessed he was the son of a preacher man
Sweet-lovin’ son of a preacher man
Ahh, move me

Desde o liceu que fantasiava conhecer um médico ou um estudante de medicina, que tivesse um descapotável e uma casa no Algarve. Daqueles que conhecem os porteiros das discotecas e que sabia existirem para os lados de Cascais. Alguém que a arrancasse definitivamente do estatuto da classe-média semi-rural e que lhe permitisse os luxos das idas ao ginásio e ao solário em cada fim de tarde. E no entanto, ali estava ela compenetrada a despegar o autocolante da garrafa que segurava na mão, com as unhas bem pintadas, e a deixar-se fascinar pela voz rouca de Marcelino. Nunca o tinha visto antes e achava que ele tinha uma certa pinta. E então ele topou-a. Cruzaram os olhares e ela não se fez tímida. Ofereceu-lhe a expressão que treinara vezes sem conta de frente para o espelho e sentiu-se segura. Marcelino sorriu para ela enquanto deixava o estrado, passando o microfone ao cantante seguinte. Dirigiu-se para ela num passo firme e também cauteloso. Chegou-se bem perto e disse-lhe ao ouvido: tu és linda de morrer! E ela apaixonou-se.

Monday, June 27, 2005

Do It Yourself

Choose Life. Choose a job. Choose a career. Choose a family. Choose a fucking big television, choose washing machines, cars, compact disc players and electrical tin openers. Choose good health, low cholesterol, and dental insurance. Choose fixed interest mortgage repayments. Choose a starter home. Choose your friends. Choose leisurewear and matching luggage. Choose DIY and wondering who the fuck you are on a Sunday morning. Choose sitting on that couch watching mind-numbing, spirit-crushing game shows, stuffing fucking junk food into your mouth. Choose rotting away at the end of it all, pishing your last in a miserable home, nothing more than an embarrassment to the selfish, fucked up brats you spawned to replace yourself. Choose your future. Choose life...

Sunday, June 26, 2005

imperdível

para a gargalhada total: vitriolica webb's ite archive

vá para fora cá dentro

Sim, eu confesso. Tenho trabalho acumulado suficiente para me afundar até às orelhas. Uma “ToDo list” interminável que em cada semana parece crescer uns 400%. Documentação para analisar e apresentações para preparar. Três ou quatro pessoas à espera que lhes dê um OK para prosseguirem o que começaram a fazer. E no entanto, este fim-de-semana vinguei-me. Dos últimos 11 dias de labuta incansável, entenda-se. Desforrei-me e passei todas as horinhas de papo-pró-ar. Num doce faz nada, fiel à encantadora expressão “dolce fare niente”. A beber caipirinhas numa praia, longínqua da metrópole. A comer amêijoas à Dom Bulhão Pato. A regar uma feijoada de marisco com um tinto novo. A conduzir Alentejo fora com converseta e boa música em pano de fundo ou simplesmente com os amiguitos a dormitarem presos pelo cinto-de-segurança. Fui ao Bairro e ao cinema também. Explorei as funcionalidades do telemóvel novo (sim, desta vez saiu-me um nokia – estou contrariado mas rendido à razão das maiorias). Naveguei pelos blogs vizinhos e devorei o da neurótica. Esparramei-me no sofá a ver o Desperate Housewives. Deleitei-me com joaquinzinhos de dimensões proibitivas segundo as normativas comunitárias – encarnando o infanticida-piscícola. Apanhei algum sol. Não cumpri os limites de velocidade na estrada e até li qualquer coisita do “Espesso”. Em suma, aproveitei algumas das coisinhas boas, únicas e fúteis deste Portugalzinho com o IVA ainda nos 19%.

Tuesday, June 21, 2005

seize the moment

Estou no restaurante onde se come o melhor peixinho grelhado de Portugal. Debruçado sobre o Tejo, ao final de um dia solarengo. A brisa entra pelas janelas semi-abertas. Do lado de fora, na esplanada, está um casal com os seus dois filhotes. Dividem um jarro de sangria branca e uma travessa de amêijoas. Parecem entretidos a responder às interrogações inquisitórias dos catraios bem comportados. Ela é extremamente bonita e tem aquele ar afectuoso que se deseja para a mãe dos nossos filhos. Estou em modo “real-time” e gosto da sensação. Oblívio à converseta na minha mesa, vivo o momento. Desfruto o presente em compassos pequeníssimos de tempo. Gostava que a obsessão pelo presente fosse mais prosaica.

Thursday, June 16, 2005

do contra

Aviso já que hoje estou do contra e o blog serve de escapatória. Há cerca de um mês iniciaram umas “magníficas” obras cá na rua, à beirinha da minha janela. Parecia coisa simples. Basicamente, plantar uma ilha de calçada portuguesa no meio do alcatrão, instalar 4 ou 5 semáforos e respectivas passagens para peões. Como estas coisas obrigam a processos muito mais complexos do que passaria por qualquer cabecinha mentecapta, os notáveis trabalhadores da CML começaram por montar o belo do contentor chapa-de-zinco junto à obra – e eu pensei para os meus botões: por que raio montam uma casota para um “projecto” de uma semana!? Está bem de ver que deve servir de apoio às belas patuscadas de sardinhas assadas pela hora do almoço. Passados uns dias, apareceu uma cratera de dimensões consideráveis no meio da rua – obviamente, mal sinalizada como que a querer dizer ao motorista incauto: enfie aqui o seu carrito, se fizer favor. Mais uma semanita e já lá estava a bela da ilha toda calcetadinha – claramente desalinhada da que já lá existia uns metros mais à frente. Mais um dia ou dois e tinham espetado os postes dos futuros semáforos na dita ilha – ficando as pedrinhas espalhadas por todo o lado. Algum tempo depois, os postes ganharam o colorido daquelas caixinhas de “peão-aperta-aqui-o-botão-a-ver-se-o-sinal-fica-verde-ou-se-apanhas-choque”. Ao fim deste tempo todo, os postes já têm fios a sair pela parte de cima mas os semáforos propriamente nem vê-los. E assim continuamos à espera de ver a coisa concluída.


Bem sei que a vida anda dura. Que estamos em crise. Que as últimas semanas pareceram o pino do verão e a perspectiva da subida dos impostos dá cabo da motivação do trabalhador. Mas se qualquer um dos candidatos a presidente da Câmara prometer o outsourcing total das “grandes empreitadas municipais” (vulgo: tapar buracos, pintar marcações nas ruas ou garantir que a iluminação pública funciona) leva o meu voto. E se complementar com a promessa de uma esplanada em cada esquina e o fim de novos viadutos e túneis, até faço campanha.

Monday, June 13, 2005

Another Day on Earth

Isto é muito estranho: hoje é 13 de Junho e estou para aqui a ouvir o último disco do Brian Eno que, supostamente, só vai ser lançado… amanhã! Chama-se “Another Day on Earth” e, como seria de esperar, é mais uma obra-prima (atenção, esta opinião pode ser muito pouco consensual) – a começar pela metáfora da capa:


Brian Eno é a eminência parda da história da música nos últimos 40 anos. É assim como que uma espécie de arquitecto das sonoridades mais influentes do final do séc. XX. Começou por fazer parte dos Roxy Music antes destes se tornarem “foleiros”, emparelhou várias vezes com John Cale, participou no magnânimo “The Lamb Lies Down on Broadway” dos Genesis, ainda com Peter Gabriel, compôs os acordes para o peculiar “Ruth is stranger than Richard” do Robert Wyatt (1975), para além de ter trabalhado com Michael Nyman, David Bowie (muito), com os Camel, Talking Heads & David Byrne, ter ajudado os miúdos dos U2 a ser quem são e produzido com os James (a lista é quase interminável: INXS, Depeche Mode, Laurie Anderson, Suede, etc.). Para perceberem bem a omnipresença do “rapaz”, a música do start-up no Windows’95 é dele, influenciou a banda sonora do Trainspotting, do macabro Lost Highway e tudo o que os travestis Passengers ajudaram a projectar na tela. Trata-se portanto de um monstro – toda a gente já pensou: “eh pá, esta música é mesmo gira!” sem saber quem estava por detrás da coisa – mas não aprecia tributos.

Sunday, June 12, 2005

spokeneasy

Noite agradável. Jantar no La Trattoria com os amiguitos – não recomendo, a relação preço / qualidade deixa a desejar, embora o Chianti fosse de qualidade (e me fizesse recordar a passagem pelos campos amarelos da Toscânia / Toscana e uma noite bem dormida numa qualquer pousada de juventude entre Florença e Siena, em que a hospitalária de serviço nos tentou impingir umas garrafitas do belo néctar com o seu inglese macarrónico) – e música ao vivo num Speakeasy repleto de “cotas” encostados ao balcão em tentativa de engate casual. Para o final da noite, encontro um velho grande amigo de infância que não via há séculos e fico com este gostinho especial de quem já viveu uma vida inteira e tem lembranças de há meia vida atrás.

Friday, June 10, 2005

sinergia

O descaramento desta gente incomoda-me. Fui ver o filmezinho “soft” (andava a precisar de “menor profundidade”) da musa Scarlett Johansson com o Dennis Quaid a fazer de papá e a temática dos efeitos M&A em pano de fundo. É um bom filme, dentro do género. Um bocadinho previsível, como convém, e com situações hilariantes em número suficiente para descontrair. O “probleminha” é que a legendagem em português tratou de plantar a palavrinha “cinergia” umas oito ou dez vezes na tela. E eu pergunto: mas será que ninguém controla estas coisas? Não será isto motivo suficiente para o despedimento com justa causa da tradutor(a) analfabruto(a). Como faço para reclamar a indemnização por me tentarem estupidificar?

Oh Camões, perdoa-nos por gozarmos o belo do feriado e lentamente assassinarmos a bela língua que ajudaste a consagrar.

Wednesday, June 8, 2005

oficialmente verão

34 graus Celsius e os pinhais a arder no início de Junho. É oficialmente verão e o país começa a derreter qual pedaço de chocolate ao sol. Não me recordo de como era a vida sem o ar condicionado. Tenho vagas memórias da indecisão entre conduzir auto-estrada fora com as janelas totalmente abertas ou fechadas, quando o popó não oferecia luxos. Faz muito calor. Demasiado. E o último do Douglas Coupland deixa-me depré.

Outros “ilustres” nascidos neste dia (escolhidos a dedo da Wiki):

1625 - Giovanni Domenico Cassini, scientist
1724 - John Smeaton, civil engineer
1810 - Robert Schumann, composer
1867 - Frank Lloyd Wright, architect
1903 - Marguerite Yourcenar, author
1916 - Francis Crick, scientist, Nobel laureate, helped discover the molecular structure of DNA
1955 - Tim Berners-Lee, inventor of the World Wide Web
1957 - Scott Adams, cartoonist ("Dilbert")
1966 - Julianna Margulies, actress (ER)

Wednesday, June 1, 2005

spinning around

Vá-se lá entender certas coisas. Os franceses dizem “non” e fica tudo na mesma. Nem as bolsas caem nem o povo rejubila. E eu bem precisava de fazer uns investimentos.
É fácil amar-se esta manta de retalhos e não se desejar grandes progressos federalistas. Gosto desta visão periférica de suburbano a quem basta uma viagenzita de 2 horas para um banho de civilização. Para uma imersão desprendida no cadinho das culturas que fizeram o mundo. Gosto da diversidade enraizada nestes povos e das probabilidades de ser surpreendido quando os caracteres inovadores parecem ter migrado para outros continentes. Gosto também da sensação peculiar de aterrar em Lisboa e parecer que se acabou de entrar numa “película” sul-americana. Da binária excitação afrodisíaca da ida para paragens mais amenas e do regresso ao calor semi-tropical. Gosto do fatalismo irónico dos portugueses, do bairrismo expansionista dos espanhóis, do intelectualismo pretensioso dos franceses, do caos funcional dos italianos, da organização liderada dos alemães, da libertinagem controlada dos holandeses, do tradicionalismo cosmopolita dos britânicos e da tristeza poética dos irlandeses. Estamos bem assim. Semi-abertos ao mundo mas preservando identidades e costumes, sem edulcorantes e com conservantes q.b.. Às voltinhas no carrossel Terra. A orbitar ordeiramente o pai Sol. Perdidos na espiral da Via Láctea.

Tuesday, May 31, 2005

da consultoria

A shepherd was herding his flock in a remote pasture when suddenly a brand-new BMW advanced out of the dust cloud towards him. The driver, a young man in a Broni suit, Gucci shoes, Ray Ban sunglasses and YSL tie, leaned out the window and asked the shepherd,..........
-"If I tell you exactly how many sheep you have in your flock, will you give me one?"
The shepherd looked at the man, obviously a yuppie, then looked at his peacefully-grazing flock and calmly answered, "Sure."
The yuppie parked his car, whipped out his IBM Thinkpad and connected it to a cell phone, then he surfed to a NASA page on the internet where he called up a GPS satellite navigation system, scanned the area, and then opened up a database and an Excel spreadsheet with complex formulas. He sent an email on his Blackberry and, after a few minutes, received a response. Finally, he prints out a 130 page report on his miniaturized printer then turns to the shepherd and says,.........
-"You have exactly 1586 sheep".
-"That is correct; take one of the sheep" said the shepherd.
He watches the young man select one of the animals and bundle it into his car.
Then the shepherd says: "If I can tell you exactly what your business is, will you give me back my animal?"
-"OK, why not" answered the young man.
-"Clearly, you are a consultant" said the shepherd.
-"That's correct" says the yuppie, "but how did you guess that?"
-"No guessing required" answers the shepherd. "You turned up here although nobody called you. You want to get paid for an answer I already knew, to a question I never asked, and you don't know crap about my business.... Now give me back my dog".


Yep. New project. Full-day. CTM meeting. Kick-Off meeting. A load of brand-new 3-letter acronyms and I'm feeling... hollow.


Monday, May 30, 2005

Monday, May 23, 2005

efeito charro

Felizmente há também aqueles momentos em que a caixinha mágica nos deixa concentrar todos os neurónios nas excentricidades alheias – Sete Palmos de Terra.

nem só de pão vive o homem…

Reportagem na TVI (faço sempre um esforço para perder estes momentos magníficos mas desta vez a televisão estava sintonizada no canal 4): benfiquista, dono de café, aumenta o preço das refeições após promessa de 8 anos. Pois então, não é verdade que existe neste país um energúmeno que desde 1997 cobrava 5 euros por refeição, à custa dos campeonatos não ganhos pelo Benfica! Aparentemente, “bóia” completa incluindo o bagacito terminal – e viva o preciosismo jornalístico. Está claro que o editorial da mais generalista (o que quer dizer esta palavra?) das tevês cá da terrinha não ia perder a oportunidade de continuar a estupidificar as massas com mais este petisco. Aposto que em poucos minutos houve pelo menos dois ou três lagartos, donos de tascas, a fazerem os seus votos de repasto ou bicazita a preço constante até à próxima vitória do Sporting.

Explicação simplista do que foi a Idade Média: período negro da História entre o final dos jogos de Circo e a descoberta do Futebol. (durante o Renascimento, havia o Palio)

sound-bytes

1990 foi o ano em que, juntando os tostões amealhados dos presentes monetários de tios e avós, comprei a minha primeira aparelhagem com leitor de CD. Era uma Sony baixa-gama de três blocos que me custou exactamente 100.000 escudos numa loja das Amoreiras e tinha uns magníficos 45 watts de potência. (pura curiosidade, acabei de encontrar o modelo à venda no eBay com base de licitação de 2,5 euros!).
Veio substituir o gira-discos que me ocupava metade de um bloco de armário, em que a garantia de som quasi contínuo era assegurada por um objecto único, em forma de caneta, cujo mecanismo incompreensível permitia ouvir sequencialmente três discos vinyl, ou melhor, as três faces que ficavam para cima quando se montava “a pizza”. Pois a bela da Sony foi devidamente amortizada ao longo de 9 anos – sujeitando-se a pelo menos dois arranjos que devem ter custado tanto quanto o preço original – passando à reforma com a aquisição da compacta Denon de 100 watts – evidentemente, com três imprescindíveis gavetas de CD capazes de assegurar o som do menino horas a fio, i.e., em rotação contínua até fartar.
Ora se ao longo desses anos foi necessário alimentar os apetites vorazes destas máquinas, com visitas frequentes à Valentim de Carvalho (ainda existe?) e à Fnac, a partir do momento em que a boa da Denon se deixou ligar ao PC cá da casa, deu-se a transição radical para o .mp3. A colecção formato Compact Disc acumula pó ou faz viagens ocasionais de popó e a ligação ADSL assegura o download de sound-bytes suficientes para uma vida eterna.
E hoje, encontrei uma preciosidade memorável: o concerto dos Trovante no Pavilhão Atlântico em 1999, cheio das eco-anomalias (aqueles sons estridentes do microfone demasiado próximo do altifalante) e da intensidade da causa timorense de que me recordo, e senti a mesma estranheza da altura quando o Represas e meia dúzia de alentejanos começam com o militante “Chão nosso libertado / revoltado / agitado…”.

Tuesday, May 17, 2005

ópio do povo

Dou um giro pela blogosfera e concluo que, como não poderia deixar de ser, na bela nação à beira mar plantada o tema do momento é o derby do fim-de-semana. Como não pretendo falar de bola no Ripples, limito-me a dizer: eu estive lá! Lá, na “catedral” que até aos 83’ mais parecia um sepulcro e que depois aguentou em pé até ao apito final. Se o merecíamos? Em boa verdade, não. Mas depois de aturarmos a “lagartagem” semanas a fio, soube-me bem esta segunda-feira em que sem xingar os verde-brancos lhes pude mostrar o meu sorrisinho pepsodent-cínico-nº-1-0. Embora não vislumbre o paralelismo, rendo-me ao erudito “tio Marcelo” com o seu: Audaces Fortuna Juvat. E zuca… já está!

Friday, May 13, 2005

deus do céu!

Ora aí está um candidato a pior filme do ano: Kingdom of Heaven ou "Reino dos Céus". Valeu a companhia, boa e cheirosinha.

Wednesday, May 11, 2005

Babel

Gosto da alegoria bíblica da Torre de Babel. Basicamente, a humanidade do tempo em que a Terra ainda era hipoteticamente plana decidiu unir-se em torno de uma grande causa e construir uma magnífica torre para chegar ao Céu.

The view from here's breathtaking
My visions all surrounding
The humans look like insects
There is only one way down
But it's cold and lonely in this stratosphere

Deus, chateado com a presunção do Homem, decidiu confundir a linguagem e pôs os construtores a falarem diversos idiomas. Os homens deixaram de se fazer entender e a torre ruiu.

And it's whispered that soon, if we all call the tune
Then the piper will lead us to reason
And a new day will dawn for those who stand long
And it makes me wonder...

Tuesday, May 10, 2005

já fui brilhante

Esta manhã dei por mim, a caminho do escritório, a constatar que “já fui brilhante”. Mas já não sou. Já não sou mais. Tive a porra de uma entrevista telefónica com o director de qualquer coisa semelhante ao “Internal consultancy department” de uma das maiores multinacionais do planeta, uma mesmo do top30 do ranking Business Week 2004, para uma posição daquelas que devem dar mesmo pica – reporting directo a nível do VP, interacções por essa Europa fora e nos States, package até 55kGBP, etc. Pois, como está bem de ver durante os 30 minutos de tempo de antena, parecia um borrego afectado por encefalopatia espongiforme. Enrolei o meu inglês todo, disse duas ou três banalidades e cheguei ao final a desejar que o suplício terminasse rapidamente. Já no outro dia, quando decidi rever os brilhantes reports que produzia há uns anos atrás, tinha tido esta estranha sensação. Hoje em dia, praticamente não sou capaz de produzir nada de verdadeiramente útil sem me inspirar em coisas que fiz (ou outrem fez) no passado e recorrer ao “copy-paste”. Sou um zero à esquerda. Acabou-se. E se me vou safando em estilo é porque ainda sou um “favorito da fortuna”, i.e., a sorte protege-me. Mas porquê? Na escolinha primária era tão bom que me dava ao luxo de ser “distraído” – pelo menos é o adjectivo que me ficou das cadernetas escolares e até servi de case-study a uma grupeta de psicólogos estagiários. Até ao 9º ano, era, em parceria com outro Ricardo, o 2º melhor da turminha – quase tudo cincos e despreocupado porque achava a “número um” um encanto. Do 10º ao 12º mantive-me nos 20% do topo – os outros eram mais ou menos nerds (sorry folks!) excepto a minha namoradinha. Entrei para a universidade sem muito estudar e ainda assim com 15 pontinhos de margem – é certo que contando com 6 da bonificação. Por lá me arrastei em desespero – quem maus hábitos cria… E depois, viva o mercado de trabalho: desde que se goste disto, é sempre a subir e viva os aumentos chorudos. Mas a verdade é que o brilhantismo se perde por volta dos 27 – como demonstrado no Pravda do capitalismo moderno:

Bom, no caminho para casa tive um assomo do brilhantismo perdido e decidi escrever ao senhor entrevistador – que ainda para mais era excepcionalmente simpático – a destacar as excelentes capacidades – que já não possuo – e que o devem convencer a contratar-me. Pois, como diria o outro: “Alea jacta est”.

Sunday, May 8, 2005

céu de baunilha

Chego a casa e dou por mim a ver a última parte do “Vanilla Sky” na TV. Há uns anos atrás vi o original “Abre los ojos” após recomendação de um amigo espanhol cinéfilo. Pareceu-me básico mas ainda assim encantador. Em síntese, gostei. O adultério da versão “américa” põe-me a pensar se este espaço-tempo de vida vivida numa sociedade condenada à visão hollywoodesca das coisas resultará em algo de positivo?

Buscando resposta, embora contrariado, recorro a “postar” uma das mais belas musiquinhas dos James (estes pelo menos são bifes) – Alaskan Pipeline:

You might as well surrender now
You'll never hold that stance
With all my words
I can't find one
To help you understand
It's not too late
Take up the cup
Put down your weapons and choose
But you say," life's so unfair"
All you say is "life's so unfair."
Oh you can ill afford to hold to these views
Oh you need something to blame
But it's you, yes it's you
It's your truth

Someone made you
I don't know if you're sick
I comfort. You runaway
My sympathy. You twist it.
You're reflex. Gets in the way.
You Mother me. I son you.
You act up. I can't get through.
These footsteps so ancient.
In your eyes I'm your infant.
Your ancient. Full circle.
In my eyes You're my infant.
Dead ball in our court
We've got a dead fall in our court

You just say, "life's so unfair."
You just say, "life's so unfair."
You need something to blame
But it's you, yes it's you
It's your truth

Wednesday, May 4, 2005

And the winner is…

Isto de se ganhar um projecto grande tem mesmo um gostinho especial. Não é bem como uma gala de entrega de prémios mas para os cinco da vida airada que passámos o início de Abril em maratona a fazer proposta e o resto do mês a produzir intermináveis adendas de esclarecimentos, o telefonema desta tarde trouxe ânimo e vontade de comemorar. E depois a notícia propaga-se e é ver as faces risonhas dos mais novatos a sentirem a “pica” do sucesso e o maldito – só funciona quando as coisas correm bem – corporativismo da consultoria. Até parece que esta vidinha faz sentido!

Thursday, April 28, 2005

the Board

“Gestores de topo portugueses estão entre os que recebem salários mais baixos na Europa…”
- rezava o dinheirodigital há uns dias atrás

Apesar de ainda curta, a minha carreirinha profissional tem-me dado oportunidade de ir contactando amiúde com alguns destes “gestores de topo portugueses”. Em alguns casos até os vi vir e ir mas quanto ao vencer…
Já conheci daqueles que se preocupavam com a demasiado bela vista que a grupeta dos consultores desfrutava do alto das “suas” torres envidraçadas. Dos que prolongavam eternamente as reuniões para vencerem pelo cansaço a oposição. E dos outros que se vingavam dos almoços solitários fazendo rolar cabeças. São, regra geral (ou pelo menos a partir da minha amostra), gente solitária e ao mesmo tempo muito sociável. Sempre demasiado distantes da realidade dos factos e conhecedores apenas da superfície supérflua dos temas e ainda assim com pretensões de tomarem as decisões estratégicas correctas – valha-lhes a boa intenção. Com eles aprendi, e pretendo não esquecer, que mais vale um bom líder do que um futurologista iluminado. Que as grandes ideias vêm sempre de baixo, em particular, das mentes não viciadas. Que em qualquer fórum há que agitar as águas para se ver o lodo de forma clara. E que nos exércitos nem sargentos nem tribunos podem “perder a face”. Como disse o velhinho Drucker: “O desafio do gestor é obter um total maior do que o somatório das suas partes” – paguem-lhes então por isso.


Monday, April 25, 2005

1974

Peguei em dois CDs da Rickie Lee Jones e saí de cada inspirado pela noite de lua quasi cheia num céu descoberto. Coloquei o “Pop Pop” no leitor e arranquei a caminho do cafezito com os amigos. Um pouco de conversa da treta e rumámos ao Estado Líquido. Praticamente vazio, parece que Lisboa se mudou para o Algarve. Sai um vodka limão e dois dedos de conversa fútil. Música demasiado alta e estômagos vazios, vamos ao pão-com-choriço. Mal cozido, sabe bem. Calçada do Combro. Empatados pelo carro do lixo. Apesar de haver pouca gente não tá fácil arranjar lugar para estacionar. Parque com ele. Largo do Carmo, festa comemorativa do 25. Ouve-se mais castelhano do que português. Apetece-me gritar “viva Salazar” só para provocar – e verificar se alguém decifra a língua de Camões. Não o faço, sou cobarde. Vamos lá ao Suave. Mais “pouca gente”. Whisky & Cola, para variar. Voltinha ao quarteirão, para ver se está mais animado. Nem por isso, muitos miúdos na Tasca do Xico e os gays do costume no Slide. De volta ao Suave. Isto não anima. Falta a conversa, vamos mas é para casa. Ainda há resquícios da comemoração no Carmo mas já não me apetece fazer a experiência. Conduzo ao som de “Spring Can Really Hang You Up the Most”, parece-me apropriado. Encontro a Maria no messenger e gosto da conversa – Lost in translation. Bom feriado. Espero que faça sol para ir comer umas amêijoas até uma praia qualquer.

Saturday, April 23, 2005

keep it simple

Um dia pensei tornar-me simples, desisti… tive medo de deixar de ser humano.
- by nídio amado



É bem verdade: progresso rima com complexo.

Pergunto-me muitas vezes o que faria um espécimen culto dos tempos actuais se recuasse uns séculos. Assim tipo, um engenheiro com um mínimo de conhecimento sobre os princípios do motor / máquina a vapor, teletransportado (ou será tempotransportado?) para a Idade Média. Arranjaria uma panela e alguma forma de a vedar – muito bem! Deixaria a água ferver até se transformar em vapor e depois tentaria canalizá-la para um pistão. Pistão? Mas que raio significa um “pistão” em plena Idade Média!? Como construir um pistão / êmbolo sem as técnicas de fundição que demoraram centenas de anos a aperfeiçoar?

Mais complexo? Electricidade. Vamos lá então tentar produzir (sem falar no dar uso a) energia eléctrica na época dos imperadores romanos. Pois é fácil, faz-se um papagaio de papiro, aguarda-se por uma bela tempestade de trovoada e lança-se o dito cujo preso com fio de arame. Fio de arame, no tempo dos romanos? D’oh! Como raio se faz um simples fio de arame levezinho!? Pelo menos não há choques para ninguém, valha-nos isso. (Excluo a hipótese de produzir energia eléctrica a partir de um moinho de vento ou de água porque um Dínamo é ainda mais complexo de arranjar)

Menos complexo? A Roda na pré-história. Pois, é só arranjar um pedacinho de pedra jeitoso e lascar a coisa durante uns meses largos – enquanto o companheiro do lado se dedica a desencantar alimento para o pretenso engenhocas – até se conseguir um fabuloso monociclo. Serve para quê, mesmo?

Ora se o bom do Leonardo da Vinci, ou outros génios anónimos, foram tempotransportados, devem ter sido cá uns frustrados.
Não passamos de uns simbióticos, inteiramente dependentes do supermercado da esquina e dos produtos made in China, quais formiguinhas alojadas num torrão de areia.


Thursday, April 21, 2005

Haagen-Dazs

Crescemos a comer gelados. No início dos tempos era o “Epá”, sabia a nata e trazia uma pastilha dura de trincar no fundo – adorava a mescla do corante-pastilha-cor-azul com o gelado derretido. Nos dias mais abafados comiam-se 2 e 3 daqueles gelados só de água e sabores de laranja ou ananás que custavam 2 escudos e quinhentos e consumiam a parca semanada. Na praia, deixava-se o belo do “SuperMax” meio derretido substituir o açúcar lambuzado das bolas de Berlim e ao final do dia atrevíamo-nos a experimentar as riscas garridas do belo do “Perna-de-Pau”. Aos fins-de-semana havia esporádicas visitas à Pindô, que era então a melhor geladaria de Lisboa. Isto antes de se comprovar que definitivamente não havia melhor do que o copinho de limão e chocolate do Santini em Cascais. Nas férias, o delírio passava pela visita nocturna às geladarias da marina de Vilamoura. E depois, por alturas da idade das parvoíces, apareceu o “Calippo” de que se guardavam religiosamente os últimos blocos de gelo, para derreterem, e se matar a sede no final. Na idade dos amores eternos eram as “Conchanatas” da Avenida da Igreja e o arrebatador Magnum cuja versão amêndoa esgotava demasiado depressa. E finalmente fomos invadidos pelos muito mais evoluídos Baskin&Robbin e pela Haagen-Dazs – o que eu não dava para morar mesmo por cima duma lojinha da Haagen-Dazs, para poder descer em cada noite e deleitar-me com um crepezinho Belgian Chocolate, topping de nata e amêndoas torradas regado com chocolate fudge. Seria feliz.

Tuesday, April 19, 2005

time is the unique real illusion

The objects that astronomers study have only been in existence for the past 5 billion years, a mere quarter to half of the age of the Universe.

Sunday, April 17, 2005

placebos

The human mind is quite astonishing. There are those times when you feel so absorbed by an idea or thought that everything else seems to pass you by and then, when you’re not ready at all for the unexpected, someone just comes your way and you forget all the worries and start afresh. Placebos are that great.

Saturday, April 16, 2005

black Swan

PR num barzinho catita da rua das janelas verdes - smells like teen spirit and Nivea body-milk!

Friday, April 15, 2005

Bom filme

The Interpreter. Mais do que pela beleza demasiado estereotipada da Nicole Kidman, em companhia da cara-tirem-me-deste-filme do Sean Penn, vale pela moral da cena final – ou porque os ditadores africanos perdem a inocência dos ideais Maio de 68 e se transformam em usurpadores da dignidade humana. Afinal de contas, tudo resulta da crueldade dos instintos animais que persistem no espírito do Homo Sapiens mesmo após alguns milhares de anos de destilação.

Wednesday, April 13, 2005

Gross National Happiness

Leio num número já antigo do Economist que no reino do Butão – encravado entre a Índia e o Tibete, à longitude do Bangladesh – o monarca castiço aplica o indicador da Gross National Happiness (GNH), por oposição ao GNP, para medir o grau de felicidade existencial dos seus súbditos. O conceito atrai-me.
Por estes dias em que se começa a sentir o cheiro da Primavera a chegar, quando as melhores horas do dia correm, ainda céleres, entre as 7 da tarde e as 9 da noite, período em que a brisa que vem do mar / rio invade lentamente o abafo do dia citadino, parece-me que talvez não ficássemos mal posicionados nas estatísticas GNH.


Tuesday, April 12, 2005

and I keep on counting sheep

“Love makes the world go round and I want it to spin like never before”
- by Rute

Well it kept on spinning, for you and for me. Happy birthday, my love. And blauen Blumen too.


Monday, April 11, 2005

Aftermath

Hate the stupid sensation when, after spending a fortnight working like hell, all too suddenly a vacuum appears in my schedule and there’s enough time left to read postponed email messages and to think about professional goals or expectations. Because then, you realize that maybe things aren’t going the way you desired and you’ve probably been wasting lifetime.
As every chemist or alcoholic knows, Quality dilutes when there are too many – must try to keep this in my mind.


Sunday, April 10, 2005

mais um Carneiro

Parabéns Pai, hoje fazes 61 e creio que tens sido feliz à tua maneira. Como qualquer progenitor fizeste do "barro" obra e como eu não mudava nada da minha personalidade, saíste-te bem. Obrigado.

Friday, April 8, 2005

Pareto Principle & Lavoisier Law

Dois princípios básicos para a compreensão da causa das coisas.

Vilfredo Pareto viveu no final do séc. XIX numa bela Itália em tons de ocre, acabadinha de ser unificada pelo bom do Guiseppe Garibaldi (Guiseppe é fabuloso, não é?).

Antoine Lavoisier divertiu-se à grande (e à francesa) a fazer experiências químicas na época de la Revolution Française.

Ora o bom do Vilfredo, filho de boas famílias (era marquês), depois de ter estudado umas matemáticas lá para as bandas de Torino e de se ter posto a analisar a produtividade da Itália rural, chegou à brilhante conclusão de que 80% da terra cultivável era propriedade de 20% da população mas no entanto 80% da produção agrícola provinha dos 20% que não estavam nas mãos dos tais 20%.
Confuso? Bem, esta é a explicação simplista da coisa, porque na realidade havia por aqui um pouco de crítica social aos lorpas da aristocracia que não faziam nenhum com os 80% das terras que possuíam (isto para não complicar ainda mais, porque às tantas o menino deu três piruetas e decidiu aplicar a teoria aos pobres dos italianos e serviu de ideólogo ao regime fascista que estava para vir).
Aplicação prática da teoria: significa que, por aproximação (ou mais correctamente aplicando a Distribuição de Pareto), 80% das receitas de uma empresa estão concentrados em 20% dos produtos que produz ou vende.
Outra: 20% dos colaboradores de uma organização fazem 80% do trabalho da mesma. Nice to know it, hem?
Eu pessoalmente aplico-a aos investimentos: 20% do capital em aplicações de risco à espera que gerem 80% dos rendimentos (never happened, D’oh!).

De volta ao Antoine, enquanto observava as cabecinhas a rolarem na guilhotina (final também aplicado à sua bela melena) formulou a seguinte teoria: “no Universo, nada se perde nada se forma, tudo se transforma”. Belo, simples e acima de tudo verdadeiro. Em termos menos simplistas, corresponde à lei do equilíbrio químico ou da conservação da massa.
Aplicação prática (subvertida para fazer rimar Lavoisier com Pareto):
1) A empresa duraria pouco se deixasse de produzir os 80% menos rentáveis;
2) A organização não sobreviveria apenas com os 20% mais produtivos;
3) Para eu ganhar algum com os 20% do capital de risco, alguém tem que perder o seu.

It’s a beautiful World!


Tattoos

Esta noite fui ao teatro. A peça era divertida com umas actrizes engraçaditas da nossa praça, entretidas a mostrarem as barriguitas, eis senão quando descortino uma piquena tatuagem pregada a escassos 5 cm. do umbigo da giraça de serviço.
Não consigo entender porque cada vez mais gente adere à tattoo – em particular as miúdas. Faz-me confusão como alguém decide “imprimir” na própria pele um qualquer símbolo, quiçá carregado de significado momentâneo e no entanto consciente de que se trata de uma marca para todo o sempre. Dizem que é uma forma de expressão. Parece-me primitiva e recorda-me sempre um filme qualquer em que a protagonista gravava, à custa de pigmento, “John” numa nádega, para afirmar a sua convicção de amor eterno e por causa disso não conseguia assentar com nenhum dos amores seguintes até ter a sorte de conseguir adaptar a coisa para “Johnatan”.


Wednesday, April 6, 2005

Clientes e Fregueses…

Na antiga Roma um Cliente era alguém que dependia da protecção de um Patrício. Tratava-se, muitas vezes, de um escravo livre que não possuindo o estatuto de cidadão, recorria à boa vontade do patrono para ascender socialmente ou simplesmente sobreviver, pagando um tributo quer em espécie quer através da prestação de serviços – um arranjinho em muito parecido ao do mundo da Máfia. Vá-se lá saber porque razão, ao longo dos tempos a palavra assumiu lentamente novo significado e com a maturidade do Capitalismo o Cliente tornou-se rei. No belo mundo da consultoria, durante os primeiros 100 anos, também existiram “Clients” que, subitamente, por volta dos idos de 90, se transformaram em “Customers”. A diferença? Basicamente, as duas palavras são sinónimas mas em termos práticos o Cliente-rei, que aceitava tudo o que lhe enfiavam pela tripa, ganhou inteligência e passou a querer produtos e serviços à medida. Libertou-se, desta forma, da protecção benévola e desatou a exigir o impossível. Como nestes tempos sagrados o impossível é palavra proibida, o bom do consultor adaptou-se, para sobreviver, e aprendeu a fazer das tripas coração uma rotina. Pelo caminho perdeu-se, está-se mesmo a ver, a inocência e consequentemente a qualidade. Nós por cá temos ainda um sinónimo mais perigoso que é o Freguês (por esta pago direitos de autor ao PJ). Ora o freguês está, para mim, definitivamente associado aquela imagem do velhote encostado ao balcão da taberna a debitar conversa sem nexo, enquanto pede mais um copo de tinto ou uma nova sandes de couratos, para no final pagar a fiado. Pois o freguês abunda por estas paragens e lentamente faz-nos retroceder ao estado característico do Portugal do século XIX. Existirá maneira de nos vermos livres deles?

Monday, April 4, 2005

parabéns princesa

Muitos parabéns Silvia!

Sunday, April 3, 2005

Sleep well my “friend”

I’m quite sure this is the theme of the day in the blogsphere. Anyway, my “friend” Karol is dead – as a 7 or 8 year old kid, I was kissed in my forehead by the Man in white. Since there are a couple of scientists – the most trustworthy class on Earth – who say that J.C. died on the 3rd of April of 33 A.D. – date determined because the moon went red on that long gone day (a moon eclipse tends to filter all light outside the red spectrum) – I was fearing that the ever-adapting Vatican could be trying to postpone the announcement for some hours! Anyway, religion scares me and I’ll get back to this subject some day – right now I’m to sleepy to get on with it.

Sleep well my “friend”.

Friday, April 1, 2005

bring back the bicycles!

Beijing traffic jams get worse by the day as ever more people own cars. So impatient and unskilled are most drivers that a typical visitor will witness several collisions a day...

just browsing... beautiful photos

Tabacaria

Wednesday, March 30, 2005

Back to atoms - LEg GOdt

“Deus não joga aos dados mas não recusou algures na sua infinita infância inventar mundos de Lego”

Mede 9,6 por 32 por 16 mm, o que resulta em qualquer coisa como 4,9152 cm3. Foi-lhe atribuída a patente 92683 nos idos de 1958. É de plástico, de que outra matéria poderia ser uma das peças que sustentam este século XX? Sabemos, de fonte segura, que Deus não joga aos dados. Não recusou, contudo, algures na sua infinita infância inventar mundos de Lego – que tem origem no dinamarquês LEg GOdt, brincar bem, mas que em latim significa “eu junto”, um símbolo desde logo.
No princípio era a madeira, pequenas peças que o carpinteiro Ole Kirk Kristiansen, na pequena cidade dinamarquesa de Billbund, construía desde 1932 a pensar nos mais pequenos. Veio a guerra e com ela o revolucionário plástico. Os anos cinquenta viram nascer uma série de elementos interligáveis que reduziam à escala de uma mão veículos, árvores e figuras. Os outros sistemas queriam mudar o mundo ou apenas conservá-lo, o “sistema Lego” reproduzia-o. Mas faltava ainda uma ideia, os pinos que permitiriam a maravilha: o encaixe. Por coincidência, a década da contestação seria a mesma da imaginação. Só então o Criador pôde descansar. Os mundos estavam entregues aos miúdos.
As linhas da peça possuem a beleza e estabilidade de uma coluna clássica, mas feita de ABE (acrilonitrilo butadieno estireno), um novo produto que é mais estável e possui melhores cores. E a possibilidade de as colar umas às outras tem a natural genialidade de uma célula. Simples como um pedaço de madeira, estimulante como uma escultura, ágil como um braço mecânico, a peça de Lego de oito pinos é uma espécie de ADN da imaginação. Permite tudo: ser arquitecto das alturas ou demiurgo pisador, traficante de armas fabulosas ou escultor desmedido, inventor de catástrofes ou mecânico de automóveis, piloto de naves espaciais ou criador de monstros genéticos. São 102981500 as combinações possíveis com seis peças de oito pinos da mesma cor… Com três peças passam a 1060 hipóteses e, com duas, serão apenas 24 as possibilidades. Parece pouco.
As palavras dos especialistas dirão do bem que faz aprender a pegar nas peças, descobrir como as juntar, combinar as cores, saborear tudo, destruir e reorganizar, enfim, gastar horas eternas a brincar. Neste momento, duas gerações depois do fundador, a Lego é um gigante da economia mundial enquanto fabricante de brinquedos, gerindo parques de atracções e linhas de roupa, mas isso são detalhes. Apesar dos inúmeros prémios que o carácter pedagógico arrecadou, está por avaliar a mudança no entendimento acerca das possibilidades das coisas deste mundo que o Lego motivou em sucessivas infâncias.
Algum do encanto se foi perdendo à medida que se complicava o simples, por exemplo com a roda (1961), o comboio (1966), Duplo (1967), as figuras (1973), Technic (1977), Legoland (1978), Light & Sound (1986). Era inevitável, mas manda a esperança que se olhe com atenção para Mindstorms, que soma as possibilidades do computador às infinitas possibilidades do design. A peça que suportou grandes mundos pode agora, por via da robótica, mover-se, agir e até decidir por sua conta e assim construir uma ponte entre milénios. Precisará para isso da imaginação. A mesma que “já fazia” mover, agir e até decidir por sua conta a pequena peça de plástico.
- Autor desconhecido

Sai um plágio. Monumental peça de escrita publicada no bom do Indy, quando este ainda era o meu jornal de referência – como então me dei ao trabalho de o copiar, parece-me apropriado eternizá-lo no etéreo da blogosfera.

Tuesday, March 29, 2005

Parlem una mica da català?

"Bilinguisme es feixisme"
- Graffiti on a wall, Barcelona 2001

A tribute to all my friends in Catalonia. After spending a whole day listening to the rude language of Cervantes, I must admit that “bilinguisme” must have been a pane in the ass to grow up with – no offense fellow Castilians!


1st things first:

Parabéns Rodrigo!

Monday, March 28, 2005

Olhó belo do atum no mercado de Guangzhou!


Ramirez prepara entrada na China e adopta lata «mais patriótica»

Os EUA e Canadá são as mais recentes apostas na exportação das conservas Ramirez, depois de concluídos os morosos processos junto das autoridades alimentares. A empresa adaptou sabores e já vende para o Japão, e este ano quer encontrar um distribuidor quecoloque os seus produtos nos lares dos 1,3 mil milhões de chineses, noticia o Expresso na edição desta sexta-feira.

Além dos objectivos da exportação, o artigo refere que a empresa conserveira vai passar a exibir as cores da bandeira nacional nas suas latas de conservas, para vincar a origem portuguesa. O logótipo, em tons de vermelho, surgirá num novo fundo verde, «num sinal de orgulho patriótico, sublinhado pela assinatura taste pt», refere o Expresso. O novo visual chegará este mês ao mercado, com o novo lançamento do mais recente produto da Ramirez, os filetes de sardinha, que eleva para 55 o número de referências. A mudança estender-se-á depois a todas as suas conservas, desaparecendo o fundo azul de mar ou amarelo.

Com unidades em Leça da Palmeira e Peniche, a conserveira vende por ano 40 milhões de latas, distribuídas pelas suas 14 marcas, algumas das quais criadas para mercados específicos como o árabe ou do Benelux. A facturação é de 20 milhões de euros.

Ainda, segundo a mesma fonte, a marca Ramirez tem uma facturação de 20 milhões de euros, representa metade do volume de vendas e exporta 45% da produção.
- In diáriodigital



Pois, tá-se mesmo a ver o bom do chinês a vaguear pelo mercadinho de Guangzhou, repleto de iguarias – exóticas para o bárbaro do ocidental: gafanhoto, louva-a-deus, libelinha gigante, cogumelo seco-ao-sol, gatinho riscado ou tartaruguinha de olho vermelho – a coçar o cocuruto perante a latinha vermelha e verde “taste pt” e a pensar para os seus botões “humm... Ramirez tuna fish, hadn’t seen this since the old sailor offered me that wonderful tin of Tenório, in the old sixties – got to buy it!”

Sunday, March 27, 2005

Blog this…blog that…



fact:
In 1984 a report by ..., a consultancy, claimed there would be fewer than 1 million wireless phone users by 2000. In fact, there were 740 millions.

Quanto a Blogs, as of March 2005, parece que existem mais de 7,8 milhões e que são criados entre 30 a 40 mil por dia – wow, impressive! Continhas à consultor: admitindo 6.000 milhões de alminhas na Terra, alfabetismo total, proliferação de acesso à internet, população constante (pois, pois!) e considerando que metade dos bloguistas teriam dois blogs... faltam exactamente 939 anos para que todos tenhamos um Blog – D'oh, not that impressive! Better start now...

sic



A physicist is the atoms’ way of thinking about atoms.
- Anonymous